No último sábado, dia 21 de outubro, a coluna do jornalista Nelson de Sá, na “Folha de S.Paulo[1]”, trouxe uma informação reveladora sobre a situação dos veículos tradicionais de mídia nos EUA: as plataformas, como Google, Facebook e X (o ex-Twitter), desistiram das notícias, a ponto de os editores do principal jornal do mundo, o “The New York Times”, já se perguntarem como será o futuro do tráfego pós-Google”.
A informação repercutida por Sá, que há anos acompanha atentamente o mercado de mídia global, é significativa porque mostra que, em que pese a constante campanha em favor do jornalismo profissional, peça fundamental para a democracia no século XX, os sinais de crise desse segmento dos meios de comunicação permanecem, conforme é possível identificar em três pontos: (i) a débâcle financeira, responsável pelo fechamento de veículos no Brasil e no exterior; (ii) a queda na audiência; e (iii) a perda de credibilidade dos veículos jornalísticos junto à opinião pública (de acordo com levantamento recente feito pelo Reuters Institute, há um crescente desinteresse pelas notícias).
Se, do ponto de vista da mídia tradicional, este é um momento de fragilidade, do ponto de vista da produção de conteúdo nativo digital, talvez esta seja a Era de Ouro. Ainda que tardia, a crescente onda de podcasts no Brasil é um exemplo notável disso. Em 2005, podcast foi escolhida a palavra do ano no mundo – e, naquela época, só os early adopters abraçaram essa iniciativa por aqui, de modo que poucos se engajaram nessa seara (daí a originalidade do Podcast Rio Bravo, no ar desde 2007). De 2018 para cá, no entanto, empresas como o Grupo Globo e o Grupo Folha passaram a investir em produções originais, o que, para a surpresa de alguns executivos, atraiu uma audiência massiva para esses conteúdos.
Cases de sucesso não faltam
Na Globo, o podcast “O Assunto”, liderado inicialmente pela jornalista Renata Lo Prete, traz uma leitura mais densa de um dos tópicos mais importantes do noticiário. No campo narrativo, “República das Milícias”, adaptação do livro homônimo do jornalista e cientista político Bruno Paes Manso, indica que o público pode, sim, se interessar pelo assunto segurança pública numa abordagem mais sofisticada.
Já o jornal “Folha de S.Paulo” emplacou, em 2018, a série “Presidente da Semana”, que, ao longo daquele ano, apresentava o perfil de todos os presidentes da história do país. O êxito foi tamanho que o podcast virou livro, e o seu autor, Rodrigo Vizeu, foi trabalhar no Spotify. Em 2022, o repórter e escritor Chico Felitti apresentou o hit “Mulher da Casa Abandonada”, cujo hype foi de tal monta que, não contente em ouvir a atração, parte dos ouvintes chegou mesmo a passar em frente à referida casa no bairro de Higienópolis, o que aponta que a mídia ainda é capaz, para o bem e para o mal, de engajar o público em torno das histórias que estão sendo contadas.
Brasil, país dos podcasts
De acordo com os números divulgados pelo Spotify[2] em setembro, no Brasil, somente em 2023, houve um acréscimo de 28% no consumo de podcasts, em linha com o aumento de 36% na produção desse tipo de conteúdo no período. Ainda de acordo com a mesma pesquisa, os brasileiros ouvem uma média de 7,5 horas de podcasts por semana. Em termos regionais, o Brasil é líder na América Latina, superando Argentina, Chile, Colômbia e México em horas ouvidas.
O fato de o Brasil ser um dos principais mercados do mundo é uma oportunidade para os grandes grupos de mídia, superando, de um lado, certa desconfiança quanto à sustentabilidade desse formato; e, de outro, abrindo espaço para que outras histórias possam alcançar corações e mentes do público.
Afora isso, podcasts proporcionam um espaço para a conversação mais elaborada, assim como aprendizado de longo prazo. Nesse último caso, por exemplo, escolas e universidades poderiam se beneficiar se oferecessem ao público conteúdo original nas suas áreas de excelência – essas instituições se estabeleceriam, assim, como fontes referendadas de conhecimento, o que vale muito num ambiente é bastante contaminado pelo caráter tóxico das mídias sociais.
Num momento em que a atração por notícias está fora do radar de plataformas como Meta e Alphabet, podcasts representam um alento para quem busca informação de qualidade.
Quem tem ouvidos, ouça.
Dia 21 de outubro é o dia nacional do Podcast[3].
Fabio Cardoso é jornalista e editor de conteúdo da Rio Bravo.
[1] Disponível (para assinantes) em: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/nelsondesa/2023/10/nos-eua-plataformas-desistem-das-noticias.shtml Acesso: 23 out. 2023.
[2] Disponível em: https://www.tecmundo.com.br/internet/272173-dia-do-podcast-consumo-entre-brasileiros-cresceu-spotify.htm Acesso em 23 out. 2023.
[3] Disponível em: https://www12.senado.leg.br/radio/1/noticia/2022/10/20/dia-do-podcast-e-celebrado-em-21-de-outubro-no-brasil#:~:text=O%20DIA%2021%20DE%20OUTUBRO,E%20PRINCIPALMENE%20DURANTE%20A%20PANDEMIA. Acesso em 23 out. 2023.
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