Jerome Powell é sempre muito cuidadoso com as colocações e com as palavras. Certamente isso é parte da personalidade dele e parte de um eventual trabalho de assistentes pessoais muito preparados. Ele nunca se expõe. Diferentemente do presidente do Banco Central, que, notoriamente, às vezes se permite ser pego em comentários e situações políticas, Powell se mantém absolutamente distante de qualquer situação como essa; não só nas respostas, mas também seria absolutamente impossível ficar sabendo que ele teve contato pessoal com qualquer político, seja de um partido ou de outro, em um ambiente não representando o banco central.

O segundo ponto é que essas audiências, por mais que os poderes estejam ali se supervisionando – neste caso o Senado supervisionando o Banco Central – têm uma perspectiva política muito grande. Muitos dos senadores trazem questões de uma forma muito populista ou tendenciosa. De qualquer forma Powell repetiu o que já vem falando, que não tem sido fácil lidar com a inflação.

Por mais que eles desejem e estejam esperando, a inflação ainda não convergiu para os 2%, embora ela tenha cedido. Ele reconhece e nunca deixa de falar, e mais uma vez ratificou isso no Senado, que o desafio é encontrar o melhor momento para baixar os juros. Porque se for cedo demais, ele pode atrapalhar a queda da inflação, ou até mesmo, num pequeno grau, estimulá-la e, se for tarde demais (a redução dos juros), ele pode fazer com que a economia desacelere mais do que o desejado.

Os senadores questionaram muito. Entre essas questões eu destacaria ‘quando os juros caem’. E o presidente do Fed foi muito cauteloso em dizer que não quer especular em relação ao ‘quando’ ao ‘tempo’ ou ‘prazo’. Eles trouxeram, numa perspectiva bem política, o quanto essa situação econômica foi nociva aos pequenos bancos e quanto o aumento do custo de vida dos americanos vem fazendo com que as famílias vivam com o dinheiro contado.

Os senadores também exauriram Powell fazendo comparações com a conduta de outros bancos centrais de economias desenvolvidas. E ele se saiu muito bem, porque, logicamente, comparados a outras economias desenvolvidas, os Estados Unidos seguem indo muito bem.

O fato é que não teve nada de realmente novo, porque o cenário continua sendo o mesmo e os personagens também. De um lado o Senado, com apelo político, do outro Powell, com uma conduta totalmente profissional e muito cuidadoso; e o terceiro personagem a própria economia, que não vem apresentando nenhuma mudança drástica. Ela vem lentamente desaquecendo, mas não há novo dado que tenha saído nas últimas semanas.

E eu não vejo que esse discurso do Powell vá gerar qualquer impacto na economia brasileira porque não houve nenhuma mudança de expectativa ou de tom. Por não ter nenhuma novidade, consequentemente, não cria nenhum impacto diferente do que já vem existindo.

Por Bruno Corano, economista e investidor da Corano Capital

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