Há um ano, o mercado financeiro já tinha fechado naquela quarta-feira, 11 de janeiro, os brasileiros ainda conversavam sobre os eventos tristes do domingo anterior em Brasília, quando uma “bomba” explodiu por meio de um Fato Relevante no início da noite: a gigante Lojas Americanas (AMER3) divulgava uma falha de R$ 20 bilhões na sua contabilidade. Como uma empresa até então sólida, tradicional, popular, atuando com lojas físicas e no e-commerce, empregando milhares de pessoas poderia estar vivendo isso? Ninguém dormiu.

O CEO Sérgio Rial, que fez o anúncio, deixou a empresa nove dias depois. O caso teve o efeito de um tsunami no mercado financeiro, com as ações da varejista caindo cerca de 80% no dia seguinte ao anúncio do rombo. Ao longo das apurações que se sucederam, o rombo era, na verdade, em torno de R$ 43 bilhões, valor de dívidas que não haviam sido lançadas nos resultados financeiros da Americanas, ou seja, estavam “escondidas”.

No dia 12 de janeiro os papéis já despencaram na bolsa, e a sangria não foi contida. Desde a quarta fatídica, as ações da AMER3 chegam abaixo de R$ 1, valendo apenas centavos, tornando, assim, o que se chama de “penny stocks”.

Mais uma vez, é uma lição: manter uma carteira diversificada é muito mais seguro neste universo do mercado de investimentos.

Impactos

Segundo Roberto Aminger, sócio da iHUB Investimentos, um dos principais impactos do Caso Americanas foi percebido na indústria de fundos de investimentos. “Por exemplo, os fundos de crédito privado que tinham posições em Debêntures da empresa, foram obrigados a atribuir valor zero para as mesmas. De acordo com a exposição destes fundos, o impacto foi muito significativo, ocasionando uma redução no valor da cota que prejudicou todos os investidores cotistas”, disse ao Portal Acionista.

E isso ocorre também aos fundos de ações que mantinham posições, algumas relevantes, compradas em ações da AMER3, pois o valor da ação despencou de R$ 11,08 em 9/01/23 para R$ 0,87 em 9/01/24, ocasionando perdas substanciais aos cotistas dessa classe de fundos, conforme Aminger.

O especialista  ainda lembra que alguns bancos tentaram impetrar ações judiciais como, por exemplo, o Banco Safra para impedir a Recuperação Judicial (RJ), mas não obteve sucesso. “A Americanas irá receber um aumento de capital de R$ 24 bilhões. Desse total, haverá uma injeção de R$ 12 bilhões de seus três acionistas de referência e o restante é a conversão de dívida dos credores em novas ações da empresa. Esse montante é expressivo, porém, está longe de resolver um rombo que estima-se estar na casa dos R$ 50 bilhões”, conta.

Quem mais perdeu?

A corda sempre arrebenta para o lado mais fraco. Daí a importância da diversificação dos investimentos. O Acionista sempre bate nessa tecla: quanto mais diversificada a carteira, menos exposição aos riscos, porque nunca se sabe o que pode acontecer. 

Para Aminger, a grande lição que esse caso nos trouxe à tona, “é que os grandes perdedores nesse um ano de escândalo contábil, foram os investidores minoritários da bolsa e dos cotistas pessoas físicas dos fundos de investimentos.” 

Americanas no mercado de Renda Fixa

A Americanas, empresa considerada uma AAA brasileira, apresentava um déficit superior ao seu próprio patrimônio líquido. De acordo com Lucas Sharau, assessor na iHUB Investimentos, o impacto na marcação dos preços dos títulos de dívida da Lojas Americanas foi significativo, sendo marcados à zero. Investidores que possuíam títulos da empresa viram seus investimentos desvalorizados drasticamente.

Até então, segundo Sharau, no cenário brasileiro, empresas com avaliação AAA podiam emitir dívidas sem a necessidade de alocar garantias adicionais, e as taxas desses títulos eram comparáveis às dos títulos públicos. “Entretanto, o estresse no mercado de Renda Fixa gerou insegurança generalizada entre os investidores, resultando em um aumento do spread de crédito. Mesmo empresas bem avaliadas pelo mercado sofreram com o ceticismo dos investidores, elevando as taxas.”

Depois, o  ciclo de cortes de juros em escala global, amenizou o estresse causado pela crise nas Lojas Americanas, conforme o assessor. “Os spreads de crédito no mercado de dívidas privadas começaram a se reduzir, mas a desconfiança persistiu, mantendo os spreads em níveis superiores aos anteriores à crise, apesar do fechamento da curva”, comentou.

Além disso, Sharau destaca que, para fins de comparação, as NTN-Bs, as NTN-F e as LTNs tornaram-se referências nesse contexto, evidenciando as mudanças no mercado de crédito pós-crise. “Este episódio da Lojas Americanas não apenas revela a vulnerabilidade mesmo de empresas consolidadas, mas também destaca as transformações duradouras no mercado de renda fixa brasileira, moldadas pela crise e suas consequências.”

A  Recuperação Judicial

Encurralada, já mal vista pelo mercado e investidores que cada vez mais acreditavam em fraude do que em erro, Americanas recorreu à Recuperação Judicial, como falado anteriormente.  

A quantia em questão, cerca de R$ 40 bilhões, é devida a quase oito mil credores, que andam cobrando o pagamento o mais antecipadamente possível. Mas a empresa conseguiu uma Tutela de Urgência com o tribunal pedindo um congelamento do pagamento de qualquer conta antecipadamente por 30 dias. Só recentemente a empresa entrou em RJ.

Foi fraude sim

A Americanas assume que os erros contábeis eram, de fato, fraude, apenas em junho. A investigação interna conduzida pela empresa apontou que a antiga diretoria tinha conhecimento da fraude contábil. O documento foi elaborado por assessores jurídicos que acompanham a varejista desde que ela entrou em Recuperação Judicial, e foi apresentado ao conselho de administração da empresa.

De acordo com o relatório, as demonstrações financeiras da empresa vinham sendo fraudadas pela antiga diretoria da companhia, que atuou até 2022. Também foi descoberto que os executivos trabalhavam em conjunto para esconder o esquema de fraude e forjar o aumento dos lucros da empresa, o que resultava em pagamentos astronômicos de bônus.

Apesar das informações divulgadas no relatório, o documento dizia não ser possível afirmar qual era o nível de conhecimento de cada sócio em relação aos números da companhia.

B3 suspende Americanas do Novo Mercado

Além de retirar a Americanas (AMER3) dos índices, a B3 suspendeu a empresa do Novo Mercado por tempo indeterminado, após descumprimento do contrato privado que a bolsa possui com as empresas de capital aberto. Além disso, a companhia terá que pagar multas para os integrantes da diretoria, do conselho de administração e do comitê de auditoria.

Os cinco executivos envolvidos deverão pagar R$ 395 mil, teto da sanção prevista no regulamento do segmento de listagem, enquanto os outros 17 administradores, R$ 263,3 mil cada um.

 A bolsa identificou violação de quatro pontos do contrato, são eles:

  • Existência e acompanhamento de área de auditoria interna que atuasse de forma efetiva
  • Existência e acompanhamento de controles internos efetivos
  • Efetiva observância da política de gerenciamento de riscos
  • Avaliação efetiva e diligente das informações trimestrais e demonstrações intermediárias e financeiras da companhia.

(Fontes: Portal Acionista/Money Times/Contábeis/B3)

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