Depois que se abraça, verdadeiramente, uma causa na vida, não se para, em momento algum, de se refletir sobre o funcionamento da sociedade. E pode ser um exercício interminável. Às vezes exaustivo. Porém, fortalecedor, sem dúvidas. Especialmente, neste mês, por toda movimentação e importância que tem o Dia Internacional da Mulher, escolhemos uma reflexão que está alguns passos atrás do projeto do Comitê 80 em 8: é construir caminhos que as mulheres se igualem em posições de liderança aos homens.
Em linhas gerais, avançamos, mas de forma pouco linear. A posição do Brasil no relatório Global Gender Gap Report do Fórum Econômico Mundial (FEM) vem se alternando, de forma crescente e decrescente, desde 2006. Foi quando o Global Gender Gap passou a avaliar anualmente a igualdade de gênero em relação à participação econômica, o sucesso educacional, saúde e empoderamento político. Em 2023, avançamos. Estamos no 57º lugar entre 146 nações. Há cinco anos, estávamos na 90º lugar, e havíamos caído da 79ª posição em relação ao ano anterior.
Progresso morno
Em termos globais, o índice captado pelo FEM encolheu 0,3% em relação a 2022. Como se referiu a diretora-gerente da entidade, Saadia Zahidi, temos observado um “progresso morno”. É claro que as razões são históricas. E, para nós, aqui no Brasil, há indícios que nos bofeteiam desta realidade. Gostaríamos de nos apegar a um deles: o salto, de 14,9% nos casos de estupro feminimo, e, de 2,6%, nos feminicídios no primeiro semestre de 2023, em relação ao mesmo período do ano passado, segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública . Os dados atestam uma tendência de crescimento. Choramos as 722 assassinatos de mulheres motivados por violência doméstica, menosprezo ou discriminação à condição de mulher.
8 de março
Todo dia 8 de março, nossa sociedade nos presenteia e nos acaricia com mimos e flores, num dia tão especial. Nossas amigas nos ligam, nossos maridos e namorados nos beijam, nossos colegas de trabalho nos parabenizam, as rádios tocam músicas dedicadas a nós. Então, podemos pensar: estamos sendo valorizadas, respeitadas, percebidas. Lindo! Nossas necessidades serão ouvidas, seremos respeitadas. Mas, infelizmente, não é bem assim. Prestemos a atenção nas armadilhas.
Como eu poderia mostrar isso a vocês, usando exemplos que para, você, que lê este artigo, esteja mais próximo dos que os dados de violência feminina? Ouvindo uma música lindamente interpretada por Erasmo Carlos, me dei conta das entrelinhas e da tal armadilha a qual lhes comentei acima. Trata do seguinte:“…Dizem que a mulher é sexo frágil, mas que mentira absurda. Veja como é forte a que conheço. Sua sapiência não tem preço, satisfaz meu ego se fingindo submissa, mas, no fundo, me enfeitiça.”
Ora, mulheres, o homem que precisa satisfazer o ego dele subjugando a mulher, não a está valorizando. “Quando chego em casa à noitinha, quero uma mulher só minha, mas pra quem deu luz não tem mais jeito porque o filho quer seu peito.” Continua a gravação de Erasmo Carlos de 1981.
Meninas, esperamos que, quando o homem chega em casa à noitinha, queira nos ajudar a cuidar dos filhos e dos afazeres domésticos. Não é quando ganhamos flores que somos valorizadas. Não é quando as empresas têm mulheres em cargos de liderança, que somos valorizas. Não é quando os homens nos “elogiam” que somos valorizadas.
Somos valorizadas quando temos voz e quando nossos parceiros não precisam nos subjugar para se sentirem melhor. Quando trabalhamos e ganhamos, pela mesma função, o mesmo salário que os homens, e quando as empresas não aceitam comportamentos abusivos em relação às mulheres por parte de seus colaboradores.
Somos valorizadas quando não precisamos estudar o triplo que os homens para receber as mesmas oportunidades. Quando respeitam nossa vontade de ser ou não ser mãe. De casar ou não casar. Quando não nos julgam porque tivemos (ou teremos) diversos parceiros. Quando pararem de colocar a culpa na mulher por suas roupas, suas cervejas e pela hora que estava na rua.
Que partamos desta data linda e necessária, o Dia Internacional da Mulher, e façamos de 2024 um ano de avanços, em todos os sentidos, em toda a sua complexidade, para torná-lo o ano das mulheres.
Por Adriana Godim – Líder e integrante do Comitê 80 em 8 do Grupo Mulheres Brasil, Núcleo Porto Alegre. Formada em Administração de Empresas, Especialista em Finanças Pessoais e Empresariais, Palestrante, Assessora de Investimentos. Atuou mais de 30 anos no mercado corporativo liderando equipes, projetos e processos. Perfil no LinkedIn; e
Grazieli Binkowski – Líder e integrante do Comitê 80 em 8 do Grupo Mulheres Brasil, Núcleo Porto Alegre. É Jornalista com uma trajetória de mais de 20 anos em Assessoria de Imprensa e Comunicação Organizacional, com atuação na área de Mercado de Capitais e Negócios, Cultura, Educação e Inovação. É uma das idealizadoras da página Mulheres em Ação junto ao Portal Acionista. Perfil no LinkedIn.
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