Há algum tempo me deparei com um vídeo curto no Instagram que mostrava uma menina na educação física errando um chute a gol e saindo dando cambalhotas impressionantes para trás. E o comentário a respeito do fato era “talvez você só esteja no lugar errado” e aquilo me fez pensar em diferentes tipos de habilidades.
Ainda no período escolar conseguíamos facilmente identificar os estereótipos na sala de aula: o bom de oratória, o palhaço da sala, o top em matemática, aquele que sabia tudo sobre todo mundo, o que não anotava nada e ia bem nas provas, enfim, cada um se destacando por suas características singulares. Pensando nisso, busquei estudos para entender os diferentes tipos de inteligência e compartilho aqui os meus achados.
Mas vamos começar do início, pelo conceito. Conceituar inteligência não é tarefa fácil, dado que a concepção de inteligência mudou ao longo da história e não existe consenso sobre a sua definição, mensuração e determinantes.
Inteligência é dinâmica
Inteligência pode ser entendida como um conjunto de habilidades que podem ser estimuladas no contexto social; o conjunto que forma todas as características intelectuais de uma pessoa; os elementos extraídos da memória, juízo, abstração, imaginação e concepção dos indivíduos, enfim, é possível, a depender do fundamento jurídico, sociológico, filosófico, biológico e outros, estabelecer diferentes conceitos de inteligência. Todas essas definições, no entanto, refletem um ponto em comum: a inteligência é dinâmica.
Segundo a Teoria Evolucionista a inteligência era associada a uma característica unicamente humana, de representação de conhecimentos e resolução de problemas, refletindo um ponto de vista altamente antropocêntrico. Hoje em dia, para muitos pesquisadores, a ideia de inteligência passou a ser associada com a ideia de sobrevivência.
Por muito tempo, acreditou-se que era possível mensurar quão inteligente um indivíduo era através de testes. Os famosos testes de QI atingiram o seu ápice de popularidade nos séculos 19 e 20 e as avaliações continham questões matemáticas e de pensamento lógico. Seu objetivo principal era determinar quão rápida e facilmente um indivíduo conseguia resolver problemas complexos.
Entretanto, a efetividade dos testes de QI começou a ser questionada com o tempo. Pesquisadores começaram a observar que nem sempre pessoas consideradas muito inteligentes tinham bons resultados. Da mesma forma, notaram que pessoas cujos resultados eram medianos tinham sucesso na vida devido a outras características, como persistência e disciplina.
Na psicologia
Na década de 1980, o psicólogo norte-americano Howard Gardner desenvolveu a Teoria das Inteligências Múltiplas. Ele identificou que não era possível medir o grau de inteligência de um indivíduo com base em somente uma área do conhecimento, passando a desenvolver hipóteses acerca das múltiplas aptidões humanas. Teorizou a existência de diversos tipos de inteligência, das quais todas as pessoas têm em graus distintos, sendo que uma delas será sempre predominante.
Para Gardner, o conceito de inteligência está relacionado à capacidade de solucionar problemas que sejam importantes em um determinado ambiente. Explica que habilidades e talentos para resolver questões reais vão desde a aptidão para criar teorias científicas, poesias, cálculos, coreografias e até composições musicais.
A compreensão da inteligência passa a significar a compreensão de inteligências, e não mais quanto a pessoa é inteligente, mas sim como a pessoa é inteligente.
A principal mudança de paradigma estabelecida por Gardner ao abordar essa questão foi a modificação da pergunta: “quão inteligente você é?” para a pergunta: “de que modo você é inteligente?”
Os tipos de inteligência propostos por Gardner são nove: Lógico-Matemática, Linguística, Espacial, Físico-Cinestésica, Interpessoal, Intrapessoal, Musical, Natural e Existencial.
Abrangendo desde a facilidade em resolver problemas matemáticos e lógicos, independentemente do seu grau de complexidade, presente em pessoas com alto grau de memorização (Inteligência Lógico-Matemática) até a compreensão de como os seres humanos interagem e formam comunidades, e como se organizam para mantê-las em operação, sua cultura e outros questionamentos acerca da existência humana.
Assim como a origem da vida, a morte e o universo (Inteligência Existencial), sem se esquecer da capacidade de visualizar o mundo em três dimensões, distinguindo cores, profundidades, linhas, espaços, figuras e formas, normalmente associada à capacidade de observação e memória visual (Inteligência Espacial), e da capacidade de controlar movimentos corporais, como fazem atletas profissionais, bailarinos e artistas circenses (Inteligência Físico-Cinestésica), bem como da inteligência associada aos talentos musicais e à facilidade em aprender a tocar instrumentos, compor músicas, distinguir sons e decorar ritmos e canções com rapidez (Inteligência Musical).
Gardner ainda pontua a grande sensibilidade à natureza e aos animais e a capacidade de desenvolver soluções que beneficiem tanto os animais e plantas quanto as pessoas que deles dependem como uma Inteligência, a Natural e, ainda, a inteligência mais presente nas pessoas, a Linguística, representada pelo talento com as palavras e excelência na comunicação, seja verbal ou escrita, além da facilidade na interpretação de textos e mensagens.
Sua teoria sugere, por fim, a existência de outras duas Inteligências, tão lembradas e, por que não, exaltadas, pelas redes sociais: a Inteligência Interpessoal, que é a aptidão à liderança, comunicação e gerenciamento de relacionamentos, cujos indivíduos que a tem como predominante apresentam alto grau de empatia, proatividade e independência, além da capacidade na compreensão de desejos, sentimentos e motivações alheias, tornando-os líderes eficientes e carismáticos. E, mesmo quando não há o desejo de liderar, as competências interpessoais desses indivíduos são expressas em sua capacidade de mediar conflitos e nutrir relacionamentos com pessoas de diferentes personalidades.
Já a Inteligência Intrapessoal é representada pelo talento pessoal para compreender e gerir a si mesmo, permitindo identificar suas próprias emoções, medos e motivações com facilidade, tomando decisões alinhadas com seus verdadeiros desejos. É considerado um tipo raro de inteligência, sendo também relacionada à liderança.
São líderes reservados que lideram através do exemplo de ações e condutas.
Importante ressaltar uma observação do próprio Gardner: “não há e jamais haverá uma lista única, irrefutável e universalmente aceita de inteligências humanas, pois a inteligência não existe como verificável fisicamente, é uma construção que se manifesta pelos comportamentos”.
Existem, na internet, alguns testes que ajudam as pessoas a identificar quais são as inteligências múltiplas mais evidentes em sua personalidade para, assim, auxiliar a encontrar um meio de aprendizado mais eficiente para seu caso. Neste ponto o autoconhecimento é essencial para a caminhada de desenvolvimento.
Com essa clareza é possível navegar pela vida acadêmica e profissional com mais facilidade, não significando uma limitação aos assuntos ou áreas de maior afinidade, mas sim uma maior compreensão das dificuldades encontradas em alguns temas.
Não existe uma inteligência melhor do que a outra e todas podem ser aliadas no processo de aprendizado, basta conhecer os pontos em que você tem mais facilidade e utilizá-los a seu favor.
No âmbito da liderança pode ainda auxiliar na escolha de desafios conforme cada perfil, permitindo adotar estratégias mais efetivas na otimização de sua produtividade. Muito inteligente isso, não?