Confirmando o provérbio “nada é tão ruim que não possa piorar”, a Americanas (AMER3) declarou à Justiça ter dívidas em montante aproximado de R$ 40 bilhões.

A empresa havia admitido inicialmente R$ 20 bilhões em “inconsistências contábeis em exercícios anteriores, incluindo o de 2022, que levou à renúncia do então presidente Sergio Rial na quarta-feira, 11.

A pedido da Americanas, a Justiça do Rio de Janeiro concedeu na sexta-feira, 13, uma medida de tutela de urgência cautelar, que suspende qualquer possibilidade de um bloqueio ou penhora de bens da varejista.

Também adia a obrigação de pagar dívidas – pelo menos por enquanto. Assim, a empresa terá um prazo de 30 dias para avaliar se é o caso de entrar com pedido de recuperação judicial.

Semana tensa e turbulenta

De fato, a Americanas está mais endividada do que esperávamos e um rombo ainda maior adiciona mais incerteza a um cenário já caótico.

“As ações devem continuar enfrentando volatilidade nos próximos dias. Os investidores que carregam ações ou títulos de dívida da Americanas em suas carteiras devem ter impacto considerável no curto prazo”, afirma Victor Bueno, analista de ações da Nord Research.

Da mesma forma, aqueles que investiram em AMER3 na sexta-feira, 13, imaginando que naquele momento as ações estavam “bastante descontadas”, amanheceram em nova turbulência nesta segunda-feira, 16.

Cautela é a melhor aliada

O analista e sócio-fundador da Nord Research, Bruce Barbosa, destaca que ainda é difícil fazer as contas dos impactos, pois só se sabe o topo do iceberg do problema que a Americanas vai enfrentar.

Segundo Barbosa, é esperado que a empresa tenha um aumento de dívida e passe a operar com margens ainda mais apertadas. “Vai ser um período bem difícil para a Americanas, então, como dito anteriormente, é melhor cautela”.

Dívida da empresa com bancos

O estrago contábil foi suficiente para furar a bolha do mercado financeiro e colocar a recomendação para as ações em revisão em diversos bancos e corretoras.

Ainda não se tem todas as informações sobre o que de fato aconteceu com a empresa, mas estima-se que a Americanas deve precisar de até R$ 21 bilhões em capital para atender seus credores, segundo cálculos feitos pela XP Investimentos.

Os analistas do banco levaram em conta diferentes cenários de endividamento e margem operacional da varejista, ou margem Ebitda, e chegaram a uma necessidade de captar, por meio de oferta de ações, valores entre R$ 12 bilhões e R$ 21 bilhões.

Segundo publicado pelo Valor, o endividamento da Americanas com as instituições financeiras é de R$ 18,5 bilhões. Os bancos estão dispostos a rolar as dívidas da companhia desde que os acionistas de referência Carlos Alberto Sicupira, Marcel Telles e Jorge Paulo Lemann injetem pelo menos R$ 10 bilhões na companhia.

Entre os principais credores da Americanas estão Bradesco (BBDC4), Santander (BCSA34) e Itaú (ITUB4), com R$ 4,7 bilhões, R$ 3,7 bilhões e R$ 3,4 bilhões a receber, somando todos os tipos de financiamento, respectivamente. Ao se levar em conta apenas o risco sacado, o Bradesco lidera com uma dívida de R$ 3,9 bilhões, com o Itaú (R$ 2,7 bilhões) e Safra (R$ 2,1 bilhões) na sequência.

Lista dos principais credores da Americanas. Fonte: Reprodução/ Valor Econômico

Duelo de titãs

Apesar da Americanas ter ganhado tempo junto à Justiça, os bancos credores não parecem dispostos a esperar. No começo desta semana, essas instituições foram à Justiça para recorrer da decisão que suspende a cobrança de dívidas da companhia pelos próximos 30 dias.

O primeiro recurso já foi impetrado pelo BTG Pactual (BPAC11), de André Esteves e Roberto Sallouti, que tem créditos de R$ 1,9 bilhão com a varejista.

A informação foi noticiada pelo Pipeline no domingo, 15. 

Denúncia à CVM

Além dos bancos, os acionistas minoritários também se mobilizaram para cobrar o prejuízo com a varejista.

A Abradin, associação que reúne minoritários de empresas de capital aberto, apresentou, na última semana, denúncia à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) para pedir apuração de responsabilidades sobre a revelação pela Americanas de problemas contábeis no balanço da companhia.

A denúncia também pede que as apurações englobem a empresa PwC, auditora independente da Americanas desde outubro de 2019.

Tem solução?

Sim. Antes do encerramento das atividades, existem algumas soluções para o rombo na Americanas, como a venda de ativos, a renegociação de dívidas e o aumento de capital.

Nosso analista diz que a melhor e mais rápida solução no momento seria um aumento de capital via oferta subsequente (follow-on). “Porém, ainda é preciso saber se a trinca de controladores Lemann-Telles-Sicupira (donos da 3G Capital) estaria disposta a desembolsar valores bilionários para salvar a companhia”, avalia Bueno.

No entanto, mesmo com uma possível injeção de capital, isso ainda não seria uma garantia concreta de que a Americanas conseguiria contornar o rombo – ainda mais considerando que o controlador ficou malvisto pelo mercado e pelos credores, o que dificultaria, inclusive, uma melhor renegociação ou até mesmo rolagem de suas dívidas. 

Bueno aponta que uma das últimas soluções, e que pode ocorrer em meio à iminente recuperação judicial da companhia, seria a venda de seus ativos. “Como já vimos recentemente com a Oi (OIBR3) e outras empresas em RJ, a venda de parte de seus ativos se torna praticamente inevitável para trazer um alívio financeiro e evitar a falência”, acrescenta.

Cenário difícil em 2023

Apesar das possíveis soluções, não será da noite para o dia que a Americanas vai recuperar a credibilidade de antes da maior fraude do mercado acionário brasileiro, especialmente por conta do cenário ainda desafiador para o varejo em 2023.

“É importante ressaltar que, além de não entender completamente a extensão dos danos para a Americanas e outras empresas expostas à varejista, ainda estamos em um cenário macro desfavorável para grande parte das empresas na bolsa de valores, com uma pressão inflacionária que custa a cessar e altas do juros que impactam diretamente o ímpeto ao consumo por parte da população brasileira”, diz Bueno.

Com tudo isso, torna-se cada vez mais difícil para as companhias repassarem os preços nas vendas de produtos ou serviços e, consequentemente, manter as margens neste cenário turbulento, especialmente para companhias ligadas ao consumo.

A crise da Americanas ficará sob os holofotes do mercado pelos próximos dias e semanas. Aproveitamos para reiterar o nosso compromisso com a informaçãoe orientação aos investidores diante dos desdobramentos do caso.

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