Nesta penúltima “Os mercadores da noite” de 2023, farei um giro pelo noticiário mundial, começando pelo Brasil.

Aqui, o mais importante é o rally de fim de ano da B3, que costuma acontecer em dois a cada três exercícios e que, desta vez, teve diversos motivos para se materializar. 

– A agência de ratings Standard & Poor’s elevou a nota do Brasil de BB- para BB, o que nos leva a dois níveis do “grau de investimento”, tal como ocorreu em 2008, durante o segundo mandato Lula, grau esse que perdemos durante o desgoverno Dilma, aquela ex-comunista que agora alardeia voar de primeira classe por ser presidente de banco.

– O Congresso Nacional aprovou a Lei de Diretrizes Orçamentárias com déficit fiscal zero em 2024.

Na Argentina, o presidente Javier Milei entrou de sola logo nos primeiros dias de seu mandato, cumprindo, com extremo rigor, suas promessas anarcoliberais (seja lá o que isso significa) de campanha.

Entre os desafios que enfrentará, os principais são:

– Minoria no Congresso.

– Tremendo sacrifício imposto ao já sofrido povo hermano.

Num surto de burrice, Milei está hostilizando a China, grande compradora dos grãos nas terras  extremamente férteis dos pampas.

Difícil acreditar que ele possa ter sucesso em sua empreitada, tal como aconteceu com seus antecessores peronistas, kirchneristas, radicais e militares. Sempre erraram.

Quem quebrou a cara foi Nicolás Maduro que, de repente, cismou em anexar dois terços do território da vizinha Guiana, isso depois que foi descoberta uma jazida colossal de petróleo nas águas nacionais da região de Essequibo.

Tentando uma saída o menos desonrosa possível para sua desastrada ideia, Maduro se reuniu, na ilha caribenha de São Vicente e Granadina, com o presidente guianense Irfaan Ali, numa mesa despojada que nem copo d’água havia para as delegações.

Talvez Nicolás Maduro, em sua notória ignorância, tenha julgado que poderia receber o apoio de Lula que, nessa hipótese absurda, daria passagem, no nosso território, para o exército venezuelano chegar a Essequibo.

Nos Estados Unidos, a notícia da vez é a decisão da Suprema Corte do estado do Colorado de proibir a inclusão do nome de Donald Trump nas cédulas das eleições presidenciais do ano que vem, por grave crime eleitoral ao incentivar a invasão e depredação do Capitólio em 6 de janeiro de 2021.

À primeira vista, essa cassação no Colorado parece uma notícia terrível para o eventual (as primárias ainda nem começaram) candidato republicano à Casa Branca.

Mas há de se considerar alguns aspectos:

– o Colorado é um estado democrata que pratica, nas eleições, o princípio de “The winner takes all”, ou seja, mesmo que um dos concorrentes vença por um único voto, todos os votos do estado no Colégio Eleitoral vão para ele.

Portanto, com Trump ou sem Trump, Joe Biden vence da mesma maneira.

– A Suprema Corte dos Estados Unidos pode anular a decisão de sua congênere do Colorado.

– Os republicanos devem alegar perseguição política e aumentar seu apoio (e suas doações) à campanha de Donald Trump.

– Por outro lado, se outros estados (principalmente swing states, que costumam não ter preferência partidária) imitarem o Colorado, e forem legitimados pela Suprema Corte em Washington D.C., aí Trump se lasca todo e pode nem ser o escolhido na convenção republicana em julho.

– Ainda correm na Justiça diversos outros processos contra Donald Trump.

Quando a Rússia invadiu a Ucrânia há quase dois anos, julgou-se que seria uma guerra rápida. Com efeito, no início as tropas e blindados russos chegaram aos subúrbios de Kiev. 

Só que o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky revelou-se um obstinado lutador.

Com auxílio em armas, munições e dinheiro dos Estados Unidos e da União Europeia o exército de Zelensky, composto em sua maioria por soldados convocados às pressas, foi fazendo os russos recuarem, limitando hoje suas conquistas a algumas províncias do leste ucraniano, nas quais boa parte da população é partidária do governo de Moscou.

Agora o presidente Biden não está conseguindo apoio da Câmara dos Representantes para aprovar mais verbas para a Ucrânia. Na União Europeia, a guerra já não está motivando as pessoas.

É bem possível que Putin e Zelensky se sentem à mesa de negociações e a Rússia aceite ficar com “apenas” alguns territórios do leste ucraniano e não com o país todo como queria no início.

O último e mais recente acontecimento internacional importante são os ataques no mar Vermelho, por parte dos piratas iemenitas Houthis apoiados pelo Irã, em represália à destruição de Gaza por Israel, ataques esses que obrigam centenas (ou milhares) de navios a evitar a rota do canal de Suez e contornar o Sul da África.

Em diversas ocasiões, tal tipo de bloqueio já se transformou em guerra, em muitas guerras.

Essa poderá ser a notícia mais importante dos últimos dias de 2023 e do início de 2024.

Boas Festas para os amigos assinantes, leitores e ouvintes!

Ivan Sant’Anna

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