O Banco Central divulgou, na semana passada, que decidiu dividir em fases o processo de regulamentação do mercado de prestação de serviços de ativos virtuais no país, as criptomoedas. Segundo o BC, pode haver o desenvolvimento de uma segunda consulta pública sobre as normas gerais de atuação dos prestadores e dos processos de autorização dessas entidades.

Para avaliar esta decisão do BC, o Acionista entrevistou Marcos Duarte (foto), analista da Nova Futura Investimentos:

Acionista – É realmente necessária uma segunda consulta pública? Por quê?

Marcos Duarte –Penso que sim, quanto mais vozes forem ouvidas, mais argumentos o BC terá para normatizar os ativos. Criptos, no momento, são populares e novas tendências de mercado. Como são muitos pontos a serem abordados e pesquisados, através das consultas, o BC terá mais argumentos para criar uma legislação que atenda às necessidades do mercado nesse quesito das criptos.

A – Quais as vantagens que você acredita que a regulamentação trará ao investidor?

MD – Não falo apenas em vantagens para o investidor, mas também em vantagens para o mercado e para o país. A regulamentação pode ajudar na prevenção de crimes financeiros, inibindo o uso desses ativos para más condutas, lavagem de dinheiro, entre outros. Para o investidor, uma das principais vantagens é a transparência, a livre concorrência entre os bancos e corretoras, e regras definidas sobre operações e especulações relacionadas à negociação das criptos. Assim como ocorre hoje nas ações, onde podemos realizar desde um simples ‘cross check’ até uma auditoria completa. Vejo também, como vantagem em um futuro mais distante, as criptos servirem como meios de pagamento e garantia de transações comerciais e financeiras. Para isso acontecer, o primeiro passo é a regulamentação.

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A – Será que as criptomoedas vão ganhar mais espaço após a regulamentação, considerando que muitos investidores ainda não confiam nos ativos virtuais?

MD – Entendo que o investidor brasileiro muitas vezes está interessado naquilo que é popular, mesmo que, em alguns casos, isso não esteja adequado ao seu perfil. Após a regulamentação, os agentes de mercado, como fundos de investimento, poderão operar o ativo e demais profissionais, como analistas, poderão montar estratégias para as criptos de forma mais adequada. Quanto à confiança nos ativos, isso leva tempo, pois o mercado precisa entender, assimilar e ajustar-se a esse tipo de negócio. Tal como ocorreu no passado com a abertura de negociação de opções e micro contratos americanos, a confiança não está no ativo em si, mas sim no comportamento desse ativo em relação às análises e projeções de mercado.

A – Os investimentos em ativos virtuais podem prejudicar os ativos tradicionais? Existe ou existirá uma concorrência acirrada? Por quê?

MD – Num primeiro momento, não há qualquer temor, até porque vamos do conceito básico. O investidor busca o eterno equilíbrio entre risco e retorno. Quando um ativo começa a ser negociado no nosso mercado, o primeiro investidor a olhar para essa oportunidade é o investidor arrojado, ou seja, aquele que busca especulação. Com o tempo e a solidez das informações e negociações, outros investidores podem começar a se interessar pelo ativo. A concorrência acirrada, num primeiro momento, é normal nas criptos regulamentadas. Entre os ativos mais consolidados do mercado e as novas criptos, não vejo a hipótese de concorrência imediata, uma vez que são públicos diferentes. Erroneamente classificamos ‘investidor’ de forma geral, mas basta uma pequena divisão em grupos de agressivos versus conservadores ou institucionais versus pessoas físicas para que a seleção natural apareça.

A- Qual a sua avaliação sobre os ativos virtuais e o peso que possam ganhar no mercado financeiro brasileiro?

MD – Penso ser saudável essa oferta. O mercado brasileiro precisa de mais ativos ‘globalizados’. Atualmente, temos apenas os BDRs e ADRs como os mais populares, mas as criptos que mais se destacarem certamente sairão na frente pelo interesse dos investidores com perfis variados.
Sobre o peso dos ativos no mercado brasileiro, é natural que estejam na mídia na época do lançamento ou com alguma notícia forte. Contudo, o que o investidor de qualquer perfil deve observar como indicador principal não é apenas o preço/cotação, mas também o volume financeiro negociado e o número de negócios. Entrar e sair das operações pode ser um fator importante.

(Colaborou Márcia Sobotyk)