Entre eles, “A Grande Guerra pela Civilização – a Conquista do Oriente Médio” (Editora Planeta, 2005), escrito pelo jornalista inglês Robert Fisk (1946-2020), considerado o maior correspondente de guerra de todos os tempos.
Embora sejam 1491 páginas, em letrinhas miúdas, eu li o texto duas vezes: em 2010 e 2013. E ouso dizer que essa obra mudou minha maneira de pensar sobre diversos assuntos, principalmente política e conflitos internacionais.
Tenho certeza de que se Fisk ainda fosse vivo, e alguns anos mais moço (se foi aos 74), estaria hoje na faixa de Gaza cobrindo o massacre israelense que lá está ocorrendo e passando os detalhes para seus milhões de leitores.
Ele teria encontrado uma maneira de entrar lá na faixa arenosa, seja pela fronteira com Israel, ao norte, seja pela divisa com o Egito, ao sul, ou pelo mar Mediterrâneo, a noroeste. E, mesmo sabendo de sua presença, tanto os israelenses como os integrantes do grupo Hamas tomariam cuidado para que ele não morresse.
Muito mais difícil do que entrar em Gaza foi entrevistar Osama bin Laden em seu esconderijo nas montanhas que separam o Paquistão do Afeganistão.
Isso aconteceu em junho de 1996, portanto cinco anos antes do 11 de Setembro. Mas bin Laden, líder da Al Qaeda, já era o inimigo público número um dos Estados Unidos. E, curiosamente, a iniciativa do encontro foi do próprio Osama.
Entre outras coisas, Osama bin Laden disse que “os norte-americanos devem abandonar a Arábia Saudita, abandonar o Golfo (Pérsico).”
Só para lembrar aos caros amigos leitores, os Estados Unidos haviam estabelecido bases no reino saudita após a invasão do Kuwait por tropas iraquianas em agosto de 1990.
Isso precedeu a primeira Guerra do Golfo (Operação Tempestade no Deserto).
Evidentemente, a entrevista de Fisk com Bin Laden teve grande repercussão em todo o mundo. Mas quem conhecia o jornalista não se impressionou muito.
Dezesseis anos antes, quando as tropas de Saddam Hussein atacaram o Irã, iniciando uma guerra que duraria oito anos, Robert Fisk se encontrava em meio aos invasores, cobrindo os primeiros combates na confluência dos rios Tigre e Eufrates.
O Irã sempre foi assunto preferencial nas coberturas de Fisk, tanto durante o reinado do xá Mohamed Reza Pahlavi como nos anos da teocracia do aiatolá Khomeini.
Roberto Fisk testemunhou pessoalmente, e denunciou ao mundo, as atrocidades da Savak, polícia secreta do xá, assim como não fez por menos quando Khomeini enviou para o campo de batalha (contra o Iraque) adolescentes desarmados para percorrer os campos (e detonar as minas ali enterradas pelos iraquianos) para que, com seu martírio, “limpassem” o terreno para a entrada das tropas regulares.
Israel também foi um alvo permanente das críticas demolidoras de Fisk.
Entre elas, uma matéria sobre o massacre de dois mil civis (inclusive mulheres e crianças) palestinos nos campos de refugiados de Sabra e Chatila, em Beirute Oeste, perpetrado por cristãos libaneses sob os olhares complacentes de tropas israelenses comandadas pelo general Ariel Sharon, mais tarde primeiro-ministro de Israel.
Mesmo quando denunciava o governo de Tel Aviv, e mais tarde de Jerusalém, Fisk nunca foi impedido de entrar no país, assim como não era rejeitado pelos governantes árabes.
Todos temiam o teclado de sua máquina de escrever portátil e mais tarde de seu laptop.
Robert Fisk morou a maior parte de sua vida em Beirute, num apartamento com vista para o Mediterrâneo.
Queria ficar sempre próximo aos acontecimentos que cobria no Oriente Médio. Só trabalhava para órgãos de imprensa que lhe davam total liberdade para escrever o que pensava.
Boa parte de suas fontes se compunha de colegas do The New York Times, do Wall Street Journal, do Washington Post, da BBC, da CNN, da Fox News, etc. que sabiam que suas matérias poderiam ser censuradas. Então as passavam para Fisk. E assim o mundo ficava sabendo.
Tomo a liberdade de imaginar Robert Fisk voando para o sul de Israel, tão logo aconteceu o bárbaro ataque do Hamas contra civis inocentes e mais tarde surgindo em Gaza sem medo das bombas, dos mísseis, dos drones e dos tanques.
Caro amigo leitor assinante, sugiro que você adquira um exemplar de “A Grande Guerra pela Civilização; A Conquista do Oriente Médio”, seja para aumentar sua cultura, seja para entender os acontecimentos ao redor do mundo.
Vou encerrar esta crônica com a transcrição de parte de um parágrafo da página 1117 de “A Grande Guerra…”
”Estávamos sentados em uma trincheira, comendo o almoço que levávamos em nossas marmitas de lata, quando de repente apareceu um caça Phantom israelense, atirando em nós. As balas atravessaram a trincheira e não me acertaram por pouco. Mas meu amigo, Morem es-Sair, estava do meu lado, e as balas o partiram em dois, bem na metade, do meu lado.”
Um bom fim de semana para todos os caros amigos leitores.
Há três ou quatro anos, recomendei para os assinantes de minhas newsletters livros que foram úteis em meu trabalho no mercado financeiro.
Entre eles, “A Grande Guerra pela Civilização – a Conquista do Oriente Médio” (Editora Planeta, 2005), escrito pelo jornalista inglês Robert Fisk (1946-2020), considerado o maior correspondente de guerra de todos os tempos.
Embora sejam 1491 páginas, em letrinhas miúdas, eu li o texto duas vezes: em 2010 e 2013. E ouso dizer que essa obra mudou minha maneira de pensar sobre diversos assuntos, principalmente política e conflitos internacionais.
Tenho certeza de que se Fisk ainda fosse vivo, e alguns anos mais moço (se foi aos 74), estaria hoje na faixa de Gaza cobrindo o massacre israelense que lá está ocorrendo e passando os detalhes para seus milhões de leitores.
Ele teria encontrado uma maneira de entrar lá na faixa arenosa, seja pela fronteira com Israel, ao norte, seja pela divisa com o Egito, ao sul, ou pelo mar Mediterrâneo, a noroeste. E, mesmo sabendo de sua presença, tanto os israelenses como os integrantes do grupo Hamas tomariam cuidado para que ele não morresse.
Muito mais difícil do que entrar em Gaza foi entrevistar Osama bin Laden em seu esconderijo nas montanhas que separam o Paquistão do Afeganistão.
Isso aconteceu em junho de 1996, portanto cinco anos antes do 11 de Setembro. Mas bin Laden, líder da Al Qaeda, já era o inimigo público número um dos Estados Unidos. E, curiosamente, a iniciativa do encontro foi do próprio Osama.
Entre outras coisas, Osama bin Laden disse que “os norte-americanos devem abandonar a Arábia Saudita, abandonar o Golfo (Pérsico).”
Só para lembrar aos caros amigos leitores, os Estados Unidos haviam estabelecido bases no reino saudita após a invasão do Kuwait por tropas iraquianas em agosto de 1990.
Isso precedeu a primeira Guerra do Golfo (Operação Tempestade no Deserto).
Evidentemente, a entrevista de Fisk com Bin Laden teve grande repercussão em todo o mundo. Mas quem conhecia o jornalista não se impressionou muito.
Dezesseis anos antes, quando as tropas de Saddam Hussein atacaram o Irã, iniciando uma guerra que duraria oito anos, Robert Fisk se encontrava em meio aos invasores, cobrindo os primeiros combates na confluência dos rios Tigre e Eufrates.
O Irã sempre foi assunto preferencial nas coberturas de Fisk, tanto durante o reinado do xá Mohamed Reza Pahlavi como nos anos da teocracia do aiatolá Khomeini.
Robert Fisk testemunhou pessoalmente, e denunciou ao mundo, as atrocidades da Savak, polícia secreta do xá, assim como não fez por menos quando Khomeini enviou para o campo de batalha (contra o Iraque) adolescentes desarmados para percorrer os campos (e detonar as minas ali enterradas pelos iraquianos) para que, com seu martírio, “limpassem” o terreno para a entrada das tropas regulares.
Israel também foi um alvo permanente das críticas demolidoras de Fisk.
Entre elas, uma matéria sobre o massacre de dois mil civis (inclusive mulheres e crianças) palestinos nos campos de refugiados de Sabra e Chatila, em Beirute Oeste, perpetrado por cristãos libaneses sob os olhares complacentes de tropas israelenses comandadas pelo general Ariel Sharon, mais tarde primeiro-ministro de Israel.
Mesmo quando denunciava o governo de Tel Aviv, e mais tarde de Jerusalém, Fisk nunca foi impedido de entrar no país, assim como não era rejeitado pelos governantes árabes.
Todos temiam o teclado de sua máquina de escrever portátil e mais tarde de seu laptop.
Robert Fisk morou a maior parte de sua vida em Beirute, num apartamento com vista para o Mediterrâneo.
Queria ficar sempre próximo aos acontecimentos que cobria no Oriente Médio. Só trabalhava para órgãos de imprensa que lhe davam total liberdade para escrever o que pensava.
Boa parte de suas fontes se compunha de colegas do The New York Times, do Wall Street Journal, do Washington Post, da BBC, da CNN, da Fox News, etc. que sabiam que suas matérias poderiam ser censuradas. Então as passavam para Fisk. E assim o mundo ficava sabendo.
Tomo a liberdade de imaginar Robert Fisk voando para o sul de Israel, tão logo aconteceu o bárbaro ataque do Hamas contra civis inocentes e mais tarde surgindo em Gaza sem medo das bombas, dos mísseis, dos drones e dos tanques.
Caro amigo leitor assinante, sugiro que você adquira um exemplar de “A Grande Guerra pela Civilização; A Conquista do Oriente Médio”, seja para aumentar sua cultura, seja para entender os acontecimentos ao redor do mundo.
Vou encerrar esta crônica com a transcrição de parte de um parágrafo da página 1117 de “A Grande Guerra…”
”Estávamos sentados em uma trincheira, comendo o almoço que levávamos em nossas marmitas de lata, quando de repente apareceu um caça Phantom israelense, atirando em nós. As balas atravessaram a trincheira e não me acertaram por pouco. Mas meu amigo, Morem es-Sair, estava do meu lado, e as balas o partiram em dois, bem na metade, do meu lado.”
Um bom fim de semana para todos os caros amigos leitores.
Ivan Sant’Anna