Em algumas das minhas empresas, conto com profissionais de RH formados em psicologia, que me diziam que as coisas precisavam funcionar “na base do amor”. São pessoas que chegavam com muita teoria e pouca compreensão do que era sentar na minha cadeira. Com o passar do tempo, meses, anos, eu via aquela psicologia ir para o ralo. Infelizmente, muitas vezes você precisa ser duro, exigir muito e colocar uma boa pressão.

Na gestão de pessoas, eu gosto muito do conceito de full transparency, que em tradução livre significa “transparência total”. Esse é um princípio que preza pela clareza em todos os processos e decisões dentro de uma organização e, quando ela é efetiva, permite que cada indivíduo tenha acesso a informações relevantes do negócio, além de eliminar ruídos de comunicação.

Existem alguns instrumentos que ajudam a aplicar a full transparency como relatórios de desempenho, feedback de funcionários, planilhas compartilhadas com status de projetos, acesso ilimitado e prestação de contas de todos os envolvidos. Do ponto de vista do engajamento, é preciso responsabilização por ações e decisões, envolvimento e participação.

Agora você deve estar se perguntando: “Bruno, você acha que não dá para aplicar a full transparency com base no amor? Pedindo com carinho?”. Eu acredito que não. O princípio exige muita honestidade. É só com uma honestidade sem filtros que se constrói um ambiente de segurança para todos. Com operações e decisões às claras, é mais fácil criar um espaço de confiança e credibilidade.

Quer que eu te dê um exemplo de honestidade que pode ferir? Vamos supor que você é um líder que precisa passar uma tarefa para um funcionário específico. A regra é se comunicar sem esconder objetivos e intenções para que não existam conflitos. Acontece que nem todas as tarefas são grandiosas, estratégicas, enriquecedoras. Muitas vezes, você precisa passar uma tarefa para alguém para desafogar a si mesmo. Desafogar outro colaborador. A tarefa pode ser apenas distrair um cliente. Ou pode ser uma tarefa apenas para testar as habilidades do funcionário. Quantas vezes você já se viu inventando desculpas para engajar um funcionário em uma “tarefa non grata”? Eu não gosto disso.

Sem falar que, em muitos casos, a rotina de trabalho já é extremamente estressante. Apesar de todo mundo ser passível de cometer erros, nessas situações, os ajustes de desempenho precisam ser corrigidos urgentemente. Falta tempo para desenvolver um roteiro cheio de “conversinha mole”.

Supondo que você queira trabalhar com honestidade, com transparência, mas não queira viver permanentemente em guerra. O que precisa ser feito? O momento da cobrança, da pressão, da bronca, é sempre a cereja do bolo de um monte de situações que poderiam ter sido evitadas. Sem que as metas e expectativas estejam claras desde o início, é impossível acreditar que o resultado será satisfatório. Só se o seu funcionário tiver uma bola de cristal. Os prazos também precisam ser bem estabelecidos e o colaborador deve entender a importância deles. Forneça feedbacks imediatos e diretos, documente tudo e reforce as consequências. Em algumas situações, é importante que o líder ofereça recursos e suporte, como treinamentos e ferramentas tecnológicas, além de fazer reuniões periódicas para revisão de processos.

Pensando que tudo falhou miseravelmente e chegou aquele momento crucial em que você terá que cobrar resultados do time de uma forma dura. Também há maneiras de tornar a “bronca” mais profissional. Esteja preparado. Tenha em mãos os pontos que precisam ser abordados, as informações, os dados, os objetivos a serem alcançados. Não faça generalizações e seja específico sobre o que não está funcionando. Explique as consequências, defina os prazos e seja firme.

Na minha opinião, as pessoas preferem ter um chefe justo do que um chefe bonzinho. Um gestor consistente, que lidere pelo exemplo. O objetivo nunca é criar um ambiente de trabalho hostil, mas um espaço com limites bem estabelecidos, direcionado ao progresso, que valoriza bons comportamentos, premia desempenhos extraordinários e favorece o crescimento profissional de todos. Um chefe não precisa ser bonzinho se consegue solucionar problemas, ter empatia e manter relações iguais entre membros da equipe. A saúde mental também pode ser muito impactada pelo estresse acumulado por confrontos evitados.

Para finalizar, eu quero dizer que não acredito nem no amor e nem no ódio ao estabelecer relações de trabalho justas e produtivas. Para mim, a palavra de ordem é respeito – e ele é inegociável.

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