A proposta de criação de uma moeda comum para as transações comerciais entre Brasil e Argentina foi recebida com mais dúvidas do que empolgação entre os operadores de mercado.

Proposta de integração financeira

A criação de uma moeda comum sul-americana, que o governo brasileiro propõe batizar de “sur” (sul), tem como objetivo, segundo o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, “facilitar transações comerciais sem a necessidade de recorrer ao dólar”. 

Em carta conjunta entre Lula e o presidente argentino, Alberto Fernández, também foi dito que a moeda em estudo poderia ser usada tanto para os fluxos financeiros como comerciais, reduzindo os custos operacionais e nossa vulnerabilidade externa.

Moeda única x moeda comum

Antes de mais nada, é preciso entender que o projeto não se trata de uma moeda única para substituir o real.

Por exemplo, o euro é uma moeda única que substituiu moedas nacionais em 20 dos 27 países da União Europeia.

Na verdade, a proposta entre Brasil e Argentina mais parece uma moeda virtual – que não substituiria as moedas nacionais.

Portanto, o real e o peso continuarão existindo. 

Como funcionaria

De acordo com o MoneyTimes, a ideia é que a moeda seja inspirada na Unidade Real de Valor (URV), usada durante a transição entre o Cruzeiro Real e o Real.

Além disso, a nova moeda seria emitida e regulamentada por uma espécie de banco central sul-americano – nos moldes do Banco Central Europeu (BCE) para a Zona do Euro.

O que pensamos

Para Christopher Galvão, analista de renda fixa da Nord Research, a implementação de uma moeda comum parece “precipitada”, especialmente considerando a situação em que a Argentina se encontra – o que pode trazer dificuldades para o bom funcionamento da moeda.

“Para justificar a criação de uma moeda comum entre dois ou mais países, é importante que já haja integrações comerciais e econômicas em estágio avançado entre essas economias, com políticas macroeconômicas em sinergia”, comentou. “Na Europa foi adotada uma moeda única, o que é diferente do que está sendo proposto por aqui, mas continua servindo como exemplo: mesmo o continente europeu tendo iniciado o trabalho de integração há décadas, vimos o euro enfrentando problemas na crise de 2011”.

O analista destaca a inflação como desafio imediato à ideia. Atualmente, o Brasil possui inflação anual na casa de dois dígitos (5,8%), enquanto na Argentina os preços praticamente dobraram em 2022 (quase 100% de inflação).

Para ele, se o objetivo é fortalecer o comércio entre os países, há outros jeitos de fazer isso, por exemplo, estimular a competitividade, aumentar a produtividade e adotar um sistema tributário mais simples.
Por outro lado, o analista reforça que “com as informações disponíveis até agora, ainda é cedo para pontuar todos os pontos negativos e positivos dessa criação, mas o fato de as políticas macroeconômicas serem divergentes entre essas economias é um ponto de atenção importante”.

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