Morando há um bom tempo nos Estados Unidos, vejo diferenças fundamentais na maneira em que brasileiros e americanos lidam com a questão da confiança. Antes de apresentá-las, eu acho importante reforçar que toda relação que estabelecemos na vida depende de uma espécie de “crença no outro”. A qualidade de um relacionamento está subordinada ao grau de confiança que se estabelece entre as partes. É assim dentro de um casamento, é assim no mercado de trabalho.
Pessoas que confiam umas nas outras tendem a se comunicar melhor, pois sentem-se seguras para expressar suas opiniões. Isso cria um ambiente de trabalho positivo, fazendo com que todos colaborem entre si, com mais engajamento, motivação e eficácia. O resultado cotidiano e prático das relações interpessoais qualificadas é produtividade e eficiência nas tarefas. Em estabelecimentos comerciais, como lojas e restaurantes que tratam diretamente com o público, esse clima organizacional é essencial e capaz de operar verdadeiros milagres, atraindo clientes e parceiros.
No entanto, todo e qualquer negócio se beneficia da confiança mútua entre seus colaboradores. Veja o exemplo de uma casa de análise, que precisa interpretar pilhas de dados, fazer comparações e projeções para poder tomar decisões tão arrojadas quanto arriscadas. Neste cenário, só é possível explorar novos caminhos com confiança. É como se ela fosse o solo fértil de onde brotam as decisões inovadoras e assertivas de seu grupo de analistas.
Para encerrar meu argumento, nenhum empreendimento está livre de conflitos e de passar por períodos difíceis. Nestas situações, que costumam agredir empresas e empresários, a confiança organizacional, mais uma vez, se mostra uma poderosa aliada. Funcionários que confiam em seus líderes, processos e sistemas, tendem a demonstrar uma maior resiliência. Isso também resulta em uma retenção de talentos expressivamente melhor, fazendo com que as partes se sintam seguras até mesmo para expressar preocupações e dar sugestões para a resolução de problemas.
Acredito que, neste momento, eu já tenha te convencido sobre a importância de abordar a questão da confiança no desenvolvimento de carreiras. Na minha opinião, ela é um processo gradativo, que leva tempo e que, em geral, depende de “testes” que colocam o comportamento das pessoas à prova. Não acredito que seja possível começar uma relação já atribuindo confiança. Ela deve ser conquistada ao longo do tempo por ambas as partes. A gente confia em quem a gente reconhece valor, seriedade, poder de execução e realização de uma tarefa. Em resumo: a gente confia em quem a gente acha que vai resolver a parada. E eu posso confiar em uma pessoa para diferentes propósitos e aspectos.
O brasileiro, por exemplo, tende a estabelecer confiança por meio de uma comunicação mais sutil. Ele se ofende com críticas abertas e um feedback direto. Além disso, as conexões pessoais ganham muito valor. Quer um exemplo? Reflita sobre a importância que almoços de trabalho e encontros informais têm para as equipes no Brasil. A confiança do brasileiro vai se consolidando por meio de conexões emocionais e sociais. É assim, pois nossa cultura é coletivista.
Já para o americano, transparência é a base de tudo. Toda comunicação deve ser clara e direta e o feedback crítico é muito valorizado, pois é considerado uma forma de promover melhoria contínua. Diferentemente do Brasil, a cultura individualista dos Estados Unidos aprecia competências individuais, por isso é mais fácil confiar em alguém a partir de habilidades e realizações. O americano também tende a construir relações de confiança em torno de objetivos em comum e avaliar o sucesso desse relacionamento a partir de resultados.
Se você deseja conquistar um parceiro de trabalho brasileiro, invista em conversas informais e mostre genuíno interesse em suas experiências de vida. Compartilhe histórias pessoais e participe de atividades sociais como forma de demonstrar comprometimento. Para completar, tenha flexibilidade para ajustar planos, prazos e expectativas. Agora, se você está negociando com um americano, seja sempre direto e claro na abordagem, mostre suas habilidades e conhecimentos de maneira concreta e cumpra suas promessas. Esteja aberto para receber críticas e agradeça o feedback de forma respeitosa. Por fim, nunca se atrase.
O brasileiro costuma entrar na relação considerando que a confiança está implícita. Com o americano é exatamente o oposto. Ele não confia em você e sabe que você também não confia nele. Entender essas diferenças culturais é cada vez mais importante neste ambiente de trabalho multicultural que estamos vivendo hoje. Tanto o brasileiro quanto o americano valorizam muito a confiança, apesar de encontrarem métodos diferentes para expressá-la. E você? Se identifica mais com brasileiros ou americanos na questão da confiança?