Em ata divulgada nesta quarta (21), o Federal Reserve (FED) afirmou que os membros estão dispostos a diminuir os juros na próxima reunião, em setembro, caso os dados dos EUA continuem vindo positivos e sem surpresas, por conta da desaceleração do crescimento do emprego e da redução da inflação. Na última reunião, em julho, as taxas foram mantidas inalteradas em 5,25% e 5,5%. Depois disso, números do mercado de trabalho mais fracos do que o esperado e dados mostrando uma inflação mais controlada aumentaram a chance de corte nas taxas.

Kaique Fonseca, economista e sócio da A7 Capital, afirma que a economia americana é referência mundial e que quando o juro americano cai, abre espaço para outras economias reduzirem também o nível de juros.

“Como os EUA são o porto seguro do mundo, se a economia paga uma taxa de juros muito parecida ou maior do que o restante das economias, que são consideradas mais arriscadas, a tendência é, ainda assim, todo mundo emprestar dinheiro para a economia mais forte do mundo, os EUA. Então, é uma dinâmica de mercado. Existem economias que pagam até um pouco menos do que os Estados Unidos, mas aí elas acabam sofrendo em termos de moeda, porque acaba saindo muito o recurso desse país para investimento de recursos nos Estados Unidos. Então, quando eles mexem nos juros, outros países do mundo tendem ali a seguir pelo menos o movimento”, explica.

O economista acredita que, com os Estados Unidos diminuindo juros, existe uma possibilidade de diminuição da pressão nas curvas de juros. E, com isso, é possível que o patamar de juro real seja menor do que a média de 6% atual. Ele também destaca que há outras razões para esse juro alto.

“Esse é um patamar alto na minha opinião. E está em patamares elevados por dois grandes motivos. O juro no restante do mundo está elevado e o nosso ainda mais por conta do nosso risco fiscal, ou seja, o governo gastando mais, e, com isso, é preciso financiar esse gasto. Então, emitir cada vez mais dívida. E se eu emito cada vez mais dívida, o investidor vai exigir cada vez mais retorno. E o segundo ponto é que esses gastos do governo, ou seja, essa pouca preocupação com o fiscal, também impacta as expectativas. E hoje as expectativas de inflação estão fugindo do ponto da meta, que é os 3%” , afirma Fonseca.

Já para Lucas Ghilardi, especialista em mercado de capitais e sócio da The Hill Capital, não adianta o FED baixar 50/100bps até o final do ano e a inflação brasileira e gastos do governo aumentarem. “O ponto, novamente, é que o que realmente vai precificar os títulos públicos no Brasil é o fiscal e a condução da política monetária brasileira. Nesse momento, acho que um corte de juros nos EUA deverá influenciar levemente as taxas aqui, mas não muito. O impacto mesmo da queda de juros lá será na bolsa, com a fuga de investidores dos EUA para países emergentes como o Brasil”, diz.

Nesse cenário, de acordo com o especialista, as estratégias mais promissoras em renda fixa atualmente são as de IPCA+, tanto para investidores conservadores quanto para os mais arrojados. “Quanto aos títulos prefixados, que muitas vezes parecem atraentes, a análise da última ata do COPOM não revela uma oportunidade excepcional de investimento. Para essa classe de ativos, faz mais sentido alocar em papéis com duration mais curta, em torno de 2 anos. Atualmente, é mais interessante buscar CRAs, CRIs ou Debêntures com rating AAA, remunerando entre 11% e 12,5% para 2027/2028, do que investir em uma LTN com rendimento bruto de 11,38% (venc. 2027)”, exemplifica.

Ghilardi afirma que, nos EUA, com os patamares atuais de taxa dos treasuries, o cenário ainda é atrativo para investir no país. “Quando olhamos para os prêmios em renda fixa americana, historicamente estamos em um patamar pouco explorado nos últimos 15 anos. Hoje, com bonds de bancos americanos remunerando acima de 5,5% a.a. em dólar, ainda acredito que é uma ótima opção para os brasileiros”, diz.

Títulos públicos dos EUA

Kaique Fonseca acredita que investir nos títulos públicos dos Estados Unidos ainda vale a pena e traz diversas vantagens para a carteira dos brasileiros: “os Treasuries (de prazo intermediário) já pagaram acima de 4% ao ano e hoje remuneram cerca de 3,9%, o que ainda é alto considerando as médias da última década; é uma oportunidade de diversificação geográfica e de moeda, além de oferecer retorno interessante”. Ele diz que as taxas “estão muito próximas de uma reprecificação” para baixo e os rendimentos nesses patamares “não devem durar muito”.

Pensando em Brasil, para Fonseca, a queda dos juros americanos tira uma parte da pressão sobre a curva de juros brasileira, e ainda pode impactar a renda fixa. Ainda é possível comprar títulos intermediários do Tesouro IPCA+ com juro real de pelo menos 5,8%. Fonseca diz que faz sentido comprar papéis de inflação com vencimento entre 8 e 12 anos “para aproveitar o juro real”.

(Enviado por SHZ Agência)

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