Para criar um futuro melhor é preciso gestão de riscos climáticos, consciência sobre as desigualdades e empatia.

Muito se tem escrito sobre a tragédia das enchentes em um dos Estados mais importantes da República Federativa do Brasil – o Rio Grande do Sul, que iniciaram em maio de 2024, e ainda apresentam riscos à população.

As mudanças climáticas em curso estão sendo tratadas?

Não como deveriam! Fundamentalmente, referimo-nos à gestão de riscos climáticos, com planejamento, ação, controle e correções. Ou seja, ao clássico ciclo PDCA (Plan, Do, Controle, Act) inerente à boa gestão.

E quanto à redução das desigualdades e à empatia para a criação de um futuro melhor?

Acreditamos que o valoroso povo gaúcho, a quem manifestamos o nosso apoio inconteste, tem a percepção de que é preciso haver mudanças urgentemente. E para ilustrar esta visão, entrevistamos quatro cidadãs do Rio Grande do Sul, da capital Porto Alegre, convidando-as a opinarem sobre o ocorrido, com base em três perguntas, que serviram como guia dos seus breves depoimentos:

1 – O que teria faltado por parte da administração pública?

2 – O que precisa melhorar?

3 – O que você, pessoalmente, aprendeu com este acontecimento climático?

Vejamos os seus depoimentos e retornemos após, com algumas reflexões.

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Ana Clara Sobotyk Santos, fisioterapeuta

Apesar de ter sido uma catástrofe, ela reflete uma falta de preparo, de planejamento, de organização. Desde que tudo começou, um dia parecia pior que o outro e, muitas vezes, não tínhamos informações ou ações concretas da Administração Pública para mitigar, proteger e acolher as pessoas afetadas. As ações de resgate e acolhimento dependeram de muitos voluntários, até que a Administração começasse a se organizar de forma mais eficiente. De qualquer forma, hoje sabemos que muitos desfechos poderiam ter sido evitados nesse cenário se houvesse um preparo melhor do Estado.

É preciso melhorar o plano de prevenção contra enchentes; a comunicação com a população, que precisa saber como agir e para onde ir nesses momentos e, principalmente, ouvir os especialistas no assunto que, há muito tempo, alertaram sobre o que estava por vir.

Nada nos prepara para o que aconteceu, nem como civil, nem como profissional. Atuar em um abrigo como profissional da saúde me tirou da minha bolha e me fez entrar em contato com realidades nas quais a saúde dificilmente chega. Muitas pessoas foram afetadas, mas esta catástrofe trouxe luz às desigualdades que não vemos todos os dias e à urgência que precisamos ter para prevenir novos desastres.

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Gabriela Oliveira Pacheco, estudante de Medicina, 6º semestre, UFPel

(Gabriela foi resgatada em prédio no bairro Humaitá, um dos mais atingidos, onde fica a Arena do Grêmio)

Faltou planejamento em relação ao sistema de contenção de enchentes, sem dúvida. Inclusive, os bairros mais afetados foram os considerados periféricos, o que escancara ainda mais o descaso público em relação a isso.

Na minha opinião, o que é necessário melhorar é uma Administração Pública que vise o futuro, infraestrutura e prevenção de acidentes e de desastres não somente nas áreas nobres da cidade.

⁠Percebi, com mais força ainda, o quanto o Estado não está preparado para grandes tragédias climáticas, que continuarão a acontecer. Além disso, o quanto foi importante o voluntariado de civis! Eles me resgataram e estão reerguendo o Estado com seus atos de serviço pelo coletivo.

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Geórgia Dalacio Ferreira, estudante de Veterinária, 8º semestre, UniRitter

Faltou um plano para situações emergenciais de desastres naturais, pois eu senti que os cidadãos e animais ficaram “à deriva” em vários âmbitos, por não termos esse plano caso houvesse uma enchente. Acho que devemos partir do básico, de que Porto Alegre é banhada por um rio, que em algum momento, esse rio poderia extravasar para a cidade, e deveria existir um plano emergencial para as pessoas, animais e a Administração da cidade, caso isso acontecesse.

Precisa urgentemente ser construído um plano de emergência para a população e para a Administração da cidade.

Pessoalmente, aprendi que muitas vezes achamos que os nossos hábitos somente influenciam no presente, mas o que fazemos agora, reflete no futuro. Se ocorre um desmatamento em grande escala agora, pode ter certeza de que iremos colher isso em curto e longo prazos.

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Lisane Jacques, médica, anestesiologista

Fui coordenadora da área da saúde no Colégio Santa Dorotéia, o qual abrigou temporariamente mais de 300 pessoas. O empenho das pessoas para ajudar fez toda a diferença, civis ajudando civis. A Administração pública mostrou-se perdida e lenta neste momento de catástrofe.

É preciso gestão de risco e plano de contingência eficaz. Precisamos de liderança e segurança para o enfrentamento de situações como a que ocorreu no Rio Grande do Sul.

É preciso organização, empenho e muita empatia para enfrentar situações como estas. Desastres naturais podem ocorrer em qualquer momento e em qualquer lugar… é preciso pensar nos riscos de cada ambiente (clima, relevo, hidrografia e outros) e nas possibilidades para poder enfrentá-los, com seriedade e segurança.

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Sobre os depoimentos anteriores, ilustrativos do que muitos gaúchos pensam, destacamos algumas percepções que nos parecem muito relevantes:

  1. Houve alertas de especialistas sobre o que poderia ocorrer.
  2. O planejamento para enfrentar o ocorrido foi ineficaz (aliás, em que medida terá havido?).
  3. Bairros mais periféricos foram os mais prejudicados, o que denota descaso com aqueles que ali vivem.
  4. A Administração Pública, que deveria capitanear os esforços, se mostrou lenta e, por vezes, perdida.
  5. O voluntariado civil foi absolutamente importante para enfrentar diversas situações.

Entre as lições aprendidas pelas nossas entrevistadas, apontamos:

No plano da Administração Pública

  1. a importância da gestão de riscos climáticos, com tudo o que isso significa – planejamento, ações, controle e correções (ou seja, PDCA);
  2. a relevância da organização, da comunicação e do empenho; e,
  3. a necessidade de criar o futuro por meio de ações presentes.

No plano das pessoas

  1. a exposição de desigualdades que não são vistas em condições normais;
  • a importância da empatia; e,
  • a força dos cidadãos, expressa no voluntariado.

E aqui destacamos, adicionalmente, dois aspectos muito relevantes que emergiram das entrevistas:

  1. as especificidades da capital Porto Alegre que, dada suas condições geográficas e edificação junto ao Rio Guaíba, merece especial atenção; e,
  2. o desafio de cuidar não somente das pessoas, mas também dos animais resgatados. Nesse sentido, vimos, em variadas mídias, como muitos arriscaram suas próprias vidas para salvar a ambos, seres humanos e animais.

Concluímos estas breves considerações, agradecendo às nossas entrevistadas pela generosidade em compartilhar conosco as suas experiências, e ressaltando, ao lado da força do povo gaúcho, a solidariedade do povo brasileiro e dos Poderes constituídos do nosso País.

O Brasil abraçou o Rio Grande do Sul de várias formas, como não poderia deixar de ocorrer, e temos grande esperança na construção de um futuro diferente e muito melhor. Com boa gestão de riscos climáticos, maior consciência quanto a reduzir desigualdades, empatia e muito mais.

A seguir, apresentamos imagens do que as enchentes produziram, nos Municípios de Porto Alegre (capital) e Canoas.

EM PORTO ALEGRE – IMAGENS DIVERSAS

Imagem 1 – Área inundada, Av. Presidente Roosevelt com Av. França. Crédito – Marcus Sobotyk.

Imagem 2 – Área inundada, Av. Presidente Roosevelt com Av. França. Crédito – Marcus Sobotyk.

Imagem 3 – Abrigo no Colégio Santa Dorothea. Crédito – Ana Clara Sobotyk Santos.

Imagem 4 – Área da saúde no Abrigo no Colégio Santa Dorothea. Crédito – Lisane Jacques.

EM CANOAS – ÁREA ESCOLAR

Imagem 1 – Rua Boa Vista, Bairro Rio Branco. Crédito – Flávia Sobotyk Oliveira.

Imagem 2 – Rua Boa Vista, Bairro Rio Branco. Crédito – Flávia Sobotyk Oliveira.

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