No topo das tendências coorporativas de sustentabilidade, está a sigla ESG (Environmental, Social and Governance – Ambiente, Sociedade e Governança) a qual tem ganhado destaque no mundo empresarial e nas discussões sobre sustentabilidade global quando o tema é adaptação das cadeias de produção. Porém, a validade do real impacto que ela opera tem sido colocada em questão.
O conceito de ESG passou a ser formalmente adotado em 2004, quando 50 CEOs de grandes instituições financeiras foram convidados pelo então secretário-geral da ONU, Kofi Annan, para desenvolver diretrizes que buscavam integrar aspectos ambientais, sociais e de governança para o mercado de capitais. O resultado foi o relatório “Who Cares Wins” ( “Ganha quem se importa”) lançado pelo Pacto Global da ONU, no qual foram estabelecidas as bases para as práticas ESG que conhecemos na atualidade.
Alguns estudos e relatórios recentes fornecem um panorama dos impactos das práticas ESG nas empresas, como por exemplo, um relatório da Morgan Stanley de 2020 revelou que, entre 2004 e 2018, empresas com práticas ESG mais robustas superaram as que não tinham tais práticas em cerca de 2,5% ao ano. Além disso, um estudo do Instituto de Finanças Internacionais (IIF) em 2021 apontou que empresas com alta pontuação ESG apresentaram menor volatilidade nas ações e menores riscos financeiros a longo prazo. Isso se deve também ao índice de sustentabilidade empresarial que auxilia essas empresas a pontuarem nas bolsas de valores.
No entanto, há críticas válidas sobre o ESG. Um dos maiores desafios é a falta de padronização nas métricas e nos relatórios. Muitas empresas podem alegar práticas ESG sem a devida comprovação, fenômeno conhecido como “greenwashing“. Essa prática engana consumidores e investidores, criando uma falsa percepção de sustentabilidade.
Além disso, a pressão para atender a critérios ESG pode levar empresas a priorizarem metas de curto prazo em detrimento de mudanças estruturais mais profundas e necessárias. A pesquisa da Harvard Business Review, de 2019, destacou que muitas empresas focam em iniciativas de “baixo impacto”, como a redução de resíduos em escritórios, enquanto ignoram ações mais complexas e de maior impacto, como a transformação de suas cadeias de suprimento.
Para determinar se o ESG é uma ferramenta eficaz ou uma ilusão, é preciso examinar os resultados a longo prazo e a autenticidade das práticas adotadas. O verdadeiro impacto do ESG depende da integridade com que as empresas implementam essas práticas e da eficácia dos mecanismos de verificação e transparência.
O ESG possui o potencial de promover uma mudança significativa, desde que não seja tratado apenas como um modismo. A sustentabilidade real exige compromisso contínuo e ações concretas que vão além dos relatórios anuais e das campanhas publicitárias. O papel de pesquisadores, reguladores e da sociedade civil é fundamental para monitorar e garantir que as promessas do ESG se traduzam em práticas que beneficiem o meio ambiente e a sociedade como um todo.
Essa prática não é a única solução para todos os problemas ambientais e sociais, mas representa um passo importante na direção de um futuro com menos impacto, se for aplicada da forma correta. Para que o ESG deixe de ser uma ilusão e se torne uma realidade transformadora, é necessário um esforço coletivo para garantir a transparência, a responsabilidade e a autenticidade das práticas adotadas pelas empresas.
Por Larissa Warnavin, geógrafa, mestre e doutora em Geografia. Docente da Área de Geociências do Centro Universitário Internacional Uninter.