Remanescente dos velhos tempos, o consórcio sempre foi uma opção para se obter algum bem a longo prazo ou, tendo sorte, receber este bem mediante sorteio antes mesmo de terminar as mensalidades. Depois de um tempo deixado de lado, ele volta aos holofotes e é considerado uma forma de investimento, segundo os especialistas ouvidos pelo Acionista, que publica o primeiro texto da série de três. Os outros dois serão: vantagens e desvantagens do consórcio e como escolher certo para não cair em golpes.
De acordo com a Associação Brasileira das Administradoras de Consórcio (ABAC) um levantamento recente mostrou que no comparativo entre os 5 primeiros meses de 2023 e 2024, as cotas vendidas no período somaram R$140,71 bilhões, 21,8% acima dos R$ 115,52 bilhões registrados no mesmo período de 2023. Só de janeiro a maio, 1,73 milhão de pessoas aderiram ao consórcio, contra 1,63 milhão somadas em 2023. Isso representa crescimento de 6,1%, demonstrando continuidade no interesse e na confiança do consumidor na modalidade para planejar seu futuro.
E mais: do volume de cotas vendidas, a distribuição por segmento ficou assim: 707,46 mil de cotas contratadas para veículos leves; 540,88 mil para motocicletas; 339,77 mil para imóveis; 95,85 mil para veículos pesados, 30,52 mil para eletroeletrônicos; e 19,89 mil para serviços.
- O valor médio da cota de consórcio cresceu 10,5% no mês de maio, em comparação a maio passado, fechando em R$ 83,74.
Por que é investimento?
Segundo a Abac, o consórcio pode ser definido como investimento. “A explicação está nas suas características e peculiaridades, exclusivas, que tornam, por exemplo, a aquisição de bens ou serviços pelo mecanismo com a finalidade de gerar renda – um tipo de investimento econômico. Diferentemente de uma aplicação financeira, há, nessa modalidade, uma expectativa de retorno no resultado que os ativos reais proporcionam.”
Para o especialista do mercado de investimentos e fundador da Sail Capital, Pedro Persichetti, também afirma que é uma forma de investir, “pois o consórcio conta com diversas estratégias que o tornam um investimento”. Na mesma opinião, Raphael Lopes, gerente financeiro do Consórcio Embracon, justifica que, quando se pensa em poupar, guardar, “é pensando mais a frente para adquirir algum bem, porém difere dos investimentos tradicionais como ações, fundos e imóveis comprados sem passar pelo consórcio”.
Já Jocimar Augusto Martins, gerente de Operações/Consórcios do Sicredi, explica que por definição, um investimento é uma aplicação financeira com a expectativa de um benefício futuro. “Nesse sentido, o consórcio pode ser considerado similar a um investimento, uma vez que a pessoa investidora realiza pagamentos mensais a fim de obter o poder de compra para um bem futuro, como automóveis, imóveis e serviços ou formar patrimônio”, afirma.
A volta do popular consórcio
O Consórcio voltou a fazer parte da vida dos brasileiros nos últimos meses e para muitos especialistas isso se deve ao cenário econômico. Raphael Lopes acredita que o retorno ao consórcio se deu especialmente em períodos de juros altos e crédito mais restrito.
Além disso, de acordo com ele, também por ser uma alternativa para adquirir bens de forma planejada e sem juros, “isso atrai pessoas que buscam evitar dívidas e financiamentos mais caros”.
Soma-se a isso a estabilidade econômica e a perspectiva de planejamento financeiro que são aspectos atraentes em tempos de incerteza econômica. “Importante destacar que nesses tempos de juros altos o consumidor apresenta um comportamento de trocar o financiamento pela modalidade de consórcio, um dado importante que o financiamento de um imóvel pode custar 90% mais do que a aquisição através do consórcio e em veículos pode chegar em alguns casos até 80%”, comenta Lopes.
Para Persichetti, a escassez de crédito, por conta da pandemia, para reformas e construções fez com que muitas pessoas “recorressem a essa modalidade para quitar financiamentos bancários com juros agressivos”.
Conforme Jocimar Augusto Martins, do Sicredi, um estudo recente mostra que a renda se apresentou como forte preditor para as vendas de cotas, mas não apenas isso, a educação financeira também faz parte. “O consumidor está cada vez mais consciente da importância de planejar suas finanças pessoais, correlatas à essência da educação financeira e com isso não quer pagar juros. Ainda apoiado no aumento da educação financeira do consumidor, há um aumento da percepção sobre o efeito dos juros nos seus investimentos para aumento de poder compra, fazendo com que a não existência de juros nos consórcios se torne uma opção mais atrativa do que financiamentos, por exemplo”, destaca.
Ainda segundo Jocimar, outro importante fator, que torna o produto consórcio mais acessível ao bolso dos brasileiros é o valor da parcela inicial, que no consórcio pode ser 40% mais barata do que em outras modalidades, considerando o mesmo valor do bem. “Esta característica faz com que possamos elevar o nível de educação financeira de uma significativa parcela da população, contribuindo com o desenvolvimento das comunidades onde o Sicredi está inserido”, complementa.
Próximo: As vantagens e desvantagens do consórcio.
(Produção: Márcia Sobotyk)