A busca por representatividade e ocupação de espaços pelas mulheres ainda convive com várias barreiras a serem eliminadas. Por outro lado, a combinação entre o esforço de diversas trajetórias individuais e ações coletivas têm colaborado para fazer avançar direitos e debates de interesse comum a todas as mulheres. Tenho a percepção que mulheres, suas ideias, posicionamentos, comportamentos inovadores e disruptivos levam mais tempo ou acabam não tendo o reconhecimento devido por suas incríveis contribuições aos negócios e à sociedade.

Neste sentido, faço um convite a você! Ao longo de 2023, busque valorizar e se inspirar em mulheres do passado e do presente, as quais suas ideias, projetos e, indo além, as ações concretas, ajudaram e ajudam a derrubar barreiras e estereótipos, abrindo espaço para novos comportamentos inclusivos e de valorização feminina.

Com um relato pessoal, há alguns meses, descobri uma Nara Leão que desconhecia. Enquanto assistia à série “O Canto Livre de Nara Leão”, de direção de Renato Terra, a cada novo episódio, passagem e depoimentos, eu refletia: “que parte desta nossa história eu tinha perdido!”. Por que eu nunca tinha encontrado a mulher Nara além de sua voz e seu repertório? Por que sabia tão pouco dela? Por que ela pouco aparecia para mim nas minhas buscas e nas minhas timelines?

Imagem: www.naraleao.com.br

Inicialmente achei que, mesmo sendo tão apaixonada por música brasileira, poderia ser um lapso de conhecimento a história desta inspiradora mulher ainda não ter me chamado a atenção. Então, ao buscar novas referências, encontrei conteúdos e opiniões similares à minha. De fato, assim como eu, muitas pessoas pareciam estar descobrindo (ou redescobrindo) uma nova Nara, depois de muitos anos que ela nos havia deixado. O próprio diretor da série afirmou que uma de suas motivações ao realizar o documentário seria dar à história da Nara uma maior exposição e reconhecimento.

Nara foi uma mulher que construiu seu repertório, suas escolhas pessoais e sua vida da forma que quis, sem se preocupar se isso se adequava à expectativa que as pessoas tinham sobre ela. E a minha reflexão parte exatamente deste ponto. Por que mulheres com suas incríveis opiniões, contribuições e feitos não são reconhecidas ao seu tempo?

Rompendo padrões

Muito provavelmente, ao romper com expectativas e padrões “esperados”, as conquistas e resultados femininos são minimizados simplesmente porque se parte da crença de que não poderiam ser obtidos a partir da realização de suas autoras. Enfim, as pessoas parecem dar valor àquilo que estão predispostas a ouvir, entender, conhecer e apreciar.

Me permito até fazer um paralelo com diferentes situações cotidianas de mansplaining ou bropriating, quando mulheres são interrompidas por homens, que fazem questão de explicar, de maneira didática, algum conceito ou repetir o que foi dito anteriormente por elas, se apropriando do conteúdo. Esta é uma maneira de reconstruir e ou reformatar algo que, dentro deste viés comportamental, não deveria ser entendido, dito ou realizado por uma mulher.

De acordo ou fora das expectativas pré-concebidas ou estabelecidas, precisamos, infelizmente, ainda mostrar que somos capazes inclusive de transformar todos estes padrões e evitar que situações como as mencionadas nos inibam ou nos desmotivem.

Seguindo o exemplo de Nara, que usou a sua voz para divulgar talentosos autores, compositores e artistas, promovendo outros intérpretes, ainda, naquela época, menos conhecidos, devemos buscar por outras histórias de mulheres incríveis, como Carolina Maria de Jesus, Gioconda Rizzo, Leolinda Daltro, Ruth de Souza, Joaquina Lapinha, Bárbara Pereira de Alencar, Zuzu Angel, Nise da Silveira, Lotta de Macedo, Narcisa Amália de Campos entre tantas outras vozes, ideias e pensamentos que aguardam pela nossa revalorização e reconhecimento.

Precisamos refletir constantemente sobre como resgatamos estas histórias e também no presente alavancarmos outras mulheres a ganhar visibilidade pelos atos, mantendo à disposição para seguirem construindo um presente e um futuro com menos padrões pré-estabelecidos e mais espaços para valorização da voz e do poder de transformação das mulheres na sociedade.

Texto: Melissa Vogel

Publicidade

Onde investir neste fim de ano?

Veja as recomendações de diversos analistas em um só lugar.