Caro(a) leitor(a),

Estou escrevendo esta crônica seis dias antes de sua publicação. Portanto, nesse tempo, poderão acontecer alguns fatos na corrida presidencial norte-americana, fatos esses que não tenho como saber agora. Mas é óbvio que posso especular sobre eles.

Às nove horas da noite (22h no Brasil) de sexta-feira 28 de junho, o presidente Joe Biden debateu (se é que podemos chamar aquilo de debate) com seu adversário republicano, Donald Trump, ambos visando angariar votos para as eleições de terça-feira 5 de novembro.

Esse confronto foi solicitado por Biden e ocorreu prematuramente (quatro meses antes das eleições), comparado com os das eleições anteriores, desde que o vice-presidente (do general Eisenhower) Richard Nixon enfrentou John Fitzgerald Kennedy, sendo que o segundo acabou vencendo o debate e as eleições.

Desde então, as disputas verbais ocorreram em tom civilizado até que, em 2016, surgiu o agressivo Donald Trump que, em suas perguntas, respostas e considerações, costuma ofender seus adversários. Foi assim com Hillary Clinton, Joe Biden (em 2020) e novamente Biden agora.

Desta vez o evento ocorreu no Debate Hall dos estúdios da CNN em Atlanta, Georgia. Logo de saída percebeu-se que Biden parecia um ancião (ele tem 81 anos) enquanto Trump (apenas três anos mais moço) aparentava no mínimo menos dez.

Os dois subiram separadamente em seus respectivos púlpitos (Biden primeiro), não trocaram apertos de mão e sequer se olharam. No último debate Trump/Hillary, eles também não se cumprimentaram, uma vez que ela se sentira ofendida no confronto anterior.

Desta vez a CNN não aceitou que um candidato fizesse pergunta ao outro, eles se comprometeram a não o fazer e cumpriram a palavra. Mesmo porque, caso um deles se dirigisse diretamente ao adversário, seu som seria imediatamente cortado.

Aliás, o tempo de respostas às perguntas era de três minutos e o encarregado do respeito a essa regra não dava sequer uma colher de chá de dois ou três segundos. Cortava a frase no meio.

I pretend to deal with the illegal immi…”. Era assim que funcionava.

Logo se percebeu que Joe Biden estava com a voz muito fraca e hesitante. Sua presença apagada, e o esquecimento do que pretendia dizer, bem no meio de uma frase, eram evidências de que se daria mal.

Em várias ocasiões, Trump elogiou seu próprio governo e atacou o do adversário.

“Fui o melhor presidente que este país já teve e ele (Biden), o pior”. O desafiante à Casa Branca não fez por menos.

Mas não foi só isso. Disse que Joe Biden favoreceu a China, provocou a guerra Rússia/Ucrânia e outras acusações sem apresentar nenhuma prova.

Em certo momento, quando Trump disse que reduzirá os impostos e que isso iria trazer de volta empresas para os Estados Unidos, Biden, ao comentar essa declaração, precisou consultar um papel de “cola” que trazia consigo.

Trump foi muito além do que seria razoável em um debate ao dizer impunemente que Biden assassinava imigrantes, matava fetos de nove meses e até mesmo bebês recém-nascidos.

Sem mostrar grande revolta ou indignação com a calúnia, Joe Biden limitou-se a dizer que aquilo era mentira. “It’s a lie. It’s a lie.”

Donald Trump disse que não incentivou a invasão do Capitólio em 6 de janeiro de 2021. Joe Biden perdeu uma grande oportunidade de dizer que o motivo da invasão era impedir que o vice-presidente (cargo que nos Estados Unidos acumula com o de presidente do Senado) Mike Pence lesse a ata do Colégio Eleitoral, ato que configura (como a diplomação do TSE aqui no Brasil) oficialmente o resultado de uma eleição.

Tal como escrevi acima, sempre que uma pergunta era feita a um dos candidatos, ele tinha três minutos para respondê-la. Trump, quando a pergunta lhe era muito desfavorável, gastava dois minutos e 50 segundos comentando a fala anterior de Joe Biden, reservando apenas 10 segundos para sua resposta.

Foi o caso quando lhe perguntaram se aceitaria o resultado na hipótese de uma derrota. Só no finalzinho ele respondeu. “Se as eleições forem justas e legais, eu aceito.” E mais não disse.

Nos dias que se seguiram ao debate, diversos órgãos da imprensa, entre eles o The New York Times e a revista The Economist, insistiram na desistência de Joe Biden.

Ele não só descartou essa possibilidade, como foi apoiado pelos ex-presidentes Bill Clinton e Barack Obama. Isso não quer dizer absolutamente nada!

Clinton e Obama podem estar trocando ideias com outros caciques democratas e até mesmo discutindo com Joe Biden uma solução honrosa para sua desistência. Há também o problema de escolha dos substitutos.

O nome mais lógico seria o de Kamala Harris, vice de Biden.

Outra que poderia vencer Trump seria a super carismática Michelle Obama. Só que toda vez que alguém cita seu nome, ela não demonstra nenhum interesse em voltar a morar na Casa Branca.

O certo é que muita água poderá rolar sob a ponte esta semana. Certo também é que se ninguém fizer nada a respeito da candidatura Biden, a de Trump será uma barbada em 5 de novembro, landslide como dizem os americanos.

Um ótimo fim de semana para todos. 

Abraços,

Ivan Sant’Anna

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