(*) Marcus Biazatti

O caminho da sustentabilidade aponta, hoje, para muitos tipos de bioplástico pesquisados e com graus diversos de desenvolvimento e aplicação: a partir de biomassa, de base biológica, a partir da ação de bactérias, de resíduos orgânicos que têm importância para mitigar o impacto no meio ambiente. No entanto, mudar a lógica de impacto no meio ambiente e, consequentemente, no planeta, exige um olhar ampliado para todos os elementos que integram essa cadeia. E esse exercício é o desafio comum de quem parte do olhar amazônida.

Com esse propósito em mente, começamos, há mais de um ano, o desafio de tornar realidade um bioplástico que fizesse sentido para a Amazônia que pudesse aliar o conhecimento tradicional ribeirinho com a sustentabilidade e o desenvolvimento de uma economia local de base florestal. Pensar a região é, antes de tudo, incluir quem vive nela. E este foi o paradigma norteador do projeto “Bioplástico – Formação de cadeia produtiva para pré-processamento de resíduos orgânicos para o uso na produção de bioplástico”.

Em uma colaboração inovadora, comunidades amazônicas, empresas, ONGs e pesquisadores de universidades reuniram-se com o objetivo desenvolver e produzir, em escala de produção comercial, um tipo especial de plástico composto parcialmente por fibras do ouriço da castanha-do-Brasil. Para além do desafio ambiental, conseguimos valorizar um subproduto desta cadeia já estruturada no Amazonas, mas que tem muito potencial de crescimento, já que agrega valor, fortalece as organizações que trabalham nela e ajudam a manter a floresta em pé.

É isto que chamamos de bioeconomia: a união entre pesquisa, inovação, comunidades e organizações, mercado e indústria. Não existe bioeconomia sem fortalecimento e governança territorial. A ideia é agregar valor na base, ter um produto sustentável e com viabilidade econômica. Estima-se a geração de R$ 4,8 milhões em renda para as comunidades envolvidas, dentro de um faturamento total de R$ 20 milhões nos três anos iniciais de comercialização, assim como uma redução significativa de mais de 300 toneladas de emissão de CO2 nesse período.

Até o momento, existem cinco organizações do município de Lábrea (a mais de 800 quilômetro de Manaus) envolvidas na etapa inicial de coleta e beneficiamento, havendo mais de 30 interessadas em integrar o projeto.

O Idesam dedicou-se a mapear e desenvolver a cadeia produtiva adequada para a produção do bioplástico e encontrou, na castanha e seus subprodutos, maior segurança de produção, de sustentabilidade ambiental e de retorno para as comunidades. A Universidade do Estado do Amazonas (UEA), outra parceira do projeto, esteve focada na pesquisa e desenvolvimento das formulações do bioplástico feito a partir do ouriço desta amêndoa tão brasileira, garantindo padrões técnicos exigidos pela indústria.

Nesse processo, tivemos a colaboração de diferentes pesquisadores. O resultado é a possibilidade de aplicação em uma ampla variedade de produtos finais como protetores,  embalagens, tampas, alças, recipientes, entre outros, atendendo às exigências técnicas e econômicas da indústria.

O processo envolve a trituração e moagem do material para encontrar a quantidade exata de material necessária para substituir ou reforçar o polímero que dá origem ao biocompósito. Para isso, estão previstos para os próximos meses, a instalação de secador solar, maquinário de trituração e moagem e a consolidação do galpão para o processamento inicial do ouriço em uma associação de produtores agroextrativistas em Lábrea, assim como a validação da logística de transporte para Manaus.

No âmbito das pesquisas científicas, as etapas de tratamento químico superficial do ouriço e as análises microscópicas de grânulos, caminham para a reta final. A previsão é de conclusão do projeto no início de 2024.

A iniciativa, liderada pela fundação World-Transforming Technologies (WTT), organização latino-americana focada em inovações tecnológicas de impacto socioambiental, iniciou em 2022 com o trabalho de campo, pesquisa e articulação entre organizações.

Através do suporte financeiro do Fundo JBS pela Amazônia (FJBSA) e do Programa Prioritário em Bioeconomia (PPBIO), política pública da Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa), coordenada pelo Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável do Amazonas (Idesam), temos um arranjo financeiro e de execução inovador, unindo todos os que estão dispostos a gerar impacto positivo para os povos da Amazônia e para o meio-ambiente.

Seguimos acreditando na importância de estruturar equipes científicas, cooperações institucionais e o protagonismo das comunidades tradicionais da Amazônia orientadas para responder a grandes desafios socioambientais.

(*) Marcus Biazatti é engenheiro florestal com quase 20 anos de atuação com cadeias produtivas sustentáveis da Amazônia e líder da Iniciativa Estratégica Produção Sustentável do Idesam – Instituto de Desenvolvimento da Amazônia.

Foto: Flávia Araujo/Idesam – Pesquisadores reuniram comunidade ribeirinha para juntar conhecimento.

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