A pandemia trouxe o home office nunca antes experimentado e a oportunidade de convivência mais próxima não só com minha família, mas com nossos bichinhos de estimação. Em casa temos duas yorkshires e um hamster anão(in memorian). Desta convivência mais intensa veio o desejo de adquirir um papagaio. Seria divertido ter um ser voando pra lá e pra cá repetindo o que falamos. Convenci o marido e lá fomos nós escolher o novo mascote.
Chegando lá e tendo a oportunidade de conversar com os especialistas de plantão, descobrimos que, por termos outros animais, o ideal seria adquirir uma “Lóris”. Considerem essa espécie como um pássaro mais calmo que o tão sonhado “louro”, mais colorido, mais inteligente e mais dócil. Pensamos: perfeito! E após 15 dias de “desmame” lá fomos nós felizes com a nossa Loris, batizada de Brie, para casa.
O que ninguém nos alertou (e também pesquisamos pouco) é que esta espécie, por se alimentar basicamente de líquidos e papas, é a campeã de sujeira produzida e devidamente espalhada. São mini jatos de dejetos aqui e acolá decorando cada pedacinho do chão da minha varanda e, consequentemente, da gaiola onde ela apenas dorme, mas que serve de puleiro.
Dado o quadro acima, além da limpeza constante das áreas atingidas pelos mísseis, temos que manter a gaiola em boas condições de higiene também. E é ai que a história toda engata. Como a Brie se alimenta de papa, quando esta seca, gruda de forma muito contundente na gaiola inteira. Eu pessoalmente faço a limpeza semanal do local e, dado que dava um trabalho absurdo esfregar tudo, comecei a deixar lenços umedecidos em alguns pontos para amolecer e facilitar o trabalho. Demorava cerca de 1h para deixar tudo impecável.
Pois bem. Pandemia sob controle, voltamos ao escritório. Dispender essa 1h pela manhã toda sexta, dependendo da agenda do dia, ficou um pouco mais complexo. E como já é o dia de faxina em casa, não seria muito produtivo transferir a tarefa pro final de semana. Eis que em uma dessas ocasiões onde não podia perder uma reunião presencial importante, peço pra minha filha mais velha (Natália, 20 anos) quebrar o galho e “dar um tapa” na gaiola para mim. Confesso que já pré-julgava que seria apenas para “tirar o grosso” da sujeira. Afinal, não seria eu (a-rainha-mãe-conhecedora-da-magia-da-limpeza-e-com-experiência-prévia) quem estaria executando a tarefa.
Algumas horas depois recebo uma mensagem da minha filha com a foto da gaiola IMPECÁVEL, com a seguinte descrição: “1h de trabalho duro e muita água quente. Problema resolvido”. Fiquei pasma. Boquiaberta. COMO ASSIM? Ficou melhor que quando eu limpo !!! Como uma das tarefas da Nati é lavar a louça que não cabe na máquina de lavar, geralmente é algo que tem gordura e para facilitar ela usa a água quente da torneira. Logo, ela usou o mesmo raciocínio.
Na semana seguinte quando pude executar minha tarefa novamente usei o truque e economizei metade do tempo que dispendia com os lenços umedecidos.
Moral da história: delegar é também descer do pedestal do “só eu sei fazer bem feito” e permitir que o outro, à sua maneira, chegue ao mesmo resultado ou até melhor. E não consigo pensar em forma mais eficiente de desenvolver as pessoas. O resultado pode te surpreender…
(A foto da capa é a Brie, em um dia qualquer de home office.)
Tatiane Mendonça
Tem 41 anos, casada com o Marco, mãe da Nati e da Manu. Mestre em Controladoria e Finanças pela FIPECAFI. Formada em Comex pelo Mackenzie, com MBA Internacional pela Embry Riddle e cursando Engenharia Financeira pela FIA. São mais de 20 anos de experiência em Finanças com maior expertise em Tesouraria. Membro fundadora do W-CFO, membro atuante do IBEF, mentora no projeto Impulsionadoras e Aceleradoras de Carreiras do grupo Mulheres do Brasil, coautora do livro Mulheres em Finanças e Coordenadora do livro Mulheres na Aviação.