Câmbio
O dólar à vista encerrou a sessão da segunda-feira (25) em leve queda, refletindo a dinâmica externa de redução da percepção de risco. Seja por menor temor geopolítico ou pela perspectiva de medidas mais graduais no novo governo de Donald Trump, o dólar perdeu espaço principalmente na Europa, tanto contra moedas de mercados desenvolvidos quanto contra emergentes. Já em outras regiões, o dólar seguiu forte, principalmente frente a moedas emergentes fora da Europa e de mercados ligados a commodities.
O dólar fechou a terça-feira (26) praticamente estável ante o real, com o mercado ainda à espera do pacote de medidas fiscais do governo Lula, enquanto no exterior a moeda norte-americana avançava ante boa parte das demais divisas de emergentes, em meio às promessas do presidente eleito dos EUA, Donald Trump, de elevar tarifas de importação. O dólar à vista fechou o dia com leve alta de 0,10%, cotado a 5,8096 reais. Em novembro, a divisa acumula elevação de 0,49%. Temos um pacote fiscal que parece estar vindo, um petróleo que chegou a subir, um minério de ferro subindo, com açúcar e café em alta.
O dólar comercial bateu recorde nominal desde a criação do Plano Real na quarta-feira (27). Fechou aos R$ 5,91, com investidores atentos ao possível anúncio do aumento da isenção do IRPF (Imposto de Renda da Pessoa Física) para trabalhadores que recebem até R$ 5.000. A cotação da moeda norte-americana estava próxima de R$ 5,84 antes das informações rodarem os agentes financeiros. Subiu de R$ 5,84 às 13h40 para R$ 5,90 às 14h10, em menos de 30 minutos. Na máxima, atingiu R$ 5,93. O valor de R$ 5,91 supera a máxima nominal histórica para o fechamento (quando se encerram as negociações do dia), registrada em 13 de maio de 2020 (R$ 5,90), durante a pandemia de COVID-19. Naquele dia, a moeda norte-americana atingiu R$ 5,95 na máxima. Em 14 de maio de 2020 (no dia seguinte), registrou R$ 5,97 na máxima, mas encerrou o dia aos R$ 5,82. A questão da taxação dos super-ricos e da isenção do imposto de renda para quem ganha até R$ 5.000 deveria vir dentro de um pacote maior sobre a reforma tributária da renda.
A cotação do dólar superou, na quinta-feira (28), pela primeira vez na história, o patamar de 6 reais no Brasil, após o governo anunciar um ajuste fiscal de 70 bilhões de reais até 2026. Por volta das 13h15, o dólar era cotado a 6,0004 reais. Já de acordo com o site do Banco Central, às 15h00, a cotação estava em 5,99. Desde que o real entrou em circulação, em 1994, a moeda americana nunca havia atingido esse valor, de acordo com a série estatística do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada. Tudo isso reflete a frustração do mercado com o pacote de corte de gastos apresentado na quarta-feira (27) pelo Ministro Fernando Haddad.
A recente alta tem sido impulsionada por incertezas fiscais e políticas, especialmente no contexto das reformas tributária e fiscal que o governo federal busca implementar, além de questões internas como a condução das políticas econômicas pelo governo Lula e a percepção de instabilidade política no Brasil. A elevação da taxa do dólar também pode ser explicada pelo contexto global, com um aumento da aversão ao risco no mercado internacional, que tem levado os investidores a buscar ativos mais seguros, como o dólar.
A combinação de um cenário doméstico de incerteza fiscal e um panorama internacional volátil tem pressionado a moeda brasileira para baixo, apesar das políticas monetárias do Banco Central, que tenta controlar a inflação com taxas de juros ainda elevadas. A expectativa é que o dólar continue a apresentar uma volatilidade elevada até que o governo consiga demonstrar mais clareza em relação a suas políticas fiscais e econômicas. O mercado deve continuar cauteloso, monitorando as movimentações políticas e fiscais no país, já que a percepção de um desajuste fiscal, que pode gerar novos déficits, impacta diretamente a confiança do investidor no real.
Em suma, o dólar se aproximando de R$ 6,00 é um reflexo de um cenário de desconfiança quanto à sustentabilidade fiscal do Brasil e à estabilidade política do país, com a moeda americana funcionando como um termômetro da instabilidade econômica e política interna.
O mau humor do mercado financeiro com o pacote de corte de gastos apresentado pelo governo federal, que levou o dólar ontem à casa dos R$ 6, se mantém nesta sexta-feira (29). O dólar abriu em alta novamente e atingiu a casa dos R$ 6,11 às 10h15. É o maior patamar histórico, em termos nominais. Os juros futuros também sobem: os DIs para janeiro de 2026 e 2027 têm taxas acima de 14%.
Economistas contestam a economia de R$ 71,9 bilhões anunciada. A economia do pacote deve ser de 62% do valor anunciado, ou cerca de R$ 45 bilhões.
O Itaú Unibanco calcula um potencial de economia de R$ 53 bilhões nos próximos dois anos, 2025 e 2026, enquanto, nas contas da Monte Bravo, as medidas resultarão em uma contenção de despesas em torno de R$ 40 bilhões a R$ 45 bilhões. Por volta das 13h30, a moeda americana era cotada a R$ 5,99. A proposta representou uma perda de oportunidade por parte do governo. O bom momento da economia, com desemprego em queda e crescimento do Produto Interno Bruto acima do esperado, poderia ser aproveitado para elevar a arrecadação e conter os gastos, melhorando a solvência.
Ibovespa
Na segunda-feira (25), o Ibovespa manteve a toada das últimas semanas e, mais uma vez, operou entre perdas e ganhos, com investidores à espera do anúncio do pacote fiscal.
O Ibovespa operou em alta na terça-feira, 26, com investidores ainda aguardando a divulgação do pacote fiscal que será apresentado pelo governo. A expectativa de inclusão do Vale Gás e de limitação dos supersalários melhorou a perspectiva com o pacote, levando a um recuo dos juros futuros. No exterior, as bolsas americanas perderam força depois da divulgação da ata do FED. A ata do FOMC trouxe sinais de que ainda existe muita incerteza sobre a taxa neutra dos EUA.
O Ibovespa operou em queda na quarta-feira (27), de 1,42%, aos 128.008,44 pontos, às 16h24 (de Brasília). A principal referência da B3 oscilou entre máxima de 130.282,83 pontos e mínima de 127.767,82 pontos.
Além da piora das bolsas americanas, o mercado reagiu aos relatos de que o governo anunciaria a isenção de Imposto de Renda (IR) para quem ganha até R$ 5 mil, no mesmo dia em que tentou fechar o pacote de corte de gastos com o Congresso. No mínimo, não é o momento mais adequado para sinalizar uma medida assim, que piora o déficit fiscal.
O Ibovespa, na quinta-feira (28), enfrentou uma queda de mais de 1%, posicionando-se em 126 mil pontos. A situação foi agravada pela menor liquidez, influência do feriado nos Estados Unidos, que aumentou ainda mais a volatilidade no mercado financeiro brasileiro.
O Ibovespa (IBOV) abriu o pregão desta sexta-feira (29) em alta. O principal índice da bolsa brasileira subia 0,09%, a 124.722,13 pontos, por volta de 10h04. Após a divulgação do pacote de corte de gastos, o governo precisará se empenhar para recuperar a credibilidade perdida — devemos ver medidas adicionais em breve. O problema não foi o pacote em si ou a falta de interesse do mercado pela isenção, mas sim a forma como ele foi apresentado.
Por Luiz Felipe Bazzo é CEO do transferbank, uma das 15 maiores soluções de câmbio do Brasil. O executivo também já trabalhou em multinacionais como Volvo Group e BHS. Além disso, criou startups de diferentes iniciativas e mercados tendo atuado no Founder Institute, incubadora de empresas americanas com sede no Vale do Silício. O executivo morou e estudou na Noruega e México e formou-se em administração de empresas pela FAE Centro Universitário, de Curitiba (PR), e pós-graduado em finanças empresariais pela Universidade Positivo.