Um painel 100% de mulheres profissionais comprometidas com suas empresas em gerir a sustentabilidade e levar adiante projetos e ações ESG. Isso aconteceu durante a primeira conferência da Associação Brasileira de Crédito de Carbono e Metano (ABCarbon) em 1º de julho na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul, em Porto Alegre, com “elas” dominando a mesa do debate à tarde. O Portal Acionista conta aqui o trabalho de duas dessas mulheres que encabeçam as políticas ESG, uma do setor privado e outra do setor público: Morgana Marca, da Piccadilly; e Viviane Lucas da Costa, do Banrisul.
A coordenadora de ESG da Piccadilly, Morgana Marca, levou ao debate o que a empresa gaúcha de calçados vem fazendo ao longo das últimas décadas. “O DNA do ESG, da sustentabilidade já está na empresa há muito tempo, desde 1995 quando passou pelo desafio de parar de trabalhar com o couro e passar para o sintético em uma época em que calçado bom, de qualidade e durabilidade tinha que ser de couro”, contou ao Acionista. Essa foi a transição da companhia para a sustentabilidade, quando a produção passou a utilizar materiais não derivados de animais.
Entre as principais ações ESG da empresa, segundo Morgana estão:
- Reciclagem de 65% dos resíduos – desde 2013 a Piccadilly não usa mais aterros para descarte, os que não são passíveis de reciclagem vão para o coprocessamento, para tecnologia do cimento.
- Comitê de Inovação e Sustentabilidade – criado há seis anos, antes apenas chamado de Comitê de Sustentabilidade. Orgânico, aberto a todas as pessoas da empresa
- Participa do Programa Origem Sustentável da Abicalçados há 10 anos, onde conquistou o selo diamante.
- Ações culturais e ambientais, como a Caminhada Ecológica que esse ano recolheu 1 tonelada de resíduos.
Cadeia produtiva junto – De acordo com a coordenadora, até 2025 a proposta é todos os fornecedores participarem do programa da Abicalçados. “É questão cultural, não só nossos colaboradores, mas toda a cadeia produtiva. Se chegamos na certificação hoje, entendemos que se a cadeia não acompanha, se eles não entenderem que também é uma responsabilidade, não conseguimos nos manter no nível que a gente está”, afirmou.
Além disso, Morgana ressaltou a importância de trabalhar mais os stakeholders, porque é um compromisso de todos. “Calçado é processo de muitas mãos, se trabalha com matéria prima diversa: tecido, sola, palmilha; tem as coleções porque é preciso atender ao mercado, esse é o viés econômico; a concorrência, porque também não adianta ser sustentável se não entregar algo que se vende, porque é um negócio.”
Foco na mulher em 2023
No rol das premissas sustentáveis da empresa o “inovar” veio com o objetivo de se olhar para o produto, “otimizar os recursos naturais e a Piccadilly tem um cuidado muito forte sobre de onde vem a matéria prima”, comentou Morgana. Mas não é só isso, o “S” está muito presente na política de sustentabilidade. Esse ano o foco está na mulher. A empresa tem 35% de presença feminina em cargos de liderança e a ideia é chegar em 40% ano que vem.
“O propósito da empresa não é produzir calçados. Seu Almiro (Grings) começou a empresa para gerar emprego, Igrejinha era uma vila. Hoje é para encorajar a mulher. O reposicionamento do propósito é esse: ter um calçado para qualquer momento, encorajar a mulher na sua caminhada”, ressalta a coordenadora.
As ações vão desde um Grupo de Empoderamento Feminino que promove agendas em escolas ao apoio do podcast semanal Ela sonha, ela faz (ouça aqui), com “pílulas” de encorajamento para as mulheres em cada episódio.
Barbie Day – “Toda mulher pode ser Barbie”, disse Morgana ao falar sobre a parceria com a Mattel para a coleção Barbie Piccadilly, aproveitando o lançamento do filme. Todas as unidades da empresa estão com suas vitrines customizadas com o rosa característico da boneca mais querida do mundo, um espaço instagramável com espelho da Barbie para que as consumidoras possam fazer fotos incríveis. A rede de franquias também promoverá o Barbie Day ao longo do mês de julho, em que as quintas-feiras e aos finais de semana as colaboradoras das lojas estarão de rosa em homenagem à boneca. O filme já está nos cinemas, é estrelado por Margot Robbie e Ryan Gosling.
A gerente executiva de Sustentabilidade do Banrisul, Viviane Lucas da Costa, também participou da conferência da ABCarbon e estava no debate sobre ESG. Antes, conversou com o Acionista sobre as políticas de sustentabilidade do banco. “A preocupação ambiental e social acompanha o banco há muitos anos, nos termos da responsabilidade. O programa Reciclar de 2001 foi inovador no Rio Grande do Sul”, contou.
De acordo com Viviane, no ambiental o destaque é o direcionamento dos resíduos sólidos do banco; no âmbito social, é impulsionar muitas iniciativas com apoio a projetos culturais em todo o estado. “A virada chave ESG no quesito da governança ocorreu quando foi criada uma área coordenada pelo CEO Claudio Coutinho, com foco mais nas ações transversais dentro da empresa, ações que já existiam e que fossem demonstradas e também as que precisassem ser feitas, na questão climática e também dentro do negócio do banco que é a concessão de crédito”, explicou a gerente.
Redução de emissões
Ela destaca que uma preocupação bem importante da instituição é com a redução das emissões de carbono. “Migramos para o mercado livre de energia, como precisamos fazer compras por licitação, venceu uma empresa usina eólica do nordeste e estamos com mais de 40 agências migradas das 100 que pretendemos, também nossos prédios administrativos”, relatou.
Além disso, o Banrisul também está em licitação para locação de usina de geração distribuída para contemplar as outras 400 agências do banco no estado.
E a compensação, já que o banco tem poucas agências fora do estado, se dá pelo certificado de rastreio de energia renovável, explicou Viviane.
Segundo a gerente, o projeto carro-chefe do ESG do banco é esse de energia renovável. “A previsão é investir R$ 50 milhões ao longo de 10 anos no processo desses contratos que vai do econômico ao sustentável”, disse.
Outro destaque é o Comitê de Responsabilidade Social, Ambiental e Climática que assessora o Conselho e conta com profissionais externos, especializados em ESG. A Viviane também contou que estão com projeto de uma chancela para a Carteira de Crédito. “Nós sabemos que temos produtos sustentáveis, mas precisamos dessa chancela para o cliente saber. É valor arraigado, assim como o ISE nas ações”.
Como está o banco gaúcho
- Em 2022, o Banrisul elaborou o segundo Inventário de Gases de Efeito Estufa, conquistando o Selo Ouro pelo Programa Brasileiro GHG Protocol, a mais alta certificação – concedido a partir da realização de um inventário completo e auditado por terceira parte.
- No mesmo período, o Banco desenvolveu o Plano de Mitigação e Compensação de Emissões de Gases de Efeito Estufa, definindo projetos para reduzir suas emissões, como o Projeto Energia Renovável – está em andamento a migração do consumo de energia para fonte renovável em suas instalações – e foi carbono neutro pela primeira vez em relação às emissões diretas e ao consumo de energia.
- O banco também passou a informar o impacto de suas atividades e operações com a adesão ao CDP – Carbon Disclosure Projetc – iniciativa de reporte internacional sobre mudanças climáticas.