“O segmento está ‘apertado’, mas ainda há oportunidades”.

       A fusão entre a Arezzo (ARZZ3) e o Grupo Soma (SOMA3), conglomerado de moda que detém, inclusive, a Hering e a Farm, ganhou destaque no noticiário no último domingo (4), quando alguns veículos segmentados anteciparam uma combinação de negócios que seria anunciada oficialmente em poucas horas. O comunicado veio na manhã desta segunda-feira (6) e os analistas já estimam uma megaempresa com R$ 12 bilhões em faturamento anual

       Outra grande varejista que vinha sendo pressionada pela inflação e pela concorrência anunciou, dia 28 de janeiro, um aumento de capital de R$ 1,25 bilhão. Com isso, o Magazine Luiza (MGLU3) pretende fortalecer os investimentos, especialmente no setor conhecido como Luizalab, dedicado à tecnologia, pesquisa e desenvolvimento do grupo. O objetivo é aumentar a equipe dessa área de 2.000 para 3.000 funcionários até o final de 2024. A ênfase principal recai sobre os projetos relacionados à inteligência artificial generativa, computação em nuvem e aprimoramento da experiência do usuário.

       O Grupo Pão de Açúcar (PCAR3), por sua vez, também deve oficializar um aumento de capital em breve, para melhorar sua estrutura de caixa e fazer frente à demanda. O GPA espera aprovar em assembleia o seguinte:

  • Aumento do limite do capital autorizado, passando de 400 milhões para 800 milhões de ações ordinárias, mediante a modificação do artigo 5º do Estatuto Social da empresa;
  • Inclusão da gestão de ativos intangíveis não-financeiros no escopo do objeto social, por meio de alteração no Estatuto Social;
  • Modificação no número de Co-Vice-Presidentes e nas atribuições para a nomeação do Presidente e do Vice-Presidente do Conselho de Administração;
  • Consolidação do Estatuto Social para refletir as alterações propostas acima.

       O que une estas companhias é o fato de elas atuarem no varejo, sendo a primeira no setor de moda, a segunda em móveis e eletrodomésticos e a terceira no de alimentos. Este segmento viu boa parte dos investidores migrarem para outros setores da Bolsa brasileira, principalmente porque os ativos vinham derretendo desde a pandemia de covid-19, que chegou ao Brasil em fevereiro de 2020. Além disso, a concorrência com varejistas chinesas também afetou grandemente o lucro dessas operações.

       Ainda assim, por mais crítico que seja o panorama, ninguém duvida da resiliência destas empresas e do quanto estão focadas em reverter a situação. Para o economista Volnei Eyng, CEO da Multiplike, o segmento está “apertado”, mas ainda há oportunidades.

Mas, e o fundo do poço?

       Para Eyng, o varejo ainda não atingiu o fundo do poço, considerando a recuperação em 2023, as movimentações recentes e o início de 2024. Ele lembra que no acumulado de janeiro a novembro de 2023, o comércio varejista registrou um aumento de aproximadamente 2,3%, contrastando com a queda de -0,8% no mesmo período de 2022. 

       “O crescimento de 1,2% em 2021 foi impulsionado pela recuperação pós-pandemia e pelo aumento do endividamento das famílias. As expectativas para 2024 apontam para um crescimento no faturamento entre 2% e 3%, refletindo projeções para o consumo interno”, diz.

       “Destaca-se um manifesto ao Ministério da Fazenda, pedindo o fim da isenção de imposto para produtos exportados até US$ 50, alegando concorrência desigual. O setor enfrentou desafios na Bolsa, com a retomada de ofertas de ações mais lenta do que prevista, devido a incertezas que desencorajam investidores”, ressalta.

Houve reestruturação, então?

       Conforme o economista, as empresas focam em reestruturação interna em 2023, com cortes de custos, fechamento de lojas e ênfase no comércio eletrônico. “A perspectiva de redução das taxas de juros não impulsionou as ofertas de ações devido a incertezas macroeconômicas, concorrência e impactos da Medida Provisória 1.185 na tributação”, destaca.

       Ele reforça que subsetores, como varejo de alimentos, devem ter um 2024 mais favorável após desafios em 2023, especialmente devido à deflação. “Uma recuperação rápida é esperada quando os consumidores têm mais dinheiro disponível”, indica.

       Ainda assim, elenca que a recomendação é de cautela para investidores interessados no varejo devido às incertezas persistentes, cenário macroeconômico, concorrência e impactos da Medida Provisória 1.185.

       “O investidor de varejo deve se ater às companhias que estão conseguindo se adaptar a um novo ritmo de consumo, principalmente no que tange à digitalização. Na sequência, o investidor de varejo deve procurar as empresas que estão diminuindo seu endividamento, frisa.

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