Há muito tempo os Fundos de Investimento em Direito Creditório, conhecidos como FIDC estão disponíveis no mercado, mas ainda não se tornaram tão populares como outros investimentos dentro da modalidade da Renda Fixa. Conforme especialistas, para os investidores, os FIDCs oferecem rentabilidades consistentes e normalmente superiores aos demais produtos de renda fixa, com grau de proteção relativamente mais alto e volatilidade mais baixa. Isso torna o FIDC atrativo em comparação a outros investimentos ou até mesmo em outras classes de ativos de maior risco.

Este tipo de investimentos ganham ainda mais atenção em tempos de juros altos e alta incerteza nos mercados, como um componente agregador de rentabilidade às carteiras de renda fixa, sem perder o benefício de proteção ao patrimônio, devido à sua baixa volatilidade. Mas por que ainda não caiu no gosto do investidor? O Acionista conversou com especialistas para falar um pouco sobre esta oportunidade.

O que são FIDCs?

São  fundos que investem em crédito privado através de direitos creditórios. Direitos creditórios são ativos que podem ser desde desconto de duplicatas (notas fiscais) , recebíveis de cartão de crédito, notas comerciais, CCB e outras formas de crédito para empresas.  

A nova regulamentação –  A Resolução CVM 175, atualizada em 23/12/2022, permite que investidores pessoas físicas comprem cotas de FIDCs. Anteriormente, apenas investidores qualificados (com maiores recursos e conhecimento) podiam investir nesses fundos. A mudança amplia o acesso a uma base maior de investidores, aumentando a liquidez e o interesse nesse tipo de fundo.

Segundo Thiago Figueiredo, gestor da Intrabank, a principal novidade com a nova regulamentação é a possibilidade de investidores de varejo poderem investir diretamente em cotas sêniores de FIDC. Isso ocorre “desde que alguns critérios do fundo estejam de acordo com a legislação, como por exemplo, a cota sênior deve ter um nota de rating e o prazo de resgate não pode exceder 180 dias”, disse.

Para investir, o processo será o mesmo de outros fundos de investimento: através de plataformas de investimento e corretoras. “A negociação de cotas de FIDC seguem os mesmos processos de aplicação de outros fundos de investimento. Devem seguir todo o processo de abertura de conta investimento e seguir o questionário de suitability”, comenta Thiago.

Segurança

FIDCs são fundos de investimento cujo principal risco é o risco de crédito das operações. Eles vêm se mostrado muito resilientes nos últimos anos para investidores de cotas seniores devido a sua estrutura que protege uma parte da exposição do crédito através de cotas subordinadas juniores e cotas mezanino, “que são as primeiras a absorver eventual inadimplência no fundo. Cabe ao novo investidor deste tipo de produto estudar o nível de subordinação das cotas seniores e o histórico de rentabilidade das cotas subordinadas”, explica o gestor.

Como popularizar os FIDCs?

De acordo com João Henrique, fundador da Corlabs, para o FIDC cair no gosto do investidor é preciso:

  • Educação Financeira: Realizar campanhas de educação financeira para esclarecer como funcionam e os benefícios dos FIDCs.
  • Transparência: Oferecer informações claras sobre riscos e retornos.
  • Acessibilidade: Simplificar o processo de investimento, facilitando o acesso através de plataformas digitais.

Desde outubro do ano passado, os investidores pessoa física podem investir em FIDCs da seguinte forma:

  • Plataformas de Investimento: Utilizar corretoras e plataformas de investimento que ofereçam cotas de FIDCs.
  • Consultoria Financeira: Buscar orientação de consultores financeiros para entender melhor os fundos disponíveis e adequação ao perfil de investidor.

O investidor não precisa ser um agente do mercado para fazer o investimento, segundo João Henrique, “embora não seja obrigatório ter um agente de mercado, é recomendado, especialmente para investidores menos experientes, utilizar os serviços de consultores financeiros ou corretoras para entender melhor os riscos e oportunidades dos FIDCs”.

Riscos – Existe o risco de inadimplência. Os FIDCs investem em direitos creditórios, e se os devedores desses créditos não pagarem, pode impactar os rendimentos do fundo. “É essencial avaliar a qualidade dos ativos e a gestão do fundo para mitigar esses riscos. Além disso, muitos FIDCs têm mecanismos de proteção, como a diversificação dos créditos e a presença de garantias”, comenta João Henrique.

“É quase um condomínio”

Para Ricardo Binelli, sócio-diretor da Solis, FIDC é quase como um “condomínio de investidores”, que unem seus recursos para investir em direitos creditórios que podem ser de empresas comerciais, financeiras, industriais etc.,  “visando uma boa rentabilidade e a segurança de uma aplicação em renda fixa.”

De acordo com Binelli, os FIDCs sempre foram direcionados, nas casas e plataformas de investimentos, para os chamados investidores qualificados, que são aqueles que possuem aportes da ordem acima de R$ 1 milhão, mas com a nova Resolução da CVM, este instrumento financeiro passou a estar acessível ao público em geral ou, como é chamado, “público de varejo”.

“O nosso Fundo Solis Antares Pioneiro, o primeiro Fundo de Fundo (FOF) de FIDCs do mercado brasileiro, por exemplo, tem investimento inicial a partir de R$ 100 (cem reais), ou seja, é um produto de muita qualidade acessível ao pequeno investidor. Nosso objetivo com o lançamento deste produto é garantir a democratização dos investimentos.”

Com o histórico de rentabilidade e de satisfação dos cotistas dos fundos  da Antares Pioneiro para investidores qualificados, o gestor tem expectativa muito positiva em relação ao interesse do investidor sobre o fundo. “Além do fato de entendermos que um Fundo de FIDCs, ao oferecer uma carteira diversificada de fundos e uma tranquilidade em relação à liquidez, proporciona um caminho mais confortável para quem está fazendo sua primeira experiência com FIDC.”

Crescimento – Com a abertura ao público em geral, a tendência é de crescimento da categoria, que já vinha avançando nos últimos anos, diz Binelli. “Mesmo em momentos nos quais a indústria de Fundos de Investimento viu resgates generalizados, os FIDCs mantiveram a captação positiva. Este avanço dos FIDCs segue o movimento que comentamos anteriormente: a busca por diversificação das fontes de retorno por meio de ativos que estivessem dentro da rede de proteção da renda fixa.”

Segurança –  Adequado à 175, o Solis Antares Pioneiro tem uma carteira composta apenas por cotas seniores de FIDCs, que tenham sido classificadas por uma agência de risco, sendo que os recebíveis desses FIDCs serão todos performados, isto é, decorrentes de mercadorias já entregues ou de serviços já prestados. 

“Exigências da norma nova, essas características implicam em maior segurança para os investidores. Além do ferramental de proteção relacionado ao Pioneiro especificamente, é importante ter em mente que a performance dos FIDCs no que diz respeito à inadimplência vem sendo muito boa. Em um estudo da Solis, avaliamos uma amostra com todos os FIDCs lançados entre 2014 e 2020 para calcular o percentual de FIDCs que chegaram a ter sua subordinação integralmente consumida e as cotas seniores atingidas. O número a que chegamos é muito pequeno, realmente imaterial. Sendo assim, ainda que conceitualmente exista a possibilidade de que o investidor perca dinheiro, o histórico do produto mostra que são eventos muito raros.”

(Colaborou Márcia Sobotyk)