Qual o objetivo de um Relatório Anual que incorpore aspectos ESG (Environmental, Social and Governance)? Até o início dos anos 2000, os Relatórios Anuais tinham como foco apresentar os resultados econômico-financeiros e os principais dados operacionais do ano anterior. Duas décadas depois, os Relatórios Anuais deixaram de ser apenas uma fotografia do passado, passaram a integrar cada vez mais informações não financeiras e a serem fonte de consulta quanto à estratégia, os compromissos e as metas das companhias para os próximos anos.
Com o “boom” da temática ESG em 2020, que incorporou um forte viés econômico-financeiro em função da inclusão crescente do tema nas decisões de investimento, as empresas estão buscando cada vez mais demonstrar como estão alinhadas às melhores práticas ambientais, sociais e de governança corporativa.
E como demonstrar o alinhamento entre as questões relacionadas à ESG e a estratégia da companhia? Como avaliar se de fato as ações são perenes? Como garantir que os resultados obtidos sejam de longo prazo? Como demonstrar a geração de valor compartilhado entre empresa e sociedade?
Desde 2006, o padrão mais utilizado pelas Companhias para o reporte é o estabelecido pela Global Reporting Initiative (GRI), que tem como base a definição dos temas materiais a serem reportados, que passa pela análise da cadeia de valor da empresa e pelo mapeamento de impactos, necessidades e expectativas de seus stakeholders (partes interessadas).
As Normas GRI, ao apresentarem princípios que definem o passo-a-passo para que as Companhias incorporem os aspectos sociais, ambientais e de governança ao seu modelo de negócio, devem ser vistas não somente como um padrão para reporte de indicadores, mas também como um direcionador para um modelo de gestão voltado para a temática ESG.
A partir de 2013, quando surgiu o conceito de Relato Integrado, as empresas se viram impelidas a tratar de forma integrada as informações financeiras e não financeiras em suas divulgações, tendo como principal direcionador explicar aos provedores de capital financeiro como uma organização gera ou destrói valor ao longo do tempo, gerando subsídios para a tomada de decisões.
Assim, adotar os aspectos ESG na gestão inclui também verificar a coerência entre os conteúdos divulgados nos diversos relatos da companhia. O pensamento integrado demanda a integração de áreas, como, por exemplo, Sustentabilidade, Relações com Investidores, Planejamento, Comunicação, Governança e Contabilidade, para que as decisões, as análises, a coleta de dados e as divulgações sejam realizadas de forma coesa.
Importante ressaltar que as Normas GRI abordam os diversos aspectos tratados nos frameworks existentes, sejam eles relacionados a reportes associados aos impactos da mudança do clima, como CDP1 e Task Force on Climate-related Financial Disclosures (TCFD)2, por exemplo, quanto a reportes relacionados a impactos setoriais, como os preconizados pelo Sustainability Accounting Standards Board (SASB)3.
Sendo assim, ao utilizar as Normas GRI como padrão para reporte e atender aos princípios e orientações propostos, a Companhia estará atendendo também às diversas demandas e frameworks, pois os padrões não são excludentes e sim complementares. E, ao integrar de fato os aspectos ESG em sua gestão e ao pensar seus indicadores de forma integrada, as empresas estarão aptas a divulgar de forma adequada, completa e transparente seus processos e resultados obtidos.
Como dito no próprio Framework do Relato Integrado, “quanto mais o pensamento integrado estiver incorporado às atividades de uma organização, mais naturalmente a conectividade das informações fluirá para os relatórios gerenciais, análises e tomadas de decisão”.
Referências:
1 O CDP é uma entidade internacional sem fins lucrativos que que apoia empresas a dar maior transparência sobre seus impactos ambientais e climáticos. O questionário do CDP aborda diversas questões relacionadas à mudança do clima, tais como: responsabilidades, riscos, oportunidades, estratégia, ações realizadas, emissões anuais de gases de efeito estufa etc.
2 Iniciativa que elaborou recomendações para a divulgação e análise de riscos e oportunidades relacionados à mudança do clima.
3 SASB é uma organização sem fins lucrativos, fundada em 2011, que define padrões setoriais para comunicação dos temas mais relevantes considerando aspectos financeiros e de sustentabilidade
Por Regiane Abreu
Especialista em sustentabilidade, com mais de 25 anos de experiência no Setor Elétrico com atuação nas áreas de regulação, estratégia, sustentabilidade e RI. Economista pela UFRJ, com MBA em Gestão de Negócios para o Setor Elétrico pelo IBMEC/RJ, MBE em Economia e Gestão para a Sustentabilidade pela UFRJ e Pós-graduação em Eficiência Energética pelo CEFET/RJ. Trabalha a integração dos aspectos ESG ao negócio e às informações financeiras, sendo responsável pelos reportes e plano de ação ESG da Light S.A. na área de Relações com Investidores.