Caro Investidor!

Licença, investidor. Falaremos de recompra de ações, mas antes, não tem como deixar de fazer alusão à obra-prima de Walter Salles, Ainda estou aqui, que vai concorrer ao Oscar de melhor filme internacional; melhor atriz, com a nossa Nanda Torres; e pela primeira vez na história do maior evento do cinema mundial, também estará na briga de melhor filme. Foi a notícia dos últimos dias. Depois da queda do dólar abaixo de R$ 6 na quarta, 22, o anúncio da Academia no dia 23, somou-se à alegria geral da nação. 

Seguimos na torcida, tanto pelo filme (a grande festa é no domingo de carnaval, 2 de março), quanto pelo dólar se manter em um patamar “normal”. Mas a conversa nossa é recompra de ações. A título de curiosidade, o filme custou R$ 8 milhões e já arrecadou R$ 72 milhões.

Bem, no ano passado, os investidores estrangeiros fugiram da Bolsa brasileira, assim como os institucionais e, neste mesmo tempo, a onda da recompra de ações foi surfada por muitas empresas. Segundo o especialista em investimentos do Acionista, Gustavo Guerses, os motivos foram os valuations descontados e a oportunidade de aproveitar preços atraentes para gerar valor a seus acionistas.

Mas o que está acontecendo?

Conforme Guerses, este cenário diz muito sobre o pessimismo que parece que tomou conta de alguns gestores brasileiros. “Enquanto empresas estão comprando suas próprias ações, gestores, como é o caso do Fundo Verde, estão vendendo bolsas brasileiras.”

Então, esse movimento de recompra é positivo ou negativo? O movimento dos gestores é uma tendência para o futuro ou um movimento atrasado?  É hora de comprar, esperar ou vender? Conversamos com especialistas para responder a essas perguntas.

Em via de regra, a recompra de ações normalmente ocorre quando o mercado está em baixa e as empresas enxergam suas ações depreciadas e aproveitam disponibilidades de caixa para investirem em suas próprias ações com objetivo de manterem em tesouraria ou para eventual cancelamento futuro. 

Para Mario Mariante, analista-chefe da Planner Investimentos, o efeito é positivo para os acionistas que, com a redução da base acionária podem ter aumento nos retornos com aumento na distribuição de proventos. “Com o desempenho ruim da bolsa em 2024, muitas companhias anunciaram abertura de programas de recompra de ações, a maioria deles ainda em andamento.”

No que diz respeito aos gestores, Mariante afirma que a piora no cenário doméstico, “com a crise fiscal em discussão e ainda não resolvida, os juros elevados, os embates do governo com o Congresso, as várias derrotas nos projetos do governo e o ambiente de incertezas dominante neste começo de ano, minaram a confiança dos grandes investidores em bolsa”. 

O analista destaca que a B3 vem perdendo liquidez ao mesmo tempo em que a renda fixa vem aumentando a captação de recursos com um volume expressivo e mostrando a continuidade deste processo em 2025. “Enquanto não houver uma referência positiva, a tendência é de um mercado ainda mais seletivo, no que se refere à compra de ações.

A queda acumulada em 2024 e neste começo de 2025, resulta em boas oportunidades em papéis de boa qualidade e com histórico no mercado”, comenta Mariante.

Quanto à terceira pergunta (hora de comprar, esperar ou vender?), o analista responde que as fortes perdas registradas na grande maioria dos papéis, já proporcionam boas oportunidades para investimentos em bolsa com visão de médio e longo prazo. “Contudo, vemos ainda muito ceticismo de investidores em relação ao que vem pela frente. O mercado ainda depende da definição de orçamento do governo para 2025, percepção do comportamento da economia, desempenho das empresas etc. O endividamento das empresas tende a ser mais pressionado com a manutenção do dólar em patamar elevado e pelas projeções pessimistas para os juros.”

É uma estratégia

De acordo com Paulo Cunha, CEO da iHUB Investimentos, essa onda de recompra por parte das empresas é sempre vista de forma positiva, “porque sinaliza que a gestão, os fundadores e a própria companhia acreditam no potencial do negócio. Além disso, demonstra que consideram as ações subvalorizadas”. 

Cunha comenta que esse tipo de iniciativa costuma ser bem recebida pelo mercado, já que “reduz a pulverização de capital na bolsa, o que, por sua vez, tende a valorizar as ações, especialmente quando estão descontadas”. O especialista considera que a recompra é uma estratégia que agrega valor no longo prazo, considerando o cenário atual, onde muitas empresas estão sendo negociadas abaixo de seus valores patrimoniais.

Além disso, sobre esse movimento das empresas recomprando suas ações enquanto gestores de fundos vendem,  Cunha ressalta que é importante entender que os estímulos são diferentes e explica: “as empresas têm uma visão de longo prazo sobre seus próprios negócios, enquanto os gestores precisam responder às dinâmicas de curto prazo do mercado e aos resgates dos cotistas”. 

E mais, o especialista destaca que muitos fundos, especialmente multimercados e de ações, sofreram perdas significativas com o movimento de queda da bolsa, e precisam ajustar suas posições rapidamente para mitigar riscos imediatos. “Já as empresas, ao recomprar ações, estão focadas em criar valor a longo prazo, aproveitando o momento de desconto.”

Entretanto, ele comenta que isso não significa que os gestores não reconheçam o potencial de valorização das empresas listadas na bolsa brasileira. “Eles sabem que muitos papéis estão sendo negociados a preços atrativos e com boas teses de investimento para o longo prazo. No entanto, como gestores, eles não têm o mesmo tempo para esperar que essas valorizações se concretizem, especialmente diante da pressão de resgates. Assim, enquanto os gestores priorizam estratégias de curto prazo, as recompras corporativas refletem uma visão estratégica mais ampla”, explica Paulo Cunha.

O exemplo da Gerdau

A Metalúrgica Gerdau (GOAU4) divulgou por meio de Fato Relevante que o programa de recompra de ações de sua própria emissão, denominado Programa de Recompra 2024, chegou ao fim, tendo adquirido um total de 33.000.000 ações preferenciais (GOAU4), ao preço médio de R$ 10,65 por ação, o que representa 100% do que foi previsto no programa.

Além disso, a empresa também anunciou que foi  aprovado o Programa de Recompra 2025. As ações a serem adquiridas totalizam 6.000.000 de ações preferenciais, representando aproximadamente 1% das ações preferenciais em circulação. O prazo para aquisição das novas ações teve início em 22 de janeiro de 2025 e se estenderá até 22 de janeiro de 2026, com um máximo de 12 meses para a execução do programa.