Caro Investidor!
Ainda estamos aqui falando sobre o cenário econômico incerto e até meio pessimista para este início de ano. Como dissemos no primeiro texto da nossa série Perspectiva 2025 (leia aqui), o ano é da serpente e requer paciência.
O aumento das taxas de juros e a falta de visibilidade sobre possíveis catalisadores de curto prazo indicam um início de 2025 difícil para as ações brasileiras, segundo os analistas do BTG Pactual. Sem falar de toda a desconfiança do mercado e de muitos brasileiros em relação ao pacote de gastos do governo lançado em novembro passado e que não ajustou tudo que deveria na opinião de muitos.
Para o economista-chefe da Nippur Finance, Cristian Pelizza, o cenário no Brasil é desafiador e com alguns pontos que devem ser trabalhados. Segundo ele, o primeiro que deve determinar o “andar da carruagem” é a questão fiscal.
“Houve o pacote de gastos, mas o mercado ainda está esperando alguma sinalização mais forte sobre esse controle. Ficou muito no ar, falta alguém abraçar a causa com mais vontade. O mercado desconfia que não existe o interesse em fazer ajuste. Com isso, com a inflação acelerando, acima da meta, o mercado passou a ter uma visão pessimista em relação ao ano”, explica Pelizza.
Ele acredita que a tendência é a taxa Selic passar dos 15% ao longo de 2025, diante de um crescimento econômico que deve reduzir o ritmo. “É difícil em um país com a estrutura do Brasil manter por muitos anos um crescimento de 3%, não é o normal. Então hoje se vê uma economia superaquecida, mas que deve ir esfriando ao longo do ano, dado os juros altos e a própria necessidade de ajuste fiscal”, comenta o economista.
Lá fora também não ajuda
A vitória de Donald Trump nas eleições dos EUA, assim como a vitória do seu partido, o republicano também no Senado e na Câmara, confirmou um cenário que aponta para taxas de juros de longo prazo mais altas.
Nesta conta também entra que o ciclo de flexibilização monetária nos EUA pode ser menos intenso do que o esperado originalmente. Nesse momento, depois de cair 100bps em 2024, a equipe macroeconômica do BTG Pactual projeta apenas mais um corte de 25 bps em 2025, levando a taxa de juros para 4,1%.
“Sem dúvida, as altas taxas de juros de longo prazo nos EUA podem manter as taxas de longo prazo pressionadas no Brasil, o que é um fator negativo para o desempenho das ações brasileiras. Neste momento, o prêmio entre as taxas reais de longo prazo do Brasil e dos EUA é de 5% (7% no Brasil vs. 2% nos EUA), em linha com a média histórica”, comentam os analistas.
Eles ainda recordam que em períodos de maior estresse, como na recessão de 2015/2016, o prêmio foi em média de 6% e atingiu um pico de mais de 7% em setembro de 2015.
Já na China, o esperado pacote de estímulos decepcionou. “O recente anúncio carece de medidas para suportar o consumo, além de não oferecer garantias de que os mercados imobiliários se estabilizaram.”
Ibovespa 2025
Nas palavras de Cândido Piovesan, trader da mesa de renda variável da Nippur Finance, é impossível falar do Ibovespa sem comentar a derrocada de 2024. “Uma desvalorização de 10,86 no ano e querendo ou não ainda vive essa ressaca para o início de 2025.”
De acordo com o especialista, a perspectiva é de uma postura mais defensiva, priorizando empresas de saneamento básico, bancos, commodities e com foco em empresas de baixa alavancagem.
“Buscando a proteção contra a inflação e priorizando a receita em dólar. Nesse cenário, essas empresas são ideais. Então, apesar das ações estarem baratas e em patamares de pandemia, o fundamento ainda continua muito sólido, pois tem empresas gerando caixa”, comenta. Além disso, ele acredita que a possível sucessão da alta da Selic e a pressão fiscal ainda sugerem priorizar o capital.
Conforme Piovesan, as ações baratas acabaram desencadeando muita recompra de ações pelas companhias e isso sinaliza que o mercado não está em um patamar muito atraente para compra.
“Hoje eu percebo que muita dessa pressão política e o estresse interno já precificado, mas agora o alerta fica pro cenário externo. Com a chegada do Trump, o cenário fica mais nebuloso, ainda mais para os emergentes. Então o que se pode esperar é bastante volatilidade.É preciso apertar o cinto porque esse início do ano vai ser bem volátil”. afirma o trader.
BTG recomenda cautela
De acordo com os analistas do BTG Pactual, no atual momento, a recomendação é que os investidores posicionem seus portfólios de “forma mais defensiva e se concentrem em ações geradoras de caixa, pagadoras de altos dividendos e empresas que ganham com a exposição cambial em dólar, enquanto sugerimos a redução da exposição a varejistas, empresas alavancadas e ações com fluxo de caixa concentrados no longo prazo”.
Eles reconhecem que alguns investidores podem estar olhando para além da atual situação política e econômica e esperando mudanças mais profundas nos próximos anos, talvez após as eleições presidenciais de 2026.
“Esses investidores provavelmente estariam procurando ações domésticas de alta qualidade que tiveram um desempenho inferior recentemente. Para esses investidores, sugerimos as seguintes ações: Localiza, Renner, B3, Rede D’Or, Equatorial, Energisa, Cyrela. Nossas principais escolhas (iniciais) para 2025: Petrobras, Itaú, Sabesp, Copel, WEG, Suzano, BB Seguridade, TIM, Cyrela, Marcopolo, Equatorial, Eletrobras, Mercado Livre, Klabin, Banco do Brasil, JBS, Embraer, PetroRio.”
(Colaborou na produção: Márcia Sobotyk)