Começa nesta quinta-feira (22) o seminário de Jackson Hole. Realizado em todos os verões desde a década de 1980, o que começou como uma discussão sobre os rumos do financiamento agrícola americano quase meio século atrás tornou-se um dos eventos mais importantes das finanças mundiais.
Flávio Conde, analista da Levante Investimentos, explica que o encontro tornou-se “uma oportunidade para que os principais banqueiros centrais, como o presidente do Federal Reserve (FED) e o do Banco Central Europeu (BCE), indiquem ao mercado o que esperar para os próximos meses”.
Não são encontros tão formais quanto as reuniões de política monetária, mas são mais sérios do que entrevistas à imprensa ou participações em seminários, pois trata-se de um evento oficial do FED.
Conde relata que a tradição de alinhar expectativas em Jackson Hole começou em 1989, com Alan Greenspan.
“Houve pronunciamentos relevantes em 2012, quando o então presidente do FED, Ben Bernanke, aproveitou o evento para anunciar a terceira rodada do programa de flexibilização quantitativa (Quantitative Easing, QE)”, pontua.
Dois anos depois foi a vez de Mario Draghi, ex-presidente do BCE, anunciar durante a reunião no Wyoming que ocorreria algo semelhante, mas na zona do euro.
Agora, investidores aguardam que Jerome Powell, atual presidente do FED, aproveite o tema principal do evento deste ano, sobre a “Eficiência e Transmissão da Política Monetária”, para dar pistas sobre a decisão de juros na próxima reunião do Federal Open Market Committee (Fomc), o COPOM americano, em setembro.
No entanto, o evento pode frustrar algumas expectativas.
“Powell tem dado poucas pistas nas edições mais recentes do simpósio. Em 2022, ele discursou por menos de 10 minutos e não sinalizou que o FED estava pronto para levar os juros americanos ao nível mais elevado em 24 anos. Em 2023, ele também não indicou que os Fed Funds permaneceriam onde estavam”, relembra Conde.
A economia americana está em uma situação indefinida. Alguns indicadores de emprego mostram uma desaceleração suave do nível de atividade, ao passo que outros revelam uma economia que caminha para a recessão.
“Não há um cenário obvio. Por isso, a política monetária vai depender da interpretação do FED — o que o mercado espera ouvir”, conclui.