O mês começou com feriado por aqui e com o FED mantendo a taxa de juros dos Estados Unidos pela sexta vez. A bolsa brasileira está nos 127 mil pontos, a agência de classificação de riscos Moody´s revisou para cima a perspectiva da nota de crédito do Brasil e o dólar na faixa dos R$ 5. Entretanto, o cenário para os ativos brasileiros continua extremamente complexo devido às novas perspectivas para a condução dos juros globais, conforme análise da Genial.
Antes de chegar a este cenário, a bolsa americana viveu período de euforia nos últimos 6 meses, que coincide com decisões menos rígidas do Tesouro e Banco Central dos EUA. Segundo o Inter, essas decisões flexibilizaram as condições financeiras e podem ter contribuído com a aceleração da inflação americana observada em 2024.
“Os indicadores econômicos apontam para uma atividade ainda aquecida nos Estados Unidos, embora haja alguns sinais de desaceleração, como o aumento da taxa de inadimplência no cartão de crédito e a baixa intenção de contratação por parte das pequenas empresas”, comentam os analistas.
No entanto, com essa mudança de rumo e a inflação mais alta, o Fed pode ter sua credibilidade afetada. “O comportamento de algumas classes de ativos sugere que os investidores estão antecipando pressões inflacionárias no curto prazo e demonstrando menor confiança de que o Fed tomará as medidas necessárias. Assim, vemos as expectativas do início do ciclo de cortes sendo postergadas.”
Quando o FED irá cortar os juros?
O ano iniciou com uma expectativa agressiva de cortes na taxa de juros dos EUA, com o mercado esperando seis cortes ao longo de 2024. O FOMC, entretanto, projetou 3. “Há ainda a incerteza política. Com as eleições se aproximando, existe a visão de que o FED pode se abster de cortar a taxa de juros muito próximo das eleições para não ser visto como um ator político que influenciou o resultado das eleições. Sendo assim, a janela para o início dos cortes se torna cada vez mais apertada”, analisa o Inter.
A reunião do mês que vem que, a priori, seria o início do ciclo de cortes de juros, se torna cada vez mais improvável. A possibilidade é que isso ocorra apenas no segundo semestre, e lá em dezembro. Sem falar que os dados econômicos ainda não dão confiança, e é essa confiança que o presidente do FED, Jerome Powell tanto cobra.
Postura conservadora
Conforme análise da Genial para maio, o cenário para os ativos brasileiros continua extremamente complexo devido às novas perspectivas para a condução dos juros globais. “Nesse contexto, mantemos uma postura conservadora, mas estamos atentos às oportunidades que possam surgir, considerando um ambiente técnico favorável, caracterizado por baixa alavancagem do mercado e preços atrativos. Estamos prontos para adotar uma postura mais agressiva, caso o mercado permita”, afirmam seus analistas.
Ainda há muitas incertezas, especialmente em relação à trajetória dos juros nos EUA, a evolução dos conflitos no Oriente Médio, o desempenho econômico da China e a condução da política fiscal no Brasil, segundo eles. “Esses fatores continuam a influenciar as decisões de investimento e demandam uma vigilância constante do cenário global e local.”
Ainda não está bom para o investidor
Até o momento, 2024 não tem sido um bom ano para o investidor local, com mais um mês de fraco desempenho para os ativos domésticos, segundo análise da Genial.
“As empresas de menor capitalização se destacam negativamente, performando pior em meio às expectativas de uma necessidade de juros maiores tanto no Brasil quanto globalmente. A forte alta do Vix, também conhecido como índice do medo, e a abertura dos juros nos EUA não tiveram impactos ainda mais negativos nos mercados globais devido à temporada de balanços ainda positiva nos EUA. Isso proporcionou um contrapeso à política monetária contracionista. Contudo, o grande perigo desse cenário é a possibilidade de surgirem resultados mais fracos pelas empresas americanas, o que poderia agravar a situação atual.”
Bye, capital estrangeiro
Pelo quarto mês consecutivo, houve a saída de capital estrangeiro do mercado, com uma retirada acumulada de R$ 10,9 bilhões em abril e R$ 33,8 bilhões no ano (até o dia 26/04). Por outro lado, há um contraste, de acordo com os analistas, já que o investidor local tem demonstrado um crescente interesse em adquirir ações, “particularmente o investidor pessoa física, que lidera esse movimento de compra com um saldo positivo de R$ 16,2 bilhões no ano”.
Falando no investidor institucional, conforme a Genial ele reverteu sua postura de retirada vista em 2023, registrando agora um saldo positivo de aproximadamente R$ 6,5 bilhões no ano. “Abril viu uma entrada significativa de quase R$ 5 bilhões pelo institucional, maior entrada desde agosto do ano passado. Já o Pessoa Física, marcou o quarto mês consecutivo de entradas com saldo positivo acumulado em abril de R$ 3,6 bilhões.”
Posicionamento estratégico da Genial para maio
Empresas Exportadoras: aumento da exposição em empresas exportadoras. “Nossas carteiras agora estão balanceadas entre empresas exportadoras e locais, mas com um percentual menor de empresas locais em comparação com recomendações anteriores.”
Empresas Domésticas: exposição reduzida, mesmo com a queda dos juros no Brasil. “Nossas escolhas atuais se baseiam no momento técnico dessas empresas e em um ciclo microeconômico favorável, identificado após o término da temporada de balanços.”
Dolarização da Carteira: “Com o dólar se fortalecendo globalmente, embora não vejamos um amplo espaço para valorização significativa frente ao real, estamos aumentando o nível de dolarização de nossas carteiras.”
Mercado volátil
O BTG Pactual leva em consideração as taxas de longo prazo em alta nos EUA e no Brasil e perspectivas ruins de cortes nas taxas de curto prazo nos dois países, para reequilibrar a carteira aumentando a exposição cambial e a capacidade defensiva.
“Ainda acreditamos que o Ibovespa está barato (9,1x P/L 12 meses à frente) e já precifica piores perspectivas fiscais no Brasil e cortes mais lentos/menos intensos nos juros dos EUA. Portanto, apesar do reequilíbrio do portfólio, estamos mantendo a maior parte dele exposta ao que acreditamos serem condições macroeconômicas e políticas razoavelmente sólidas no Brasil.”
Pelo mundo
Mesmo com uma contenção nos conflitos no Oriente Médio, as preocupações de que podem aumentar, alimentam as incertezas sobre o fornecimento global, ressalta o relatório da MyCap.
“O mercado já precificou uma possível postergação, talvez a única do ano, na esperada contração da taxa de juros americana, refletindo uma renovada expectativa de queda pontual dos juros em setembro. Isso tem levado à fuga de capital estrangeiro de ativos de risco e à valorização do dólar em relação ao real”, comentam os analistas.
No que se refere à China, de acordo com a análise da MyCap, o mercado mantém um “otimismo cauteloso devido aos esforços do governo e do setor privado para garantir um crescimento sustentável, mesmo com o uso de subsídios”.
Conforme os analistas, no cenário macro, o mercado segue avaliando a redução do ritmo de corte de juros, “além das recentes alterações de meta de déficit ao longo dos próximos anos, assim como a tentativa de alterar o arcabouço fiscal, que foram mal recebidos e gerou precificação de risco, elevando a cautela dos investidores locais e estrangeiros no país”.
Bolsas não empolgam
O Ibovespa apresentou uma desvalorização de -1,70% no mês de abril, enquanto o S&P 500 fechou em queda de 4,16% no mês. Os dados do Índice de Preços ao Consumidor (CPI) mostraram uma inflação resiliente nos EUA. No Brasil, apesar de dados benignos de inflação, a visão é de que os juros nos EUA limitam o corte da Selic pelo Banco Central. Estes são os fatos citados no relatório do PagBank para justificar o cenário de incertezas.
Além disso, este cenário levou a uma abertura das curvas de juros no mercado local e no exterior, o que acabou tendo um impacto negativo no preço dos ativos de risco, comentam os analistas.
Neste mês, tem a continuidade do período de resultados do 1T24 das empresas americanas. No Brasil, os resultados do 1T24 seguem movimentando o mercado, junto com a reunião do Copom, prevista para os dias 7 e 8 de maio. “Desta forma, dado o cenário apresentado, os ativos incluídos nas carteiras deste mês levam em consideração as incertezas em relação às futuras decisões sobre a política monetária nos EUA e Brasil, além das perspectivas para os resultados corporativos do 1T24.”
“Apetite de risco”, diz BB Investimentos sobre a bolsa
O BB Investimento acredita em “impulsos positivos para a bolsa o ciclo de corte de juros e o consequente aumento do apetite a risco”. Entretanto, divide isso em dois estágios: um de curto prazo, incorporado aos preços ao longo do segundo semestre de 2024, e outro de mais longo prazo, a partir da incorporação da descompressão do resultado financeiro das empresas.
“Ao mesmo tempo em que acreditávamos nos potenciais cortes de juros nos EUA parte do quadro positivo para o Ibovespa, enxergávamos um contexto menos arrojado para o crescimento dos resultados das companhias do segmento de commodities, que exercem elevado peso no índice doméstico”, comentam os analistas.
Para o BB, no cenário otimista, teria um ritmo de corte de juros em linha ou até mais acelerado do que o consenso em dezembro, o que se aproximaria dos 153 mil pontos e isso ficou bem distante, conforme os analistas. Além de um contexto mais positivo para o conjunto das companhias dos segmentos de commodities. No pessimista, a partir da frustração das expectativas, projetam 132 mil pontos, o que representaria um prêmio de risco de equity negativo.
“Na Carteira Fundamentalista, realizamos apenas um movimento pontual com o objetivo de diminuir a volatilidade da carteira, mantendo a diversificação setorial que propusemos desde o início do ano. Nossas indicações continuam valorizando as dimensões de forte geração de caixa, rentabilidade e menor volatilidade de resultados ao longo de diversos ciclos.”