FOTO/Divulgação
(*)Angélica Queiroz
O Brasil é o maior exportador global de carne bovina, com um rebanho de mais de 224 milhões de cabeças de gado, ou seja, a importância da pecuária para a nossa economia é inegável. No entanto, a atividade tem sofrido pressões por todos os lados para se desassociar do desmatamento ilegal, que o Brasil, inclusive, tem a meta de zerar. Esse é um desafio, pois exige investimento por parte do produtor rural em boas práticas agropecuárias, já disponíveis e com benefícios de produtividade e ambientais mais que comprovados. No entanto, o pecuarista ainda tende a ser avesso ao risco. Convencê-lo de que ser sustentável é um bom negócio é urgente e uma oportunidade para o país.
Finalmente, o consumidor brasileiro está cada vez mais consciente de seu papel frente ao avanço das mudanças climáticas, e o mercado financeiro também já começou a fazer exigências — a Federação Brasileira de Bancos (Febraban) acaba de divulgar novas regras segundo as quais, para conceder crédito, bancos brasileiros vão exigir que frigoríficos provem que não estão comprando gado proveniente de área de desmatamanto ilegal.
Com pressões como essa, as mudanças já estão começando. Uma análise dos últimos cinco anos mostra um aumento relevante de produtividade, possivelmente por conta de um melhor manejo, que permite abater um boi em menor tempo e com maior peso, o que também significa mais gado em menos espaço, diminuindo a necessidade de abertura de novas áreas para pastagens e reduzindo o desmatamento. É o que mostra o relatório “Sustentabilidade na cadeia da carne: caminhos para o Brasil e os aprendizados do P4F”, que acaba de ser lançado pela Agroicone e pelo Partnerships for Forests (P4F).
Apesar dos avanços, os desafios ainda são imensos, uma vez que o produtor comum toma decisões com base em critérios estritamente econômicos. E ele precisa ser convencido de que essas novidades valem a pena. “O fomento às boas práticas agropecuárias para a pecuária bovina de corte no Brasil depende da construção de incentivos que alterem a trajetória produtiva dos pecuaristas”, ressalta o trabalho. “Esse convencimento pode se dar por meio de incentivos. É o que iniciativas como os Escritórios Verdes ou o Programa de Reinserção e Monitoramento (PREM) se disponibilizam a fazer, oferecem incentivos como assistência técnica, subsídios nos custos da regularização bem como a redução dos custos de transação desse processo”, exemplifica.
É fato que já estão em andamento alguns programas de financiamento de investimento para fins de sustentabilidade e o ambiente de negócios sustentáveis está em ascensão, mas o relatório deixa claro que ainda existe uma barreira de acesso do produtor rural a esses instrumentos. Além disso, alternativas como o Pagamento por Serviços Ambientais (PSA) costumam ter alto custo de transação e o mercado de carbono, principal via de PSA disponível, ainda é incapaz de pagar pelo custo de oportunidade das decisões econômicas do produtor comum, sendo considerado etéreo e muito distante da realidade.
A boa notícia é que os caminhos para lidar com esses desafios já são conhecidos e o novo relatório apresenta os principais. Entre elas: escalar modelos de negócios sustentáveis; usar os instrumentos de política agrícola como base para alavancar a produção sustentável; desenvolver metodologias de quantificação das emissões e impactos de boas práticas agropecuárias; dar escala a iniciativas e ações de sustentabilidade produtiva; garantir acesso ao crédito subvencionado e redução de risco de operações de financiamento; e implementar ações e soluções para rastreabilidade e monitoramento.
Colocar em prática essas estratégias é o caminho para que a pecuária de corte brasileira continue evoluindo em produtividade e eficiência, contribuindo para a geração de renda, e para o desenvolvimento de negócios. Assim, a atividade tem tudo para ajudar o Brasil a atingir suas metas socioambientais e a avançar na transição para uma economia moderna de baixo carbono.
(*)Angélica Queiroz é jornalista, gerente de conteúdo em O Mundo Que Queremos.
OBS – Na foto, representantes de diversos elos da cadeia da carne. Da esq. p/ dir.: João Paulo Franco da Silveira (CNA), Fernando Sampaio (ABIEC), Marcio Sztutman (P4F), Caio Penido (IMAC), Beatriz Secaf (Febraban) e Lisandro Inakake (Imaflora).
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