Os papéis de estatais sofreram fortes perdas logo após o resultado das eleições no último domingo, 30.

Na semana que precedeu a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), as ações ordinárias da Petrobras (PETR3; PETR4) recuaram -8,50% e as preferenciais cederam -8,72% até o pregão de quinta-feira, 03.

Petrobras no pós-eleição

A queda expressiva das ações da companhia está relacionada ao fato de o mercado ver um cenário mais turbulento para a petroleira.

“No caso da Petrobras, há uma dúvida com relação à política de preços de combustíveis a ser adotada no novo comando, portanto, um questionamento com relação às expectativas futuras da companhia”, aponta o analista de ações da Nord Research, Guilherme Tiglia.

Mesmo com os avanços operacionais e de governança observados nos últimos tempos, o analista considera que a empresa segue refém do cenário político. 

“Uma rápida manobra do governo (interferência) pode se traduzir em mudanças no resultado a ser entregue, uma vez que a gestão do novo governo tem de certa forma se mostrado mais favorável ao aumento da presença do Estado em companhias estatais”, avalia Tiglia.

Adicionalmente, pautas como a construção de uma nova refinaria, o controle dos preços de combustíveis e o aumento no quadro da Transpetro devem se tornar recorrentes com o novo presidente eleito. “Entendo que isso é justamente o que gera incertezas no mercado”, comenta o analista.

Distribuição de dividendos “monstros”


Ainda não se sabe se o atual plano de distribuição de dividendos da Petrobras permanecerá de pé. 

Recentemente, Lula, que assumirá a chefia do Executivo no próximo ano, sinalizou que quer que a Petrobras reduza o pagamento de proventos para voltar a investir em atividades além do pré-sal.

Levando isso em conta, pode ser que a distribuição anunciada na quinta-feira, 03, seja a última da era dos dividendos “monstro” da Petrobras.

O conselho de administração da estatal aprovou ontem o pagamento de distribuição de dividendos no valor de R$ 3,35 por ação preferencial (PN) e ordinária (ON) em circulação, o que corresponde a um valor total de R$ 43,68 bilhões, excluindo as ações em tesouraria.

Os dividendos serão pagos em duas parcelas iguais no valor de R$ 1,67 por ação. A primeira parcela será em 20 de dezembro de 2022 e a segunda parcela em 19 de janeiro de 2023.

Os detentores de recibos de ações (ADRs) receberão os pagamentos a partir de 28 de dezembro de 2022 e 26 de janeiro de 2023.

Banco do Brasil está no mesmo barco? 

Outra estatal listada na bolsa, o Banco do Brasil (BBAS3), seguiu curso parecido e caiu com a reeleição de Lula. Na semana, as ações ordinárias acumulam baixa de -0,33%.

Além do receio de interferências no comando da empresa, o mercado também embute a volta de linhas de crédito subsidiado.

“O BB pode, muito bem, ser utilizado como veículo de concessão de crédito com juros subsidiados [linhas para renegociação de dívida a juros baixíssimos], como já observamos em comandos anteriores”, lembra o analista.

Ele também mencionou que “a Lei das Estatais é um fator mitigador de risco e ajudaria nessa questão das interferências, mas não dá para dizer que a empresa está blindada”, disse.

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