A safra de mel deste verão está sendo desuniforme, mas com quebra de mais de 50% em todo o Rio Grande do Sul, conforme avaliação dos membros da Câmara Setorial da Apicultura da Secretaria da Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação (Seapi). Maior produtor de mel do país, o Estado respondeu em 2022 por mais de 9 mil toneladas do alimento, cerca de 15% no total nacional, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).Na safra 2023/2024, as chuvas na primavera e no verão provocadas pelo El Niño interferiram nas floradas e na sobrevivência das colmeias, de acordo com os técnicos que participaram de um encontro da Câmara Setorial. “Foi um ano atípico que enfrentamos na meliponicultura. Quem se descuidou perdeu colmeias, principalmente no início da primavera, que foi muito chuvoso. Temos uma safra de pouca produtividade, e preços muito baixos para o mel no mercado”, avaliou o presidente da Federação dos Meliponicultores Conservacionistas do Rio Grande do Sul (Femcors), Vilmar Fank.O produtor Anselmo Kuhn lembrou que episódios de ciclones, enxurradas e muitos períodos sem sol acabaram por prejudicar os insetos. “O foco do ano passado foi conseguir manter as abelhas para dar continuidade aos apiários, esse foi nosso principal desafio”, destacou.A Câmara Setorial da Apicultura deverá ter alterados o seu nome e a composição de entidades integrantes, de forma a incluir a meliponicultura. Também foi apresentada durante a reunião uma proposta de regulamentação da Lei 15.181/2018, que instituiu a Política Estadual para o Desenvolvimento e Expansão da Apicultura e Meliponicultura (Proamel). A proposta foi elaborada por grupo de trabalho formado dentro da Câmara Setorial e aprovada pelos demais integrantes. O texto sugerido será encaminhado internamente no governo, pela Agricultura e a Casa Civil.A meliponicultura, criação de abelhas sem ferrão, é uma atividade essencialmente ligada à agricultura familiar no Rio Grande do Sul, com 60% das propriedades rurais com menos de 11 hectares e 61% dos meliponicultores com Declaração de Aptidão ao Pronaf (DAP).“Houve um grande avanço em tratar todas as abelhas juntas na mesma Câmara Setorial e nesta regulamentação. É uma visão atualizada de como vemos as abelhas, como produtoras de mel e, principalmente, como polinizadoras essenciais para a conservação da natureza e a agricultura”, destacou a pesquisadora Betina Blochtein, do Observatório de Abelhas do Brasil.Outros encaminhamentos sugeridos pela Câmara Setorial foram uma solicitação do setor à Secretaria de Meio Ambiente e Infraestrutura (Sema) para simplificação do sistema SOL a meliponicultores de subsistência e um pedido formal, à mesma secretaria, para a elaboração de um tutorial de como realizar o cadastro no sistema, a ser utilizado pelas associações e federações para orientar os produtores.