Novos áudios revelados pela Polícia Federal (PF) destacam o general Mário Fernandes como um dos principais articuladores da tentativa de golpe de Estado contra o governo Lula.

As mensagens mostram sua atuação para unir militares, líderes de protestos e integrantes do governo de Jair Bolsonaro em um plano golpista que incluía atos violentos e tentativas de divisão nas Forças Armadas.

Ligação direta com Bolsonaro

As investigações apontam que Mário Fernandes estava diretamente ligado ao então presidente Jair Bolsonaro durante o planejamento dos atos golpistas.

Em áudios enviados ao general Braga Netto e ao tenente-coronel Mauro Cid, o militar relata reuniões no Palácio da Alvorada, onde discutiu “medidas” que deveriam ser tomadas antes da posse de Luiz Inácio Lula da Silva.

Um dos áudios, de 8 de dezembro de 2022, registra Mário dizendo:

“O presidente enfatizou que o dia 12 (de dezembro) não é uma preocupação grande por causa da diplomação do vagabundo. E que teria tempo até o dia 31 para tomar qualquer medida.”

Entusiasmo do general com a violência

Além de seu papel organizador, os áudios mostram que o general Mário Fernandes celebrava atos violentos.

Em dezembro de 2022, após protestos que resultaram em destruição nas imediações da Polícia Federal em Brasília, Mário enviou mensagens ao coronel reformado Reginal Vieira, conhecido como Velame:

“Tu viu que já começaram a radicalizar, né? A prisão do cacique ali já levou. (…). O pau tá comendo. Os distúrbios urbanos já iniciaram. Agora vai rolar sangue.”

Divisão nas Forças Armadas

As conversas também indicam que Mário Fernandes tentou mobilizar apoio entre as Forças Armadas, mas encontrou resistência. Em diálogo com o general Roberto Criscuoli, ele apontou um racha entre os militares:

“O que eu tenho notícias sobre o alto comando, os quatro estrelas, há um racha, certo? Praticamente meio a meio.”

A PF identificou que apenas o comando da Marinha havia manifestado apoio ao plano golpista, enquanto o Exército e a Aeronáutica mantinham posições divididas ou contrárias.

Outro aspecto marcante dos diálogos é o desprezo de Mário pelas declarações públicas de Bolsonaro sobre respeito às “quatro linhas da Constituição”. Em uma conversa com aliados, o general declarou:

“Eu já dei uma bicuda nessas quatro linhas há muito tempo.”

Referência ao golpe militar de 1964

Mário Fernandes também fazia referência direta ao golpe de 1964, que instaurou uma ditadura militar no Brasil. Em um áudio, ele comparou manifestações organizadas por ele à “marcha de 64”, que apoiou o golpe militar da época.

“Porra, a gente vai tentar mobilizar uma marcha por aqui, tá? Ainda essa semana, como a marcha que aconteceu em 64.”

Operação Contragolpe e indiciamentos

Mário Fernandes foi preso em 19 de novembro de 2024 durante a Operação Contragolpe, que resultou no indiciamento de 37 pessoas, incluindo o próprio Jair Bolsonaro.

As investigações revelaram que o general Mário foi uma das peças centrais da tentativa de golpe, que incluía até planos para atentar contra a vida do presidente Lula, do vice-presidente Geraldo Alckmin e do ministro do STF Alexandre de Moraes.

O ex-presidente Jair Bolsonaro, que também foi indiciado, reagiu às conclusões da PF em entrevista ao Metrópoles:

“A equipe de Alexandre de Moraes usou da criatividade para conseguir acusar. Faz tudo o que não diz a lei.”

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