O Brasil não abandonará o rótulo de país da Renda Fixa tão cedo, pelo menos enquanto o cenário econômico for de inflação e juros altos. O reinado dessa modalidade não é de hoje e para junho, as recomendações seguem firmes. 

Além do IPCA+6 que ganhou os holofotes em abril e segue brilhando, os ativos atrelados à inflação dominam a recomendação para o investidor manter na carteira de renda fixa. Isso porque, na visão de quem entende, eles são os papéis que dão uma proteção ampla diante de um cenário global de aperto monetário, com os EUA liderando os juros mais altos por mais tempo e, por aqui, projeções alertando que a inflação ficará longe dos 3%.

A curva de juros encerrou maio com abertura em quase todos os vértices, com mais intensidade na parte intermediária, diferente do mês anterior, ela caminhou na contramão dos rendimentos das Treasuries americanas. Para a XP Investimentos, “esse movimento pode ser explicado por um maior sentimento de cautela do mercado em relação ao Brasil”.

Para os analistas da XP, o cenário brasileiro foi afetado por uma combinação de dados visto pelos investidores como mais desafiadores à economia, apesar da inflação controlada e a de curto prazo continuar em sua trajetória benigna. A preocupação fica mesmo com a meta fiscal do governo, que persiste, e reforça a pressão inflacionária no longo prazo.

XP: Recomendações para junho

Títulos Públicos

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  • % Selic | Tesouro Selic – 2027
  • Prefixado | LTN – Jan/2026
  • IPCA+ | NTN-B – Ago/2028

Crédito Privado 

  • % CDI | CRI Cyrela – Abr/2028 (24D2765586)
  • IPCA+ | Debênture Energisa – Set/2033 (ENGIB9)
  • IPCA+ | CRA Marfrig – Mar/2034 (CRA024002ML)

BTG Pactual faz mudanças táticas para junho

Os analistas do BTG fizeram alterações táticas nas alocações em renda fixa para junho: em prefixados reduziram a posição over para neutro e em pós-fixado elevaram de 2 notch under para 1 notch under. 

“Mesmo vendo prêmios na curva de juros prefixados, entendemos que uma Selic terminal significativamente maior está mais clara neste momento, em comparação àquela imaginada quando montamos a posição 2 under. Em inflação, seguimos com a mesma estratégia”, afirmam.

  • Sobre pós-fixado:

A explicação do BTG é que o CDI real esperado para os próximos anos tende a ser bastante atrativo. Para fins comparativos, é possível que o CDI performe, na média dos próximos dois anos, em IPCA+6% a.a – e sem volatilidade. “Ainda que esteja no nosso radar a possibilidade de um BC mais leniente com a inflação a partir do próximo ano, entendemos que este CDI real até o final deste ano entregará um bom retorno ajustado ao risco. 

  • IPCA+:

Seguem um notch overweight na subclasse, “em razão dos elevados prêmios nas taxas de juros reais, que seguem distantes de qualquer nível neutro da nossa economia em um ambiente de corte de juros”. Seguem com a duration de 7,5 anos que devem ser “absorvidas por uma estratégia barbell: compra de ativos curtos e longos ao mesmo tempo.” 

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  • Prefixados:

O BTG reduziu a exposição para o nível neutro, movimento que os analistas estavam sinalizando através do viés negativo da exposição over desde fevereiro. A decisão ocorreu não pela falta de atratividade da classe, mas  pela necessidade de financiar o ajuste na classe pós-fixada e por entender que o mercado de renda variável deve reagir melhor a um potencial fechamento da curva de juros prefixada. “Acreditamos, contudo, que há uma oportunidade bastante interessante neste momento para os títulos do vértice jan26, pois a curva de juros está precificando, atualmente, um ciclo de alta de juros em 2025, fato que vemos ainda com boa distância de ocorrência, sobretudo em um ambiente de corte de juros nos EUA e com um novo comando do Banco Central do Brasil. Seguimos com 1,8 anos na posição neutra na subclasse.”

Alerta para inflação e mercados fracos

De acordo com a gestão da Asa Renda Fixa Ativo, em se falando em cenário externo, há a visão de que existe um processo de desaceleração da inflação e de enfraquecimento do mercado nas economias avançadas. “Boa parte dos indicadores do mercado de trabalho tem voltado para patamares pré-pandemia. A oferta de vagas de trabalho tem cedido mês a mês, em um processo de normalização do período pandêmico”. Outra coisa, segundo os gestores da Asa,  há efeitos defasados da política monetária restritiva para se mostrarem presentes ao longo dos próximos meses. “Portanto, é bem plausível esperar quedas dos juros nos países que ficaram para trás no ciclo de política monetária, em especial, EUA, Canadá e Zona do Euro.”

No Brasil, conforme os gestores da Asa, a tragédia no Rio Grande do Sul trouxe elementos novos na dinâmica de preços dos ativos locais. Além dos impactos sobre a oferta de bens e cadeias de abastecimento, tendendo a elevar a taxa de inflação no curto prazo, há aspectos fiscais expansionistas (as razões humanitárias são bem justificadas) no socorro às famílias gaúchas e à reconstrução de parte expressiva das regiões afetadas pelas chuvas, podendo alcançar valores bem mais expressivos que os R$ 50 bilhões iniciais. Soma-se a isso o contexto de juros globais elevados por mais tempo levou a uma reavaliação do ciclo de cortes de juros no Brasil. 

Desta forma, a Asa aloca para junho em risco nas posições aplicadas na parte intermediária das curvas de Canadá e Europa e, na parte mais curta, continuam aplicados nos Estados Unidos. “Na posição de valor relativo entre juros reais e juros nominais no Brasil, não fizemos alterações, mas adicionamos outras operações relativas de renda fixa local no portfólio. Numericamente, encerramos o mês utilizando 11% do nosso limite de VaR (contra 4% no mês anterior) e 27,3% do nosso limite de stress (contra 11,6% no mês anterior)”, comentam.

Taxa Selic pode estar no teto dos cortes

Segundo a Preservera Asset, embora o cenário esteja relativamente positivo, marcado pela combinação do exterior favorável com dados econômicos correntes benignos, tem sido colocado em dúvida pelo mercado e ainda parece insuficiente para alterar o tom da política monetária atual do Brasil. 

 “As recentes declarações do Banco Central reforçaram a crença de que a Selic está próxima ao seu piso neste ciclo, pesando o fato de que o BC dá grande foco nas expectativas de inflação. Além disso, tivemos em maio uma reunião emblemática do Bacen, resultando em um corte de 25 bps, decidido de forma dividida. Enquanto a ala dissidente, que defendia um corte de 50 bps. Independentemente do argumento vencedor, acreditamos que a mudança no forward guidance afetou a credibilidade do BC, e esse dissenso levantou ainda mais dúvidas sobre a trajetória do ciclo atual além de pressionar as expectativas de inflação”, comentam os analistas.

Incertezas

Entretanto, mesmo em um cenário favorável,  a combinação de incertezas fiscais, desancoragem das expectativas de inflação e um mercado de trabalho pujante domina a discussão, segundo os analistas da Persevera. “Com isso, o mercado passou a precificar a manutenção da Selic nas próximas duas reuniões do Copom, sem grandes perspectivas para cortes adicionais de juros”, afirmam.

Dessa forma, as consequências para os ativos brasileiros são claras, segundo os analistas da Persevera e tantos outros. “No ano, a bolsa brasileira possui uma das piores rentabilidades, o Real é uma das moedas mais desvalorizadas do mundo e a curva de juros abriu mais de 150 bps. Enquanto os ativos globais apresentam forte performance em 2024, o Brasil parece participar das festas erradas: nos últimos meses, o Ibovespa tem mais das quedas da bolsa americana do que das altas.”

Conforme o time, será necessário uma combinação de juros internacionais mais baixos e perspectivas de redução das taxas de juros locais para impulsionar a próxima rodada de alta dos ativos locais.

“Acreditamos que a deterioração atual é exagerada e alimenta um círculo vicioso desnecessário: expectativas de inflação mais altas aumentam os modelos do Banco Central, que consequentemente apontam para a necessidade de manter Juros restritivos por mais tempo, que encarecem o serviço da dívida, agravam a situação fiscal e comprometem ainda mais  a expectativa dos economistas”.

Assim sendo, com essa situação recorrente, existirão reflexos negativos no fluxo de capital, com investidores estrangeiros evitando o Brasil e brasileiros, buscando oportunidades no exterior.

Desancoragem do mercado

Mais do mesmo. O viés de alta persiste nas projeções para inflação no relatório Focus, no qual agora se vê projeções de 3,96% e 3,80% para 2024 e 2025, respectivamente. “As projeções mostram a desancoragem do mercado perante as incertezas quanto ao cenário fiscal local, as quais se agravaram nas últimas semanas. A Selic, consequentemente, reflete o mesmo comportamento, com expectativas de 10,5% para este ano e 9,5% para 2025. A curva DI, todavia, segue ainda mais elevada, explicitando mais risco”, comentam os analistas do Inter no relatório de Renda Fixa da segunda semana de junho.

A curva de juros Brasil consolida o movimento ascendente, com os vértices médios e longos superando 12%. “O mercado se mostrou desconfortável diante do posicionamento de Lula quanto às metas orçamentárias, atribuindo maior risco ao cenário doméstico, somando ainda o IPCA de maio divulgado na semana passada, acima do consenso. As atenções se voltam inteiramente para a reunião do Copom na quarta-feira (19), na qual é esperado uma manutenção da taxa de juros no patamar de 10,5%, encerrando o ciclo de cortes atual.”

Já nos Estados Unidos, houve alívio marginal nos juros médios e longos, principalmente após falas de Jerome Powell, “mesmo com o mercado passando a projetar apenas um corte de juros este ano. Dados de inflação e desempenho do mercado de trabalho dos EUA também apresentam sinais de arrefecimento.”

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