Em continuação às comemorações no Mês da Consciência Negra, cuja data marcante foi celebrada nesta segunda feira 20 de novembro, hoje, inspirados por guerreiros como Zumbi dos Palmares, que protagornizou uma luta incansável por justiça e igualdade. Reunimos algumas personalidades das novas gerações que atuam como ativistas brasileiras e contribuem de forma significativa, como importante voz contemporânea em defesa dos negros e das mulheres, visando a igualdade racial do País.
Na celebração dessa data, aproveitamos para reconhecer os feitos do passado e nos inspirarmos, com olhar no presente, para as novas gerações que continuam a ecoar as demandas por inclusão e equidade no País.
As vozes negras se multiplicaram de diversas formas, entre elas as redes sociais, dando visibilidade para as novas gerações, como influenciadoras. O objetivo é o aprendizado sobre esses potentes guerreiros e guerreiras que lutam por um Brasil sem a máscara da “democracia racial”.
Personalidades negras que inspiram as novas gerações
Vivemos em um Brasil diverso, onde políticos, escritores e artistas emergem como líderes e novas gerações do movimento negro, que busca não só recontar a narrativa histórica, mas destacar a luta por direitos iguais em reparação a essa dívida histórica da escravidão, e isso só é possível através da transformação da sociedade atual.
A luta é contra o racismo estruturado, infiltrado numa sociedade de base racista, e por isso aproveitamos para reverenciar essas personalidades.
Conceição Evaristo
(1946)
A escritora e professora Conceição Evaristo é um dos maiores nomes da literatura brasileira contemporânea e é uma das grandes ativistas do movimento negro. Nascida em Belo Horizonte (MG), teve a infância e a adolescência marcadas pela miséria, na extinta favela do Pindura Saia, na região centro-sul da capital mineira, até sua mudança para o Rio de Janeiro em 1973, onde se graduou em Letras pela UFRJ. Formada em Letras, Conceição fez Mestrado e Doutorado e deu aulas em escolas e na Universidade.
Conceição Evaristo foi finalista e contemplada com o Prêmio Jabuti de Literatura (O principal prêmio do Brasil) em 2015. Em 2018 ganhou o Prêmio de Literatura do Governo de Minas Gerais, “pelo conjunto de sua obra, que é marcada pelo compromisso com os excluídos e pela denúncia dos males da sociedade, tendo como objetivo contribuir para a transformação desses problemas e a melhoria da qualidade de vida das pessoas que mais precisam, através de uma arte sensibilizadora veiculada pela Literatura, daí ser reconhecida como uma das mais importantes escritoras brasileiras da contemporaneidade.”
As suas publicações vão desde poemas, ensaios e até mesmo ficção. A sua escrita é, por ela mesma, chamada de “escrevência” – uma escrita de vivências, que carregam tanto sua própria experiência de vida, como a de seu povo, de quem é “porta-voz”. Ao conhecer algumas de suas obras, podemos reparar que a escritora aborda temas importantes para a humanização, como a questão étnico-racial, a miséria, a violência e a exclusão social no Brasil.
“Vozes-Mulheres
A voz de minha bisavó
ecoou criança
nos porões do navio.
ecoou lamentos
de uma infância perdida.
A voz de minha avó
ecoou obediência
aos brancos-donos de tudo.
A voz de minha mãe
ecoou baixinho revolta
no fundo das cozinhas alheias
debaixo das trouxas
roupagens sujas dos brancos
pelo caminho empoeirado
rumo à favela
A minha voz ainda
ecoa versos perplexos
com rimas de sangue
e
fome.
A voz de minha filha
recolhe todas as nossas vozes
recolhe em si
as vozes mudas caladas
engasgadas nas gargantas.
A voz de minha filha
recolhe em si
a fala e o ato.
O ontem – o hoje – o agora.
Na voz de minha filha
se fará ouvir a ressonância
O eco da vida-liberdade.”
Recomendação do Livro: Poemas da Recordação e Outros Movimentos, por Conceição Evaristo.
Sueli Carneiro
(1950)
Conhecida por sua luta antirracista, feminista e sua atuação em Geledés — Instituto da Mulher Negra (fundado em 1988), que tem como missão combater a discriminação presente na sociedade. Filósofa, escritora e ativista do movimento negro, Aparecida Sueli Carneiro, que nasceu em 1950 no bairro da Lapa em São Paulo, é considerada uma das principais autoras do feminismo negro no Brasil. Ela foi a primeira mulher negra a ganhar o título de Doutora Honoris Causa da Universidade de Brasília.
Sueli possui uma vasta produção intelectual, com mais de 150 artigos publicados, além de 17 livros sobre gênero, etnia e relações sociais. Ao longo de sua vida e obra, a filósofa elaborou, em especial, diversos conceitos sobre temas raciais e o Brasil contemporâneo, nas mais diversas esferas públicas. Entre esses, carrega como seus pensamentos e escritos: O Conceito de dispositivo de Racialidade; o Epistemicídio; Enegrecendo o Feminismo e Direitos Humanos: Por um universalismo concreto.
“Somos seres humanos como os demais, com diversas visões políticas e ideológicas. Eu, por exemplo, entre esquerda e direita, continuo sendo preta.”
Recomendação do Livro: “Racismo, Sexismo e Desigualdade no Brasil“, por Sueli Carneiro.
Djamila Ribeiro
(1980)
Mulher negra, filósofa ativista social, professora e escritora, Djamila ganhou destaque no País ao falar sobre ativismo negro, corajosamente denunciando a violência e a desigualdade social – principalmente contra negros e mulheres. Ela é coordenadora do “Feminismos Plurais”, instituto que oferece serviços de acolhimento e produção de saberes feministas e antirracistas.
Djamila traz à tona o racismo estrutural, que é herança dos tempos da escravidão e que condena, até os dias de hoje, a população negra a um determinado lugar social, com piores índices de desenvolvimento humano e fora dos espaços de poder. A escritora sublinha na sua luta que em 1888 foi assinada a lei Áurea, libertando homens e mulheres da escravatura depois de praticamente quatro séculos de escravidão, mas sem nenhum tipo de preocupação de como seria a inclusão dos negros na sociedade.
“O racismo estrutura a sociedade brasileira, e, assim sendo, está em todo lugar.”
Recomendações:
Livro: “Lugar de Fala” (Jandaíra/Feminismos Plurais), por Djamila Ribeiro.
Podcast: Podpah, que na edição 679, recebeu Djamila Ribeiro, que é sinônimo de conhecimento e resistência para o movimento negro. Confira no Spotify.
Lembre-se: a diferença está no detalhe, empatia é fundamental e sempre é tempo de mudarmos nossa forma de pensar e agir.
Aguarde, na próxima sexta-feira, mais dicas para você.
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