CENÁRIO EXTERNO: AVALIANDO UMA 2ª ONDA
Mercados… Mercados asiáticos iniciaram a semana com desempenhos mistos, sem grandes destaques. Na zona do euro, índices de mercado abriram negociações com viés ligeiramente negativo. O Stoxx 600, índice que abrange ativos de diversas regiões do bloco europeu, recua 0,6% até o momento. Em NY, índices futuros operam com o mesmo viés verificado na Europa, com baixas entre 0,3% e 0,7%, enquanto o dólar (DXY) volta a se valorizar contra seus principais pares do G10. No plano das commodities, ativos operam predominantemente em terreno negativo. O preço do petróleo (Brent Crude) cai 2,5%, negociado próximo aos US$ 30,00/barril.
Manhã de realização… Mercados globais abrem a semana em tom ligeiramente negativo, em movimento de realização dos ganhos acumulados na semana passada após final de semana que não que trouxe mudanças relevantes para o quadro mundial. Investidores continuam ponderando as últimas investidas na direção da reabertura dos negócios nas economias centrais contra dados econômicos que acumulam evidências de uma profunda recessão econômica e a possibilidade de uma 2ª onda de infecções após a abertura. No tocante aos dados, o Presidente do Fed de Minneapolis, Neel Kashkari, reforçou que os números de maio devem dar uma maior clareza do tamanho do estrago feito na maior economia do mundo, alertando que o mundo deve se preparar para mais uma leva de resultados tenebrosos e que o Congresso deve ficar a postos para a eventual liberação de novos estímulos.
Avaliando a chance de uma 2ª onda… Muita incerteza ainda rege as decisões sobre o movimento de reabertura econômica iniciado ao redor do mundo. De um lado, o presidente americano, Donald Trump, continua defendendo a tese de que chegou o momento em que os americanos devem voltar ao trabalho e à vida social, buscando acalmar os ânimos em torno da forte epidemia que segue se instalando no país. O fato de que o seu vice (Mike Pence) e outros 4 integrantes do seu governo estão em quarentena por suspeita de Covid-19 tem se mostrado um novo desafio para Trump nesta frente. Na mesma direção, França e Espanha continuam afrouxando restrições de mobilidade de maneira gradual, enquanto o premiê Boris Johnson se prepara para anunciar o seu plano de reabertura no Reino Unido. Na contramão, a Rússia apresentou um número recorde de novos casos em 24 horas, assumindo o posto de novo epicentro da doença na Europa, enquanto países que se destacaram por estarem em estágios mais avançados da doença (China, Coréia de Sul e Alemanha), têm um salto no número de novos casos e se preparam para uma possível 2ª onda de contaminações. A intensidade e duração da nova onda terá um papel crucial na formação de expectativas nos próximos dias.
Powell abre o jogo… A semana tem agenda movimentada, com destaque para discurso do presidente do Fed, Jerome Powell; que fala na 4ªf e pode trazer novidades sobre as medidas de estímulo que estão sendo usadas pela instituição no combate à crise. Existem rumores de que Powell poderá sinalizar a possibilidade de juros negativos nos EUA, medida a que ele já se opôs em diversas oportunidades, mas que pode estar sendo contemplada pela crise sem precedentes que se instaura na maior economia do mundo.
Mais agenda… Ao longo da semana, o investidor ainda avalia os Índices de Preços ao consumidor (3ªf) e ao produtor (4ªf) de abril nos EUA, seguido pela divulgação das vendas no varejo para o mesmo mês. Na China, além da inflação ao consumidor na noite de hoje, saem a produção industrial e vendas no varejo de abril na 5ªf.
BRASIL: PAÍS ULTRAPASSA 10 MIL MORTOS POR COVID-19
5 dígitos… Durante o final de semana, o Brasil ultrapassou o trágico limiar de 10.000 óbitos pelo coronavírus. Segundo a última atualização do Ministério da Saúde, já são 162.699 casos registrados e 11.123 mortes como resultado epidemia da Covid-19. O ministério também anunciou 64.957 casos de pessoas recuperadas e outros 86.618 casos suspeitos ainda não confirmados do vírus.
Bolsonaro pressiona por abertura… Apesar do crescente número de óbitos, o presidente continua em busca de vias legais para cessar a quarentena e reabrir a economia. Como o STF já estabeleceu que o presidente não pode interferir nas medidas de distanciamento impostas pelos governadores e prefeitos; Bolsonaro pretende, por meio de decretos, ampliar o número de categorias trabalhistas consideradas essenciais. Na semana passada, o presidente já havia determinado que a construção civil e a indústria se enquadram entre as categorias que não podem encerrar a suas atividades. O presidente ainda não especificou qual profissões serão as próximas a receberem o rótulo de “essencial”.
Veto parcial para o projeto de auxílio para os estados… Durante o início desta semana, o presidente deve proferir um veto parcial ao programa de auxílio emergencial aos estados e municípios aprovado pelo Congresso. O projeto que garante a transferência direta de R$ 50 bilhões para os estados e RS 10 bilhões para municípios deve ser sancionado, mas o trecho do projeto que limita o número de categorias que terão os seus os salários congelados, uma contrapartida fiscal proposta pelo ministro Paulo Guedes (Economia), deve ser vetado pelo presidente. O projeto também prevê a suspensão de R$ 60 bi em dívidas dos entes inferiores com a União.
Ainda existem incertezas em torno do congelamento… Uma medida provisória deve restabelecer um rol mais restrito de categorias isentas do congelamento, mas como ainda não se sabe quais profissionais serão incluídos nesta lista é impossível projetar o impacto sobre a economia de R$ 130 bilhões que seriam preservados pelo congelamento integral dos salários dos servidores.
BNDES deve definir auxílio para aéreas e distribuidoras… O Banco de desenvolvimento dever definir durante a semana o tamanho do pacote de auxílio emergencial para as empresas aéreas; que pode alcançar até R$ 7 bi, e para as distribuidoras de energia elétrica, que pode atingir patamar de até R$ 13 bi. Os dois detores devem estar entre os primeiros a receber um auxílio do BNDES. No caso das áreas, o auxílio deve ocorrer por meio do mercado de capitais. O BNDES, em conjunto com alguns bancos privados, deve garantir a compra de 70% das debêntures emitidas pelas empresas do setor, os 30% restantes devem ser absorvidos por investidores privados.
Agenda… A ata do Copom calibra expectativas do mercado com relação à reunião de junho nesta 3ªf. Na 6ªf passada, a curva passou a precificar um corte mais próximo a 0,5 p.p. o que levaria a Selic ao patamar de 2,5%. Ao longo da semana, o investidor local ainda avalia o resultado do setor de serviços (3ªf), do varejo (4ªf) e o do Índice de Atividade do Banco Central (6ªf) referentes ao mês de março. Hoje, como de costume, o investidor confere a atualização de projeções do mercado no boletim Focus do Bacen (8h25) e a balança comercial semanal (15h).
E os mercados hoje?… Mercados globais iniciaram a semana em tom ligeiramente negativo, com investidores realizando parte dos ganhos acumulados na semana passada frente a um cenário que ainda reserva muitas incertezas. No Brasil, a promessa de veto do presidente à alteração que reduz o impacto fiscal da contrapartida para os Estados e município continua como principal ponto de atenção dos mercados. Em live no final de semana, Paulo Guedes reforçou a importância da medida e a sinalização de responsabilidade fiscal que será passada ao mercado com o veto. No pano de fundo, a agenda política ainda conta com os nove depoimentos de testemunhas no inquérito que investiga acusações de Moro contra Bolsonaro e a expectativa pela liberação do vídeo da reunião ministerial. Tendo isso em vista, esperamos um dia de viés neutro/positivo para ativos de risco locais; com desempenho fortemente condicionado a realização (ou não) do veto presidencial prometido.