A Área de Relações com Investidores ou RI, como esta é chamada no âmbito das companhias com ações em bolsa de valores e do mercado de capitais, prevista pela Lei das Sociedades Anônimas (Lei n. 6.404, 15/12/76 e suas revisões), é focada nos relacionamentos entre a empresa e sócios não controladores (minoritários) e entre a primeira e os profissionais de investimento do mercado de capitais.

A Área de RI tem um papel básico, fundamental: ser canal de relacionamento entre a cúpula da companhia e os públicos citados. É comum que a função relações com investidores seja acumulada com diretorias financeiras de companhias com ações em bolsa de valores, mas este não é o único arranjo possível.

Como canal de relacionamento, a Área de RI deve operar diligentemente em dois sentidos opostos, como via de mão dupla, não se ocupando apenas de transmitir a visão da organização e dos seus dirigentes aos sócios não controladores e profissionais de investimento, mas também de trazer a visão desses públicos até a cúpula da organização. Assim trabalha uma Área de RI eficaz.

O esforço bidirecional acima citado tem o propósito de tonar o relacionamento entre duas pontas – cúpula e mercado – eficaz, profícuo, ajudando a empresa a viabilizar suas estratégias e os públicos externos a melhor compreender a organização e seus fundamentos. Um bom trabalho de RI, pautado pelos princípios clássicos de governança corporativa – transparência, equidade, prestação de contas e responsabilidade corporativa – tem grande potencial de ampliar o acesso das companhias aos capitais disponíveis no mercado e de reduzir o custo desses recursos para as mesmas.

O aprimoramento das práticas de RI dilata o canal de relacionamento entre a cúpula organizacional e os agentes do mercado, ajustando fluxos informacionais às condições específicas dos vários grupos de agentes. E há que reconhecer que esses agentes têm boas contribuições a oferecer para a dilatação do canal citado, de modo a favorecer concomitantemente os dois polos do canal de RI: a cúpula organizacional e os investidores e profissionais de investimento.

As áreas de RI têm, nas opções que a tecnologia oferece para uma comunicação ampliada, uma poderosa aliada. Exemplificando: companhias com títulos negociados em mercados de capitais internacionais podem promover reuniões com agentes desses mercados à distância. Aliás, as reuniões realizadas entre os agentes dos mercados de capitais – por vezes internacionais – e os profissionais de RI podem ser mais participativas do que as assembleias de acionistas promovidas anualmente (Assembleis Gerais Ordinárias ou AGOs) ou eventualmente, isto é, se necessárias (Assembleias Gerais Extraordinárias ou AGEs). 

Destaca-se que a atuação das áreas de RI nas companhias está visceralmente ligada ao desenvolvimento de uma cultura de atuação no mercado de capitais e ao aprimoramento do trabalho dos profissionais de RI. À medida que essa cultura de mercado se consolida em uma empresa, conviver com os agentes do mercado se torna algo entranhado na organização, integrado ao DNA organizacional, ou seja, sua cultura.

É importante destacar o grande cuidado com a informação que as Áreas de RI – e aliás, todos os profissionais envolvidos com informações confidenciais de uma empresa – devem ter. Embora a transparência seja um dos mais importantes princípios de governança corporativa, nem todas as informações podem ser transmitidas externamente, quando isso prejudicar os objetivos estratégicos da empresa, seus negócios e seus acionistas. A própria Lei das SA’s prevê esse cuidado com a informação. 

Sobre as informações disponibilizadas para o mercado, estas podem ser enquadradas em grandes temas muito importantes para quem quer entender em profundidade os fundamentos organizacionais, conforme ilustrado na figura seguinte:

Fonte: Do Modelo de Gestão Sustentável à Qualidade do Ativo-empresa, Revista RI – Relações com Investidores, Edição 244.

Note-se que a figura anterior é uma forma estruturada de se entender os grandes temas que preocupam os investidores e profissionais que estudam e acompanham uma empresa com ações em bolsa de valores a fundo, em bases fundamentalistas, quais sejam: 1. Origem e História; 2. Modelos de Negócios; 3. Estratégias; 4. Projetos (estratégicos); 5. Governança, Gestão e Riscos (Diagnóstico); 6. Sustentabilidade; 7. Capital Humano; e, 8. Finanças.

O trabalho dos profissionais de RI é a primeira fonte de coleta de informações relacionadas aos temas citados, mesmo não sendo a única e sendo relevante recorrer também a outras, é por meio da Área de RI que se poderá coletar as informações mais próximas da empresa, base nos princípios de governança. Nesse sentido, os sites de RI devem ser eficazes em abastecer o mercado com boas informações.

No Brasil, os profissionais de relações com investidores contam com o reconhecido Instituto Brasileiro de Relações com Investidores (IBRI) para apoiá-los em suas atividades, o qual tem um longo histórico de atuação desenvolvendo pesquisas, disseminando boas práticas de RI e fomentando a especialização de profissionais. E destacamos neste breve artigo a importante atuação da Revista RI – Relações com Investidores, a mais longeva do mercado de capitais nacional, com um extenso histórico de atuação visando fortalecer as Áreas de RI e seus profissionais. 

Finalizamos este artigo enaltecendo a importância dos profissionais de RI, fundamentais ao trabalho de primeira linha que deve ser feito por uma Área de RI – é o que os agentes do mercado dela esperam. Além de um conhecimento teórico bom sobre vários temas da governança e gestão das empresas, eles também precisam conhecer muito bem a empresa, em sua riqueza de matizes, bem como as visões dos agentes do mercado sobre a mesma. E devem ser eficazes em sua comunicação. Estes são requisitos que, definitivamente, não são triviais.

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