Como brasileiro morando nos Estados Unidos e um economista interessado nos estudos sobre riqueza e pobreza, eu fiquei particularmente inspirado com o Prêmio Nobel de Economia em 2024, que foi concedido aos pesquisadores Daron Acemoglu, Simon Johnson e James A. Robinson, que estudam as diferenças entre as nações.
Eu já conhecia as ideias desses pesquisadores, que são do MIT e da Universidade de Chicago. Para quem tem interesse em se aprofundar, eu recomendo a leitura do livro “Por que As Nações Fracassam: As Origens do Poder, da Prosperidade e da Pobreza”, escrito por Acemoglu e Robinson e traduzido para o português pela Editora Intrínseca.
Os estudos desenvolvidos pelos três tentam responder por que algumas nações são ricas e outras são pobres e por que o abismo econômico é tão difícil de ser superado.
Essa não é a primeira vez que a economia busca explicar a desigualdade entre os países. A novidade está nas ideias originais que os pesquisadores emprestaram às explicações anteriores. Para entender as disparidades, é preciso analisar as instituições políticas e econômicas que foram implementadas em cada país desde suas origens.
Revisitando o passado, os pesquisadores descobriram que os colonizadores europeus estabeleceram dois tipos de colônia ao redor do mundo. Na primeira, o europeu criou instituições extrativistas. Na segunda, as instituições são chamadas deinclusivas. Nações que tiveram instituições extrativistas são mais pobres atualmente do que os países formados por instituições inclusivas.
Vamos ao exemplo do Brasil: a colonização portuguesa é marcada pela criação de instituições extrativistas, voltadas para exploração de recursos naturais e geração de riqueza para Portugal. É possível chegar a essa conclusão por uma série de fatores. Portugal, por exemplo, estabeleceu um monopólio na produção de riquezas como açúcar e ouro, limitando o desenvolvimento. O trabalho era forçado e com pouco incentivo para novos colonos migrarem. A participação política era quase nula e restrita a uma pequena elite colonial. Até hoje o Brasil sofre com as consequências da colonização.
Agora veja os Estados Unidos, cuja colonização inglesa foi marcada pelo estabelecimento de instituições inclusivas. Muitos dos colonos migraram da Europa para os Estados Unidos atraídos por oportunidades econômicas e liberdade religiosa. Existia uma distribuição de terras mais ampla em relação às colônias extrativistas até mesmo com direito à propriedade. As assembleias locais permitiam uma maior participação política, enquanto a diversidade econômica com agricultura, comércio e indústria favoreceu o desenvolvimento econômico de longo prazo. Também existiu escravidão e exploração indígena, entretanto, uma parcela maior da população já gerava inovação e prosperidade.
Acemoglu, Johnson e Robinson provam com seus estudos que existe interação entre instituições políticas e econômicas e que algumas são melhores do que outras para favorecer o crescimento e promover a estabilidade.
O exemplo mais clássico dos estudos do trio de pesquisadores é a cidade de Nogales, dividida pela fronteira entre México e Estados Unidos. Apesar das condições geográficas idênticas, no lado do México se observa falta de desenvolvimento, violência e corrupção. Já do lado americano, o que se vê é uma cidade próspera. Serve a mesma comparação para Coreia do Norte e Coreia do Sul, por exemplo, que desde 1950 operam com diferentes estruturas institucionais.
Na minha opinião, esse Nobel não se trata apenas de uma pesquisa que revela o passado, mas uma lição para quem pensa, define e constrói o futuro das nações. Se, no curto prazo, extrair valor se mostra mais vantajoso do que planejar o bem-estar das pessoas, no longo prazo, se enxerga uma reversão de riqueza, que demora mais para acontecer e, no entanto, é muito mais sustentável.