Caro Investidor!

No ‘after’ do estrago que a chinesa DeepSeek fez em plena segunda-feira (27) na bolsa dos Estados Unidos, fazendo as ações das Big Techs desabarem, seguimos aqui conversando sobre a recompra de ações. Dando continuidade ao assunto, conversamos com Pedro Marcatto, Operador de Renda Variável da B. Side Investimentos, que também falou sobre o pessimismo dos gestores. Adiantamos que essa estratégia das empresas tem o objetivo de bonificar você, investidor.

Recapitulando, na publicação anterior, o especialista em investimentos do Acionista, Gustavo Guerses, conta que os motivos para a onda da recompra de ações dos últimos tempos foram os valuations descontados e a oportunidade de aproveitar preços atraentes para gerar valor a seus acionistas. Para ele, conforme Guerses, este cenário diz muito sobre o pessimismo que parece que tomou conta de alguns gestores brasileiros. “Enquanto empresas estão comprando suas próprias ações, gestores, como é o caso do Fundo Verde, estão vendendo bolsas brasileiras.”

O que está levando a este pessimismo? De acordo com Pedro Marcatto, Operador de Renda Variável da B. Side Investimentos, esse comportamento vem do fiscal, com os gastos do governo acima do previsto, considerando que a meta da inflação é 3% e o relatório Focus projeta 5%, “ então a meta tornou-se utópica; a inflação acaba estressando a curva de juros porque é uma maneira da política monetária controlar a inflação, tirar dinheiro da economia, colocar dinheiro na economia; o que é também um custo de oportunidade para os ativos de renda variável”. 

Entretanto, além disso, há a alta de juros, que leva o investidor, com aversão ao risco, à renda fixa pelo retorno mais atrativo. “Neste cenário não há um fluxo muito favorável para as ações. Essa é visão dos gestores. A consequência do impacto da irresponsabilidade fiscal do governo acaba resultando em um movimento ruim para as ações. Ainda considerando que a ação negociada no mercado, nessa pressão de oferta e falta de atratividade de demanda acaba causando uma piora no preço dos ativos, levando a um excesso de de oferta em relação à demanda”, explica Marcatto.

O especialista também destaca outro ponto: a relação do custo capital das empresas, pois há muitas empresas endividadas e “acabam aumentando o custo de capital e a despesa financeira e isso leva a resultados ruins”.  No entanto, há exceções, empresas em boa situação, com caixa, menos dívidas, com menos alavancagem. Marcatto cita como exemplo o setor de varejo e empresas de aluguel de carros, que acabam tendo um capex, o capital para investir na expansão da empresa, na sua manutenção e operação. 

“Quanto mais recurso a empresa precisa para esses direcionamentos, é normal que ela acabe tendo um nível de alavancagem, pois tende a refinanciar, por exemplo, essa empresa de aluguel de carros tem muita renovação de frota; o varejo também. Assim a dívida se eleva, não há geração de caixa tão atrativa, logo, a despesa de capital vai aumentando e a empresa não consegue amortizar esse tipo de dívida.”

Outro setor que o especialista cita é o da construção civil, que impacta muito nos Fundos Imobiliários (FIIs). De acordo com Marcatto, são duas perspectivas: “há um grande dilema porque as empresas além de contraírem dívidas – há as que constroem e as que trabalham com sistema de permuta – que se deram melhor, mais alavancagem, há a questão que a compra de um imóvel reduz drasticamente porque são adquiridos via financiamento e tem uma queda na demanda no mercado e assim, as empresas do setor pioram seu fluxo de caixa”.

Por outro lado, Marcatto destaca que esse cenário é muito atrativo para o segmento de banco, principalmente para o private, carteira de crédito de alta renda, com menor risco de inadimplência, voltada para empresas mais perenes, mais sólidas e menos alavancadas. 

“Inclusive porque os juros altos corroboram para o aumento da receita financeira dos bancos, mesmo com o dilema da inadimplência. Mas o banco que tem melhor análise de crédito, que consegue mitigar esse risco, acaba favorecido pela alta taxa de juros, o que resulta em maiores receitas para o setor.”

Vale (VALE3), um exemplo na recompra de ações

Pedro Marcatto destaca a Vale (VALE3) como exemplo. De acordo com ele, é a empresa brasileira que tem o maior programa de recompra de ações e uma das maiores do mundo. 

“É uma ação que está barata, apesar do driver operacional do risco, não se vê muito driver de valor na Vale”, comenta.

E não tem como falar em Vale, sem falar na China. O mercado do país asiático está enfraquecido, com possibilidade de deflação este ano, segundo Marcatto, que ressalta que lá a sociedade é mais poupadora e menos consumista. “O minério de ferro, que grande parte dele está atrelado ao mercado da construção, é um setor que também está fraco no momento. A China é responsável por 70% da importação mundial de minério e teve uma queda de manda de 20% nos últimos três meses. Isso acaba impactando drasticamente a Vale”, afirma o especialista, “piorando a perspectiva de receita, mas a Vale é uma empresa totalmente eficiente”.

Isso porque é uma empresa boa geradora de caixa e negociando a múltiplos baixos. “Logo, a Vale está em um programa de recompra de ações porque a própria gestão da empresa julga que as ações estão baratas para comprar”, explica Marcatto. Segundo ele, neste caso, é de praxe que a empresa que tem caixa, comprar as ações para bonificar os acionistas. 

Para que serve a recompra de ações?  

A recompra de ações (também chamada em inglês de “buyback”) é um instrumento utilizado por empresas de capital aberto tanto para valorizar seus papéis quanto para remunerar seus acionistas. 

Depois de comprar as ações a preço de mercado, a empresa as mantém custodiadas em sua tesouraria ou as cancela. Com esse enxugamento realizado pelo emissor, diminui a oferta, ou seja, há menor quantidade de ações em circulação, o que tende a elevar o preço. Portanto, é uma estratégia da companhia para que a ação se valorize. 

Assim como a distribuição de dividendos, a recompra de ações também pode ser considerada como uma maneira de a empresa remunerar seus acionistas, só que de forma indireta. Afinal, quem possui as ações daquela empresa acaba ganhando com a valorização dos papéis promovida pela recompra. 

Quando a empresa recompra ações, o número total de papéis em circulação no mercado é reduzido, e com isso, cada ação restante passa a representar uma fração maior do patrimônio e dos lucros da empresa. Ou seja: o acionista acaba obtendo uma fatia maior do patrimônio da companhia. (Fonte: BB Investimentos/InvesTalk)

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