É comum afirmar-se que para uma pessoa se curar ela precisa, antes, admitir que está doente e, em segundo lugar, querer se restabelecer. Em um passado recente, o Brasil sofreu uma forte onda de negacionismo, inclusive relacionada às mudanças climáticas. Os 682 milímetros de chuva, em 9 horas, no Litoral Norte de São Paulo, durante o Carnaval, ocasionando a maior precipitação da história, e a estiagem no Rio Grande do Sul, que desde outubro último recebe menos da metade das chuvas previstas, registrando a menor precipitação em 35 anos (auferida pela Organização Mundial de Meteorologia), condenando a safra de vários produtos agrícolas, não podem ser justificados como “castigo de Deus”.

Diante das evidências e gravidade da situação, menosprezar estes eventos climáticos chega a ser irresponsável. O fenômeno La Niña é conhecido de todos quantos se preocupam com o equilíbrio, pra começo de conversa. Na última semana, o meteorologista Carlos Nobre, reconhecida autoridade no assunto (pesquisador do Instituo Nacional de Pesquisas Espaciais- INPE), não descartou o aquecimento global como indutor das tragédias ora assinaladas. A advogada Isabela Morbach e a engenheira Nathália Weber (fundadoras da CCS Brasil), ouvidas pela Coluna, afirmam que a análise de riscos poderia facilmente indicar áreas de risco de enchentes e deslizamentos de terra, permitindo que as autoridades tomassem medidas para evitar a ocupação de áreas vulneráveis.

Sintetizando, a conhecida – e respeitada – ambientalista, e ministra do Meio Ambiente pela segunda vez, Marina Silva, afirmou publicamente que “devemos reconhecer os efeitos das mudanças climáticas”. Não custa lembrar que desde dezembro de 2020 – há 26 meses, portanto – o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, o Centro Gestor e Operacional do Sistema de Proteção da Amazônia discutem (discutem, discutem…) a criação de uma Rede Nacional de Meteorologia…

Com o quadro desenhado e caminhos apontados, é hora de se colocar as mãos-à-obra.

GESTÃO PÚBLICA

– A análise de risco será cada vez mais essencial para empresas e, em particular, à gestão pública? – perguntamos para Isabela Morbach e Nathália Weber, da CCS – organização sem fins econômicos criada para promover a cooperação entre academia, governo, financiadores, indústria e sociedade para o desenvolvimento das atividades de Captura e Armazenamento de Carbono no Brasil para fortalecer um futuro sustentável.

– Sim – foi a resposta. A análise de riscos relacionados aos eventos climáticos se torna cada mais importante se pensarmos na prestação de serviços públicos, seja de forma direta pelo Estado, quanto por meio de concessões e PPPs. Isso porque a análise de riscos permite identificar e avaliar os riscos associados a esses eventos climáticos, estimar suas consequências e tomar medidas preventivas e de mitigação para minimizar os impactos. Na tragédia que assistimos no Carnaval, a análise de riscos poderia indicar áreas de risco de enchentes e deslizamentos de terra, permitindo que as autoridades tomassem medidas para evitar a ocupação de áreas vulneráveis.

INVESTIMENTOS

Para a CCS (continuando a entrevista…), a tragédia de S. Sebastião, que já contabilizou 64 mortos, dos quais 18 são crianças, indica que não basta tentar mitigar. Precisamos de instrumentos que reconheçam que tais eventos serão frequentes; portanto, serão necessários investimentos e pesquisas para desenvolvimento de infraestrutura resiliente, monitoramento e alerta antecipado, planejamento urbano adequado, definição de planos de ação e protocolos, entre outras.  

Nesse sentido, a análise de risco permite a alocação dos recursos públicos a partir da identificação de prioridades, diretamente ligada aos riscos a que determinada população está sujeita.

GOVERNANÇA

O governo de São Paulo anunciou três linhas de crédito para auxiliar na recuperação da atividade econômica no Litoral Norte. Serão disponibilizados mais de R$ 500 milhões, ao todo, por meio do Banco do Povo e da Desenvolve SP. Objetivo é mitigar os impactos das fortes chuvas e consequentes deslizamentos de terra que atingiram a região

PRESSÃO

“Terra sob Pressão: A vida e a saúde humana na era do aquecimento global” é o nome do livro que será lançado no próximo dia 2, pela editora Moderna, na Livraria da Vila, em Pinheiros, São Paulo.

O autor, Sergio Túlio Caldas, jornalista e roteirista, aborda aspectos das mudanças climáticas, com dados atualizados da pandemia da Covid-19, queimadas, desmatamentos, poluição das águas e aumento da temperatura global. Na obra, de 184 páginas, ele alerta o leitor para a urgência de medidas de proteção ao meio ambiente e povos originários, ao mesmo tempo em que traz esperança, ao apontar caminhos possíveis para mudanças reais.

PORTO

O Estado do Paraná promoveu leilão para arrendamento do terminal PAR50 (de 85 mil metros quadrados), no Porto de Paranaguá, na última sexta-feira (24). Evento ocorreu na B3 e a FTS Participações arrematou, com oferta de R4 1 milhão.

FERROVIAS

Mais de R$ 170 bilhões devem ser investidos pelo setor privado na construção de linhas férreas espalhadas pelo território nacional, após a Diretoria Colegiada da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) aprovar a celebração de Contrato de Adesão, por meio de autorização, para a construção e exploração de estrada de ferro localizada entre São Paulo/SP e Rio de Janeiro/RJ, pelo prazo de 99 anos. Trata-se de um requerimento particular da empresa TAV Brasil Empresa Brasileira de Trens de Alta Velocidade SPE LTDA.

Esta decisão foi publicada no Diário Oficial da União (DOU), do dia 22 (Quarta de Cinzas), sendo a 39ª autorização ferroviária outorgada desde a criação deste modelo de operação, cujo objetivo é viabilizar investimentos do setor privado na construção de ferrovias, sem a necessidade de leilão e pagamentos de outorga (contrapartida financeira do governo).

DÍVIDA

A Bolsa de Valores do Brasil, B3, informa que em dezembro último, os títulos de renda fixa corporativos, ali registrados, somaram R$ 1,3 trilhão em estoque. Trata-se de valor 27% maior do que o registrado no mesmo período de 2021.

Entre os CRA, CRI, Notas Comerciais, FIDC, FIP e Debêntures, que se tornaram atraentes em razão dos juros mais altos no mercado, destaque para as Debêntures que geraram maior volume, com estoque de R$ 844 bilhões, representando aumento de 23% sobre dezembro de 2021.

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