Neste estudo, exploraremos a estratégia do portfólio 60/40, amplamente reconhecida no mundo dos investimentos. A análise incluirá não apenas a composição dessa estratégia de carteira, mas também a aplicação do ferramental da plataforma Economatica para simular, testar e avaliar seu desempenho. Além disso, focaremos em outros indicadores cruciais de risco e retorno, essenciais para qualquer investidor.
Jack Bogle, um dos investidores mais influentes da história e fundador da Vanguard Group – uma das maiores gestoras de ativos do mundo e produtora de ETFs, superada apenas pela iShares da BlackRock – foi um defensor desta estratégia. Bogle era conhecido por sua abordagem simples, mas eficaz, de investimento, que não desprezava o princípio essencial de diversificação, o tema central da teoria moderna de portfólio de Markowitz. O portfólio 60/40, caracterizado pela divisão do patrimônio em 60% de renda variável e 40% de renda fixa, ganhou destaque pela sua facilidade de implementação e pelos resultados positivos, tanto em termos de rentabilidade quanto de volatilidade, esta última sendo um indicador do risco associado ao investimento.
No contexto do mercado americano, a estratégia do portfólio 60/40 é frequentemente implementada através do investimento em ETFs, fundos passivos de baixo custo que espelham o desempenho do mercado acionário americano. Para esse estudo, utilizaremos o ETF VTI (Vanguard Total Stock Market Index) como representante dos 60% da alocação em renda variável. O VTI tem como objetivo replicar o desempenho do índice CRSP US Total Market Index, que inclui praticamente todas as ações de capital aberto negociadas nos EUA. Para os 40% da parcela de renda fixa, usaremos o GOVT (iShares U.S. Treasury Bond ETF), que busca replicar a exposição em diversos títulos do Tesouro Americano.
Considerando a janela dos últimos 10 anos, o portfólio 60/40 americano obteve um desempenho de 109% no período, contra 11,68% do ETF de renda fixa e 194% do ETF de renda variável.
O portfólio 60/40 mostrou um desempenho relevante em 2014, com um ganho de 9,58%, mas enfrentou um ano mais desafiador em 2015, com apenas +0,90% de crescimento. Nos anos seguintes, manteve um bom ritmo, com destaques em 2017 e 2019, registrando crescimentos de 13,31% e 21,12%, respectivamente. Os anos de 2018 e 2022 foram difíceis para a estratégia, com quedas de -2,70% e -16,51%, marcando algumas das piores performances anuais desde a concepção da estratégia. Já em 2023, a carteira apresentou um desempenho de 16,07% até o momento em que este estudo foi escrito.
Mas o retorno em si só não diz muito, considerando que a grande ideia do portfólio em questão é oferecer uma relação risco x retorno mais vantajosa do que outras combinações disponíveis na construção de uma carteira. Ao analisarmos a volatilidade móvel entre nosso portfólio 60/40 e o S&P 500, observa-se uma diferença relevante, ou seja, o portfólio 60/40 reduz o risco da carteira, mas não a ponto de abrir mão de uma parcela significativa do retorno.
Embora a estratégia do portfólio 60/40 seja amplamente utilizada nos mercados globais, ela tem enfrentado críticas recentes no mercado americano. Essas críticas estão relacionadas principalmente à mudança na dinâmica global, sobretudo sob a ótica das taxas de juros e a limitação da estratégia, além de outros fatores. Diante desse cenário, surge a questão: como essa estratégia se aplicaria no mercado brasileiro?
Para aprofundar nossa compreensão sobre a estratégia do portfólio 60/40 no mercado brasileiro, adaptaremos a primeira parte do nosso estudo com um foco especial nos índices locais. Para isso, vamos simular o desempenho utilizando o Ibovespa e o IMA-Geral como representantes das classes de ativos de renda variável e renda fixa, respectivamente. O Ibovespa é o principal índice do mercado de ações brasileiro, enquanto o IMA-Geral abrange uma diversidade de títulos públicos federais, cada um com seu próprio perfil de risco, duração e tipo de retorno, apesar de os ETFs como BOVA11 e IMAB11 sejam opções para representar fundos passivos.
No Brasil, a estratégia do portfólio 60/40 demonstrou um desempenho expressivo em um período de dez anos. Entre 2013 e dezembro de 2023, a carteira 60/40 acumulou um retorno de 179,45%, superando o IMA-Geral com 176,8%, o Ibovespa com 152,78% e até mesmo o CDI, frequentemente citado como um benchmark “imbatível” no Brasil, com um retorno de 140,78%. Esses resultados sugerem que, apesar das particularidades do nosso mercado, a estratégia 60/40 pode ser uma opção eficaz para equilibrar risco e retorno.
Em 2014, o portfólio 60/40 teve uma performance de +3,6%, mas acabou devolvendo a performance no ano seguinte com uma queda de -4,3% em 2015. Os dois anos seguintes foram de ganhos significativos com +32,4% e +21,5%, em 2016 e 2017 respectivamente.
Em 2022 e 2023, o portfólio voltou a apresentar crescimentos de 7,1% e 17,1%, respectivamente. Após analisarmos a estratégia do portfólio 60/40 tanto no Brasil quanto nos EUA, surge a questão: essa abordagem realmente funciona? E qual seria a combinação ideal de ativos 80/20, 50/50? A resposta para a composição ideal de ativos não é definitiva e pode variar de acordo com a idade, objetivos e tolerância ao risco de cada investidor. Enquanto alguns sugerem uma maior alocação em ações na juventude e uma transição gradual para títulos com o avançar da idade, outros podem preferir abordagens diferentes.
A teoria moderna do portfólio também recomenda uma diversificação mais abrangente, estendendo-se além das fronteiras dos mercados domésticos para incluir investimentos globais. Essa expansão permite um alcance mais amplo e potencialmente mais oportunidades na redução dos riscos.
Em suma, o portfólio 60/40, junto de estratégias de diversificação similares, permanece como um pilar para investidores que buscam equilibrar risco e retorno. Embora não seja uma garantia contra perdas, a abordagem de investir de forma ampla e manter os custos baixos, mantendo-se fiel à estratégia a longo prazo, mostra-se eficaz para investimentos de longo prazo.
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