Caro Investidor!

Com certeza você também teve a sensação que os 31 dias de janeiro pareceram 365, dado aos eventos no cenário macroeconômico, principalmente após a posse Donald Trump no dia 20. Comecemos pela parte boa. Depois da desgraceira que foi novembro e dezembro para a bolsa brasileira com quedas das ações em 7,3%, janeiro começou com recuperação e o Ibovespa encerrou o mês com alta de 4,9%. A parte mais ou menos é o aumento da Taxa Selic que agora é 13,25% a.a. , embora para quem investe em ativos atrelados aos juros, pode ganhar com isso. E como dizem por aí, em uma visão mais otimista, “quanto mais pessimista estamos mais perto do ponto de virada está”.

Essa recuperação da bolsa, segundo o BTG Pactual, se deve a um cenário externo um pouco mais benigno. No final de 2024, as taxas dos títulos de 10 anos dos EUA, tanto nominais quanto reais, aumentaram, as taxas nominais em 28bps e as reais 27bps em novembro/dezembro. 

“As taxas americanas mais elevadas pressionaram as taxas no Brasil e contribuíram para a queda do Ibovespa no final de 2024. Esse movimento foi parcialmente revertido em janeiro, já que os anúncios iniciais de aumento de tarifas de Trump foram menos agressivos do que o esperado. Consequentemente, as taxas reais americanas de 10 anos caíram 12bps em janeiro, ajudando a explicar a recuperação do Ibovespa (em US$)”.

Vale destacar que nesta segunda-feira (10) o Relatório Focus indica que os analistas do mercado financeiro seguem elevando, a projeção para o IPCA de 2025. “E há uma sinalização de diminuição do PIB, o que acende sinais de alerta quanto ao desdito da economia brasileira”, comenta Sidney Lima, analista da Ouro Preto investimentos.

Investimentos

Ainda falando em EUA, segundo o economista Lucas Sharau, sócio da iHUB Investimentos, fevereiro é o mês em que começa-se a ver as medidas que o governo de Trump adota para fortalecer o Dólar e posicionar o país no centro do cenário comercial global. “Isso desencadeou não apenas muitas negociações entre países para alinhar seus interesses nesse novo cenário, mas também o início de mais uma disputa comercial entre os EUA e o resto do mundo”, disse.

Sharau acredita que a expectativa neste cenário atual é de que haja uma tendência de aumento do dólar, da inflação e, consequentemente, das taxas de juros futuras. Em vista disso, “os investimentos de renda fixa no Brasil que contam com a marcação a mercado (crédito privado, títulos públicos e fundos de investimento de gestão ativa em CP) sofrerão uma desvalorização enquanto o cenário se agrava. No entanto, isso também significa que ficarão com taxas mais atrativas para novos aportes e investimentos.”

À medida que a renda fixa se desvaloriza, “é natural esperar uma tendência de desvalorização macro da bolsa brasileira neste ciclo de aumento de juros e inflação, com exceção de algumas empresas que, com a alta do dólar, podem ampliar suas margens de lucro e se valorizar nesse período”, comenta o economista.

“O momento é ideal para o investidor ir às compras, selecionar bons ativos, diversificar setores e montar uma carteira de investimentos. Há oportunidades interessantes em todo o mercado.”

A renda fixa é a grande aposta do momento. “Como ainda não há um horizonte claro para a normalização do cenário, as curvas de juros elevados estão se alongando cada vez mais, permitindo ao investidor acessar taxas de rendimento atrativas por períodos mais longos”, explica Sharau.

Em segundo lugar, as bolsas representam uma oportunidade para os investidores. “Preferencialmente, olhamos para a bolsa americana, que tem maior expectativa de valorização no longo prazo com as medidas de Trump, mas sem descartar a bolsa brasileira, especialmente em segmentos de exportação como alimentos, petróleo e mineração, que podem apresentar ganhos nesse cenário.”

Já para para o investidor rentista, segundo o economista, este é um momento interessante para a construção de uma carteira de dividendos mensais no segmento de Fundos Imobiliários. “O cenário atual trouxe um desconto nos preços da maioria dos fundos, reduzindo o valor de suas cotas a patamares que resultam em um dividendo mensal líquido, em alguns casos, superior a 1,00% ao mês.

De acordo com o analista da Ouro Preto Investimentos, Sidney Lima, a elevação da taxa Selic segue representando um desafio para o investimento em ações, pois torna a renda fixa mais atrativa em comparação. “No entanto, ainda há oportunidades na bolsa para investidores dispostos a assumir riscos calculados, considerando os fatores de que mesmo em momento complexo da economia boa parte dessas empresas seguem reportando lucro, o que demonstra resiliência”, analisa. Lima ainda destaca que os setores como tecnologia, energia e saúde podem apresentar potencial de crescimento, especialmente para empresas bem posicionadas em seus mercados.

Sobre a renda fixa, seguindo a tendência do mercado, ele também acredita que os investimentos em renda fixa tornam-se atrativos com a projeção da Selic a 15%, oferecendo retornos mais elevados e com menor risco. “Títulos como o Tesouro Selic e CDBs de bancos sólidos são opções recomendadas para investidores que buscam segurança e rentabilidade. Além disso, títulos atrelados à inflação, como o Tesouro IPCA+, podem proteger o poder de compra do investidor diante das expectativas inflacionárias.”

Sem esperar muito

Em relação à política fiscal, os analistas do BTG não esperam muito. “Embora o cenário externo ajude a explicar alguns dos altos e baixos do mercado brasileiro, nada mudou em relação à política fiscal desde o final do ano passado. Os ativos de risco brasileiros se deterioraram acentuadamente nos últimos meses, uma vez que a confiança dos investidores na sustentabilidade da estrutura fiscal e na trajetória da dívida do país atingiu os menores níveis de vários anos.”

Para o BTG, sem medidas estruturais mais significativas para reduzir o ritmo de expansão da dívida, o que parece altamente improvável, os analistas não esperam uma recuperação sustentada das ações brasileiras. “De fato, a maior percepção de risco Brasil se reflete no aumento da diferença entre as taxas reais do Brasil e dos EUA, que agora está um desvio padrão acima da média. Dito isso, em momentos mais desafiadores, como a recessão de 2015/2016, o prêmio foi em média de 6% e atingiu um pico de mais de 7% em setembro de 2015.”

Cautela dos investidores e perspectivas

O mercado financeiro segue no clima de volatilidade e incertezas, influenciado por uma combinação de fatores globais e domésticos. Para Rodolpho Damasco, sócio e head do Private Offshore da Nomos Investimento, as decisões de política monetária em diferentes países continuam sendo “um dos principais vetores para os movimentos dos ativos, uma vez que impactam fluxos de capitais e expectativas sobre crescimento econômico e inflaçã”o. 

Também as tensões geopolíticas e comerciais, como possíveis acordos entre grandes potências, seguem no radar dos investidores, podendo gerar oscilações significativas nos mercados.

“No cenário corporativo, os balanços das empresas refletem o impacto do atual ciclo econômico, destacando setores que conseguem se beneficiar do momento e outros que enfrentam desafios mais acentuados. No Brasil, por exemplo, o setor bancário vem demonstrando resiliência, com resultados sólidos impulsionados pelo crescimento das receitas com serviços e gestão de crédito. No entanto, o mercado de ações ainda opera com cautela, refletindo um equilíbrio entre otimismo com fundamentos empresariais e preocupações com fatores externos”, afirma Damasco.

Segundo o especialista, os investidores seguem atentos aos próximos desdobramentos, tanto em relação à política monetária quanto à evolução das principais economias e seus impactos sobre os mercados emergentes. “A diversificação e a gestão de risco continuam sendo fundamentais para navegar esse cenário de incertezas.”

Já para Marcello Carvalho, economista na WIT Invest o cenário macroeconômico em fevereiro será marcado por diversos altos e baixos, “ditados pela forma em que o presidente Trump comunicará tarifas de importação e do que efetivamente será aplicado, uma vez que as tarifas estão sendo utilizadas como arma econômica para seus objetivos políticos com os demais países do globo”.

Sobre a bolsa, Carvalho diz que ela ainda será uma gangorra ao longo de todo mês de fevereiro, sofrendo impactos tanto das políticas internas quanto das falas do presidente Trump. Porém, um dos fatores que devem ajudar a mantermos um volume de compradores é quão descontadas as empresas que compõem o índice Bovespa estão sendo negociadas, podendo ser adquiridas a múltiplos baixos, mesmo para os patrões de risco brasileiros.

Copom dá o tom

O aumento da Taxa Selic em 29 de janeiro era esperada. Para Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos, a decisão reforça mais uma vez a preocupação com o cenário externo e a questão fiscal, que ganharam relevância desde a última reunião do Copom (em dezembro). 

“Houve um grande estresse nesses fatores, impulsionado pela eleição de Donald Trump e pelo pacote de corte de gastos no Brasil, que só foi aprovado mediante liberação de emendas e, mesmo assim, foi desidratado devido à resistência de alguns ministros. Esse cenário adiciona desafios à convergência da inflação, o que já se reflete nas projeções do Boletim Focus, que mostram uma alta nas expectativas para todo o primeiro semestre.”

Segundo Cruz, o que a equipe econômica fará daqui para frente será crucial. “Caso apresentem medidas concretas, isso pode aliviar a necessidade de o Copom subir os juros a níveis ainda mais altos. Já há um consenso entre economistas de que a elevação da taxa de juros, por si só, não é suficiente para garantir a convergência da inflação. O que pesa mais é a incerteza sobre o compromisso fiscal e econômico do governo, especialmente em um momento de queda na popularidade, além dos riscos externos associados às políticas de Trump.”

(Colaborou na produção: Márcia Sobotyk)