Ontem foi um dia de pânico nos mercados acionários do mundo com o sexto circuit breaker na Bovespa (quase tivemos o sétimo) e novo circuit breaker nos mercados americanos. A Bovespa encerrou com queda de 10,35%, índice em 66.895 pontos, Dow Jones com queda de 6,30% e Nasdaq perdendo 4,70%.

A Bovespa registra perda em 2020 de 42,16%, sendo que 35,78% somente no mês de março. Só ontem a Petrobras perdeu em valor de mercado R$ 24,7 bilhões e em 2020 a queda do valor de mercado das ações brasileiras está em R$ 1,82 trilhão. Segundo noticiário já tivemos um primeiro suicídio em São Paulo de investidor que estava muito alavancado.

Hoje alguns mercados buscam tênue reação, depois de anúncios de bancos centrais com medidas, mas o fechamento da Ásia foi ainda fraco, com destaque negativo para Seul com -8,39%. Na Europa, o início da manhã estava mais positivo e os mercados perdem tração agora, enquanto os futuros do mercado americano voltam a trabalhar no campo negativo.

Aqui o dia promete ser novamente tenso com os investidores precisando se ajustar para a decisão tímida do Copom de cortar a taxa Selic em 0,50% para 3,75%, quando a expectativa era de corte maior. O comunicado pareceu meio deslocado da situação atual, mas a Selic mantém viés de queda.

Mercados reagiram hoje um pouco em função do anúncio do BCE (Banco Central Europeu) de que vai comprar títulos no montante de 750 bilhões de euros até o final de 2020, deixando a porta aberta para novas atuações. Na mesma linha, os bancos centrais da Austrália cortaram os juros para 0,25% (-0,25%), Filipinas com taxa de 3,25% (-0,50%), Indonésia para 4,50% (-0,25%) e Suíça mantendo juros em -0,75%, mas anunciando maior intervenção no câmbio. Taiwan também cortou juros para 1,125 (-0,25%), pela primeira vez desde 2016.

Na Alemanha, o índice IFO de sentimento empresarial registrou queda para 87,7 pontos em março, de anterior em 96 pontos. Já a vitória de Joe Biden pode ocasionar a saída de Sanders da disputa pelos Democratas. Enquanto isso o petróleo busca alguma recuperação depois da queda forte de ontem e possibilidade de acerto entre a Rússia e a OPEP+.

No mercado internacional, o petróleo WTI negociado em NY mostrava alta de 8,89%, com o barril cotado em US$ 22,18. O euro era transacionado em queda para 1,075 e notes americanos de 10 anos com taxa de juros de 1,12%. O ouro e a prata com altas na Comex e commodities agrícolas com viés de alta na Bolsa de Chicago.

Aqui, a decisão tida como tímida do Copom pode obrigar nova redução da Selic até a reunião de maio. O Bacen ontem fez várias intervenções no mercado de câmbio para tentar deixar funcional (leilões de linha e venda à vista), mas não logrou muito êxito, com o dólar fechando em alta de 3,74% e cotado a R$ 5,20.

Já a Câmara aprovou pedido de calamidade pública solicitado pelo Governo, e isso abre espaço para atuação mais profunda na ajuda de empresas e setores vulneráveis. O secretário do Tesouro Mansueto de Almeida disse que o déficit primário pode chegar a R$ 200 bilhões, não só pelos gastos adicionais como pela queda de arrecadação. O fechamento de shoppings pelo país até abril força novos problemas para os varejistas que já buscam negociação.

A agenda fraca do dia não indica nada que possa mudar comportamento dos mercados, o que significa que vamos ficar por conta das notícias de momento do coronavírus e medidas adicionais de governos e bancos centrais.
Alvaro Bandeira
Sócio e economista-chefe do banco digital Modalmais

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