Os gestores de fundos de previdência privada têm reconstruído suas estratégias para manterem a competitividade em um cenário de juros reais praticamente nulos. A queda da Taxa Básica de Juros (Selic) ao menor patamar da história praticamente zerou os ganhos de fundos mais conservadores, que compram principalmente títulos públicos ou perseguem índices, levando muitos gestores a esticarem sua atuação ao segmento de multimercados.
Conforme o balanço de março da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), haviam no Brasil 1.041 Fundos de Previdência Multimercado Livres, ante 143 de Renda Fixa Indexados e apenas 36 de Renda Fixa Simples. Um dos movimentos recentes mais representativos desta busca por rentabilidade foi o lançamento em fevereiro, pela BrasilPrev, de um novo portfólio de produtos, contemplando fundos de Renda Fixa e Multimercado para todos os clientes Pessoa Física e de pequenas empresas.
Em Renda Fixa, o destaque fica por conta das estratégias Renda Fixa Ativo Crédito Privado, que busca prêmio sobre o CDI por meio de gestão ativa em renda fixa doméstica e no exterior, além de crédito privado. Já entre os Multimercados, uma das apostas da empresa é o Multimercado Premium, que tem como objetivo maximizar a rentabilidade com a combinação de estratégias de renda fixa, crédito privado, investimento no exterior e uma parcela de até 30% em renda variável.
“O portfólio de Renda Fixa está mais adequado à nova realidade de taxas de juros baixas, em virtude do maior foco em gestão ativa nessa classe de ativos” comenta Jorge Ricca, diretor Financeiro da BrasilPrev.
“Na nossa percepção, é essencial alocar uma parcela da carteira em fundos multimercados, que podem capturar com maior intensidade a melhora no cenário econômico, ampliando o potencial de expectativas de ganhos em planos de previdência, além de oferecer uma maior diversificação de investimentos”, completa.
No entanto, o tombo recente na Bolsa de Valores e nos ativos prefixados, que têm sofrido em razão de expectativas negativas para a economia no lastro da pandemia do coronavírus, golpeou com força os fundos que ousam mais. O relatório da Anbima indica uma queda de 6,99% na rentabilidade dos multimercados em 2020, e de 2,74% nos indexados. Por outro lado, os classificados como Renda Fixa Simples se valorizaram 0,7% no período.
“A previdência privada deve ser encarada no longo prazo e como uma forma de garantir a renda complementar garantindo mais tranquilidade e estabilidade durante sua aposentadoria”, analisa Tatiana Mallmann, sócia Fundadora da New York Capital, empresa de assessoria de investimentos.
A realidade dos fundos previdenciários está alinhada a um momento duro para o segmento no país, como mostra um levantamento da Economatica. No ano, o patrimônio da indústria de fundos perdeu 3,4% até 31 de março. Foi um recuo após o segmento atingir, em janeiro de 2020, seu maior valor histórico, com R$ 5,07 trilhões.