(*) Gustavo Nascimento
O Brasil tem diante de si uma oportunidade única de se destacar no cenário internacional como um país comprometido com a sustentabilidade. A decisão do Tesouro Nacional de emitir títulos verdes soberanos (green bonds) colocará o país na vanguarda das iniciativas de financiamento sustentável e abrirá as portas para investimentos em projetos socioambientais.
Segundo Sergio Margulis, economista-chefe da Convergência pelo Brasil, movimento apartidário que reúne ex-ministros da Fazenda e ex-presidentes do Banco Central em prol da construção de uma economia verde no Brasil, títulos verdes soberanos são instrumentos financeiros que visam captar recursos para projetos de impacto socioambiental positivo. Com essa emissão, o Brasil poderá atrair investidores interessados em financiar ações voltadas para a preservação do meio ambiente, como a expansão das energias renováveis, a proteção da biodiversidade e o fomento à agricultura sustentável.
Além de promover a transição para uma economia mais verde, os títulos verdes soberanos têm o potencial de impulsionar o desenvolvimento socioeconômico do país. A captação de recursos por meio desses títulos possibilita investimentos em setores estratégicos, como infraestrutura sustentável e inovação tecnológica, gerando empregos verdes e fortalecendo a economia de forma sustentável.
De acordo com os dados do Environmental Finance Data, a emissão global de títulos verdes atingiu aproximadamente US$1 trilhão até 2020 e outros US$1,6 trilhão nos dois anos seguintes. No Brasil, o acumulado de títulos verdes emitidos desde 2015 até 2019 totalizou US$7 bilhões, mas experimentou um crescimento extraordinário no biênio 2020-2021, triplicando esse valor. Dos investimentos em green bonds no país, 45% foram destinados a projetos de energias renováveis e 27% direcionados ao uso da terra, abrangendo áreas como conservação florestal, bioenergia, agricultura, pecuária e indústria de alimentos, entre outros setores.
Em 2022, os três principais mercados emissores de green bonds foram a China, com US$76 bilhões, a Alemanha, com US$61 bilhões, e os Estados Unidos, com US$51 bilhões. No entanto, é importante ressaltar que o Brasil se destaca na América Latina como o maior emissor de títulos sustentáveis, com um total de US$41,5 bilhões, superando os demais países da região. Esses números promissores evidenciam o compromisso do Brasil com a sustentabilidade e a crescente conscientização das empresas e investidores em relação à importância de financiar projetos ambientais e sociais.
O Tesouro Nacional anunciou recentemente sua intenção de emitir títulos soberanos ESG (Environmental, Social, and Governance – governança ambiental, social e corporativa) no mercado brasileiro. Essa decisão marca um importante passo para o país na promoção da sustentabilidade e no estímulo ao mercado de títulos verdes e Sustainability-linked Bonds (SLBs).
Para Margulis, a decisão do Tesouro Nacional de emitir títulos verdes soberanos é um passo ousado e promissor. Essa iniciativa também reforça o compromisso do Brasil com a agenda global da sustentabilidade. Em um momento em que a comunidade internacional busca soluções para os desafios ambientais e sociais, o país tem a oportunidade de se posicionar como um líder nessa jornada, mostrando ao mundo sua capacidade de aliar crescimento econômico com responsabilidade ambiental.
Além disso, a emissão de títulos verdes soberanos fortalece a imagem do Brasil no mercado financeiro internacional, atraindo investidores que valorizam práticas sustentáveis. Esses investidores estão cada vez mais preocupados com os impactos ambientais e sociais das empresas e governos em que investem, e os títulos verdes soberanos são uma maneira de demonstrar comprometimento com a sustentabilidade.
É importante ressaltar que a transparência e a prestação de contas são fundamentais para o sucesso dos títulos verdes soberanos. Os recursos captados devem ser direcionados para projetos com objetivos socioambientais claros e mensuráveis, e sua aplicação deve ser documentada e divulgada de forma transparente. Isso garante a credibilidade dos títulos e evita práticas de “greenwashing”.
Se o Brasil aproveitar plenamente essa oportunidade e agir de forma responsável, poderá se tornar um exemplo inspirador para outros países, demonstrando que é possível conciliar crescimento econômico com preservação ambiental e justiça social. A hora é agora. É o momento de o Brasil sair à frente e liderar a transformação rumo a um futuro mais verde e sustentável. Os títulos verdes soberanos são a chave para abrir essa porta e garantir um futuro promissor para todos.
(*) Gustavo Nascimento se declara “preto, faixa preta, jornalista e coordenador de projetos em O Mundo que Queremos”.
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