A economia do Brasil ainda está surfando na onda da política monetária, do ajuste fiscal, da reforma tributária e nos respingos das decisões de outras economias do mundo. No entanto, vive um momento importante, principalmente com o ciclo de redução da Taxa Selic, hoje a 10,50% a.a. Neste contexto, o setor de construção civil tem avançado, mesmo que no ritmo mais lento dos que se esperava, com a oxigenação do programa Minha Casa, Minha Vida.
Em seu relatório sobre o setor, a Toro destaca que as mudanças na política monetária influenciaram a construção civil, que se mostrou sensível. “O setor é um dos pilares da economia brasileira, um termômetro que reage tanto às políticas governamentais quanto às condições macroeconômicas.”
Segundo a Toro, a queda dos juros, além de ser uma resposta aos desafios econômicos globais e locais, “cria um ambiente favorável para investimentos em setores sensíveis ao crédito, como a construção civil”. Isso porque a taxa de juros é um dos principais fatores que influenciam o desempenho do setor de construção civil: quando as taxas de juros estão baixas, o custo do crédito imobiliário para o consumidor também se reduz, tornando mais acessível o financiamento para a aquisição de imóveis.
“A fase atual de queda nas taxas de juros deve continuar como um vento favorável para o setor nos próximos anos. Após um período árduo, já vemos as incorporadoras apresentando melhorias significativas nos resultados nos últimos trimestres”, diz a Toro.
Minha Casa, Minha Vida aumenta vendas e lucros da construção civil
O Programa Minha Casa Minha Vida (MCMV) ajudou significativamente o setor da construção civil para aumentar, em 6%, as vendas de unidades residenciais no primeiro trimestre de 2024. Na comparação com o mesmo período do ano anterior, o total de imóveis vendidos passou de 76.794 unidades para 81.376 neste ano.
Já o percentual de residências do MCMV no total comercializado passou passou de 33,7% em 2023, para 38,59%. Nos últimos 12 meses foram vendidas 331.311 unidades, número 3,9% maior que nos 12 meses anteriores, quando foram comercializadas 318.973 unidades.
Os dados são da pesquisa Indicadores Imobiliários Nacionais do 1º Trimestre de 2024, divulgada nesta segunda-feira (27) pela Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC). (Agência Brasil)
Imob registra baixa de 11,56% em abril
Houve uma abertura da curva de juros no Brasil no mês de abril, principalmente em função dos dados de atividade mais fortes nos EUA, refletindo também em uma desvalorização cambial significativa, com o dólar chegando a ser cotado aos R$ 5,20.
Além disso, as construtoras têm um alto grau de sensibilidade em relação às taxas de juros, logo o índice Imob registrou uma baixa de 11,56% no mês, se descolando fortemente em relação ao Ibovespa (-1,7%). “Dessa maneira, dados das prévias operacionais das companhias acabaram ficando em segundo plano pelo mercado”, comentam os analistas do BB Investimentos.
O índice de Confiança da Construção (ICST), medido pelo FGV Ibre, variou -1,0 pt m/m para 95,8 pontos em abril, segunda queda consecutiva na base mensal, e passando ao menor nível registrado no ano de 2024. “No entanto, o número ainda permanece no patamar de estabilidade na comparação de 12 meses.”
As principais construtoras do ramo em abril
Tenda – apresentou forte evolução nos lançamentos, tanto em sua vertente de incorporação principal como em sua subsidiária Alea.
Direcional – trouxe uma baixa nos lançamentos para baixa renda, compensados por uma significativa elevação nos empreendimentos média renda por meio da Riva.
Cyrela – não só avançou firme em vendas e lançamentos, como alcançou 50% de velocidade de vendas no trimestre, a maior dentro de nosso universo de coberturas.
MRV – apresentou dados operacionais fortes nas operações no Brasil, mas sua subsidiária que opera no mercado norte americano permanece com uma queima líquida de caixa no trimestre.
JHSF – evidenciou crescimento em suas linhas de negócios recorrentes, como vendas nos Shoppings, diárias nos Hotéis, couvert médio nos Restaurantes e movimento no Aeroporto, mas a incorporação retraiu nos primeiros meses do ano.
Cyrela (CYRE3) ainda é top pick nas recomendações
No Clube Acionista, a construtora que vem mantendo boa recomendação nas carteiras é a Cyrela (CYRE3). Mesmo o primeiro trimestre do ano sendo sazonalmente um pouco mais fraco para o setor de construção civil, a Cyrela divulgou seus resultados referentes ao 1T24 contendo números sólidos, com as vendas líquidas chegando a R$ 1,7 bilhão (+47,2% a/a, -8,3% t/t). Teve uma Receita Líquida a apropriar (REF) que ultrapassa os R$ 7,1 bilhões (+23% a/a, +7% t/t), além de um incremento na Margem REF aos 36,1% (+1,1 p.p a/a, +0,2 p.p. t/t), que demonstram que os ciclos operacionais da Cyrela seguem bastante fluídos.
Além disso, com uma maior diluição de despesas em relação à Receita Líquida na comparação anual, a companhia entregou um lucro líquido de R$ 267 milhões, (+63,2% a/a, +7,7% t/t), com um incremento de Margem Líquida, que atingiu 17% (+4,2 p.p. a/a, +2,5 p.p. t/t).
Ações
As ações da empresa recuaram quase 9% em 2024 (até 9/5). Este movimento é puxado por uma abertura na curva de juros doméstica nas últimas semanas, mas ainda assim acumulam alta superior a 30% nos últimos 12 meses, bem acima do índice Imob, que avança ~13% em igual período.
“Mesmo com taxas médias de financiamento imobiliário em níveis elevados, ainda que em trajetória de queda acompanhando os sucessivos cortes na Selic, a Cyrela vem demonstrando que há demanda para produtos no padrão de qualidade que oferece, cultivando níveis de velocidade de vendas acima do mercado. Isso, somado aos resilientes resultados operacionais apresentados nos últimos exercícios, contribui para uma perspectiva de comportamento positivo para seus papéis negociados no mercado. Tudo considerado, seguimos com recomendação de compra para a Cyrela e preço alvo em R$ 29,00 para final de 2024”, comentam os analistas do BB.
Novidades
A Cyrela lançou 9 empreendimentos no 1T24, somando R$ 1,3 bilhão (+41,7% a/a, -24,4% t/t). A empresa destacou o lançamento do projeto La Isla, no Rio de Janeiro, que sozinho respondeu por R$ 501 milhões, além de ter impactado positivamente na velocidade de vendas, uma vez que o empreendimento foi 90% vendido.
Números
- Vendas líquidas: R$ 1,7 bilhão
- Receita Líquida: R$ 1,57 bilhão (+22,6% a/a e -8% t/t)
- Lucro Bruto: R$ 494 milhões
- Geração de caixa: R$ 130 milhões