PERSPECTIVAS 2020-21: ENTUSIASMO NÃO É PÁREO PARA PREPARAÇÃO.
Victor Penna. Com o time do BB Investimentos Research
Preços de minério de ferro voltando ao “novo normal”. Normalização da oferta de celulose e demanda resiliente por fibra virgem devem contribuir para um ano menos pessimista em 2020.
Minério de ferro
Após um ano de inesperados e trágicos eventos não apenas no Brasil, mas também na Austrália, as dinâmicas para oferta e demanda no segmento de mineração mudaram drasticamente. Vimos os preços de MF irem às alturas após uma importante diminuição na oferta e redução nos estoques.
Para 2020, acreditamos que os preços de MF devam voltar ao “novo normal”, entre US$ 80/t – US$ 90/t, respondendo ao retorno gradual da produção da Vale e à demanda resiliente na Ásia, especialmente na China. GC*
Celulose
Após um 2019 desafiador em termos de preços, o próximo ano deve iniciar menos pessimista, com demanda forte e oferta estável.
Para 2020, esperamos que os preços de celulose fiquem em US$ 544/t na média, contra US$ 569/t em 2019, recuperando a partir do 2S20 e finalizando o ano em US$ 595/t. Com a oferta sob controle devido ao fechamento de capacidades, o mercado deve encontrar um novo ponto de equilíbrio. Contudo, dependerá fortemente da velocidade da Suzano em reduzir seus estoques no exterior e usar sua posição de liderança em seu favor.
Projetamos os preços de BHKP no LP para a China em US$ 500/t. GC*
Petróleo
Os preços do petróleo tipo Brent devem ter uma média de US$ 60,10 por barril em 2020, de acordo com a EIA (Energy Information Administration).
Os preços mais baixos em comparação a 2019 estão relacionados à previsão de aumento dos estoques globais de petróleo. O WTI deverá ter uma média de US$ 55.
O consumo mundial total deve atingir 102,3 milhões de barris por dia, um aumento de 1,4% a/a, segundo a EIA.
Quanto à produção, o volume total deve atingir 102,6 mbpd (+1,7% a/a), liderado pela produção não OPEP (+3,6% a/a), uma vez que a produção da OPEP deverá diminuir em 1,9% a/a. DC*
Etanol
Na safra 2019/20, os preços mais altos dos combustíveis no mercado interno, combinados aos preços mais baixos do açúcar no mercado internacional, têm favorecido a produção de etanol sobre o açúcar no Brasil.
O preço do petróleo deve limitar novos aumentos no preço do etanol, uma vez que a paridade do etanol está próxima a 70% do preço da gasolina.
A produção de etanol no Centro-sul deve atingir 29,04 milhões de toneladas, segundo a mediana de 18 estimativas de pesquisa, segundo a NovaCana.
O mix deve atingir 37,7% de açúcar e 62,3% de etanol, também de acordo com a NovaCana.
Portanto, esperamos um declínio moderado na produção de etanol em 2020. DC*
Fonte: Bloomberg, EIA, ESALQ, BB Investimentos Research | *iniciais dos analistas setoriais
Os avanços nas negociações do acordo comercial entre EUA e China ameaçam a demanda chinesa por grãos brasileiros. A demanda consistente e o clima favorável beneficiam a lucratividade da nova safra de grãos.
Milho
A Conab espera um cenário positivo para o cereal, com tendência de preços elevados, cujos níveis trazem rentabilidade. Para o Brasil, a Conab espera leve elevação na área plantada do milho (+0,3% a/a), porém produção total 1,6% a/a menor dado a projeção de queda de produtividade (-1,9% a/a), enquanto o consumo deve subir 6,6% a/a, em função:
(i) da expressiva e crescente demanda para produção de etanol de milho ou flex;
(ii) do incremento de exportações de proteína animal, em especial para China em virtude da PSA.
Referente às exportações de milho, a expectativa CONAB é de estabilidade com a safra 2018/2019, em que esperase volumes recordes de embarques, estimulada pelo dólar mais forte e cotações elevadas. Pode ainda ser majorada dado a expectativa de quebra de safra nos EUA. Ao mesmo tempo, um avanço nas negociações entre EUA e China pode impactar a dinâmica no mercado internacional. CK*
Soja
Segundo a Conab, o Brasil deve permanecer como o maior produtor da oleaginosa do mundo, com expectativa de produção de 121 mi ton (+5,3% a/a) mediante área plantada 2,6% a/a maior, para a safra 2019/2020.
As projeções são baseadas, principalmente, (i) no aumento das exportações de proteína animal brasileira, estimulado pela Peste Suína Africana (PSA), e (ii) aumento do biodiesel no mix do diesel (+11,3% a/a, estimado pela CONAB).
O Brasil deve seguir na liderança, com ~50% das exportações mundiais, segundo último relatório da USDA, apesar da projeção de redução de 1,6% a/a no volume exportado dado o desaquecimento das importações chinesas devido à PSA.
O Brasil deve ganhar market share no trade global devido à (i) redução de produtividade dos EUA por efeitos climáticos adversos, (ii) perspectiva de redução de produção norte-americana, além da (iii) guerra comercial entre EUA-China. CK*
Açucar
A moagem total de cana deverá atingir 635 milhões de toneladas na safra 2019/20, segundo o USDA (+2,3% a/a).
A produtividade da cana-de-açúcar deve atingir 74,2 kg/ha em 2019/20, um aumento de 3% a/a, segundo a Conab.
O elevado volume de estoques de açúcar no mundo, principalmente na Índia, deve manter os preços pressionados (atualmente estão nos níveis mais baixos dos últimos dez anos, com a terceira queda anual).
No Brasil, a produção total de açúcar para a safra 2019/20 é estimada em 29,4 milhões de toneladas, segundo o USDA, enquanto a Conab tem uma previsão mais otimista de 31,8 milhões de toneladas para a safra.
Portanto, esperamos um leve aumento na produção de açúcar em 2020. DC*
Boi Gordo
De janeiro a novembro, os preços de boi-gordo aumentaram de forma significativa em 10% a.a., impulsionados por: (i) alta demanda internacional por carne bovina (devido aos efeitos da febre suína africana), e (ii) o decréscimo de disponibilidade de gado no 2S19.
Com isso, os preços atingiram o pico histórico de R$230/@ no final de novembro.
Em nossa opinião, os preços de boigordo devem reverter a tendência de alta no curto prazo, dada a retomada sazonal e o incentive à produção.
No entanto, para 2020, o cenário promissor para as exportações de carne bovina e a recuperação gradual do consumo doméstico devem sustentar preços ainda acima da media de 2019. LC*
Fonte: Conab, Bloomberg, USDA, ESALQ, BB Investimentos Research | *iniciais dos analistas setoriais
Empresas – Top Picks
Empresas expostas a commodities continuarão se beneficiando da batalha da China contra a poluição, estimulando demanda por insumos de melhor qualidade. Queda nos custos de extração beneficia a Petrobras.
Hard Commodities
Mineração
Perspectiva Positiva – TOP PICK: VALE
A demanda pela commodity deve persistir, especialmente na China, já que a produção continua a expandir (+8,1% y/y em outubro , de acordo com a WSA) e o controle ambiental se torna mais severo, aumentando a busca por produtos de qualidade.
Somado a isso, vemos a oferta ainda pressionada, com a capacidade da Vale retomando ao longo de 2020 e 2021, e os produtores australianos ainda lidando com os efeitos pós-ciclone Veronica.
Siderurgia
Perspectiva Positiva – TOP PICK:CSN e GERDAU
Após desapontar em 2019, a indústria siderúrgica aponta para um desempenho mais saudável em 2020 em termos de demanda e preços, embora ainda limitado por pressões observadas em 2019, como custos de insumos.
Devemos ver a demanda avançar, sobretudo na Construção e no Automotivo, menos deprimido pelo efeito argentina nas exportações. Um metal spread favorável poderia aumentar as oportunidades para anúncios de aumentos de preços.
Papel & Celulose
Perspectiva Neutra – TOP PICK: KLABIN
Esperamos que a demanda continue a crescer, baseados em (i) ascensão do ecommerce, (ii) urbanização da população rural na Ásia, impulsionando a demanda por tissue, (iii) preocupações ambientais com relação ao uso de plástico no mundo, (iv) a limitação de uso de fibra reciclada na China e (v) as oportunidades para produtos de embalagem nas exportações.
Escolhemos a Klabin como nossa TP, devido ao momento positivo para os produtos de embalagens e sua estratégia de focar em pequenos e médios clientes de celulose, conseguindo melhores preços.
Petróleo & Gás
Perspectiva Positiva – TOP PICK: PETROBRAS
Nossos principais destaques para a Petrobras, nossa top pick: (i) o aumento da produção: a Petrobras iniciou quatro novos FPSOs em 2019 e mais um é esperado para 2020; (ii) o novo plano estratégico, mais focado no pré-sal (~85% do CAPEX total); (iii) a nova política de dividendos deve aumentar o retorno do investidor após 2021; (iv) O constante declínio nos custos de extração, especialmente nos campos do pré-sal; (v) a continuidade do processo de desalavancagem.
Soft Commodities
A demanda chinesa por grãos brasileiros continua sendo prejudicada pelas tensões comerciais entre EUA e China, enquanto a soja e o milho podem se beneficiar de queda de safra nos EUA.
Agronegócios
Perspectiva Neutra – TOP PICK: N.A
Para 2020, um cenário de instabilidade permanece para o setor de Agronegócios, em nossa visão, dada a expectativa de menor demanda chinesa (principal player), ainda sensível às consequências da Peste Suína Africana (PSA), e, especialmente, em razão das incertezas trazidas pelos acordos da guerra comercial entre EUA-China.
Este contexto, somado à expectativa de maiores custos e despesas para o setor, principalmente em razão de: (i) preços de insumos em patamares elevados; e (ii) maiores despesas logísticas, nos levam a uma visão mais conservadora para o setor, sem indicações top pick.
Açúcar & Etanol
Perspectiva Neutra – TOP PICK: SÃO MARTINHO
Os preços do açúcar estão em tendência de baixa, impactados por (i) preocupações com a guerra comercial entre EUA e China e seus impactos no crescimento global; (ii) estoques de açúcar ainda em níveis elevados; (iii) subsídios do governo da Índia para produtores de açúcar.
No entanto, ressaltamos que o biocombustível proveniente da cana pode ser mais utilizado no Brasil e na Índia, os dois maiores produtores mundiais, o que pode compensar parcialmente o excesso de oferta de açúcar. No Brasil, a demanda por etanol tem aumentado, dados os maiores preços médios do petróleo no mercado internacional.
Alimentos & Bebidas
Perspectiva Neutra – TOP PICK: MARFRIG e MINERVA
A Febre Suína Africana (FSA) na Ásia e em outros países da Europa trouxe oportunidades para os maiores produtores de carne no mundo. Nesse contexto, esperamos que as empresas mais diversificadas geograficamente tenham maior probabilidade de catalisar valor em 2020.
Levando em conta o número recente de novos frigoríficos autorizados a exportar carne para a China, Indonésia e Arábia Saudita, vemos Minerva e Marfrig como as empresas mais beneficiadas pelo cenário promissor para as exportações brasileiras e sul-americanas.
PERSPECTIVAS 2020-21: BB Investimentos
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