As eleições presidenciais, encerradas ontem (30) em segundo turno, deram a vitória ao candidato Luis Inácio Lula da Silva. Para o mercado financeiro não foi propriamente uma surpresa, ainda que vários de seus integrantes, na pessoa física (os chamados “faria limers”), torcessem para o outro candidato. Não à toa, a Bolsa de Valores do Brasil experimentou forte volatilidade na véspera do pleito. Na última semana o recuo foi acima de 4% e na sexta, último dia de funcionamento, andou de lado.

Como até aqui o eleito não anunciou sua equipe econômica, especulações estarão a todo vapor no início desta semana – podendo seguir ainda por vários e vários dias. Embora a vitória do oposicionista esteja precificada pelo mercado, é de se esperar mais volatilidade à frente, uma vez que qualquer coisa que se diga será motivo de especulação e, portanto, se mexerá na gangorra.

Provavelmente as ações ligadas aos setores educacional e de varejo subam e as de companhias estatais, de outro lado, sejam sacudidas. O fato de Henrique Meirelles, André Lara Resende, Edmar Bacha, Pedro Malan, Pérsio Arida, Nelson Marconi (time do Ciro Gomes), Elena Landau (time de Simone Tebet) e Armínio Fraga, peso-pesados da economia; mais Pedro Passos e Fábio Barbosa (Natura), Horácio Lafer Piva (Klabin), Carlos Augustin (agronegócio), além de João Nogueira Batista (conhecido conselheiro de empresas e ex-presidente do Instituo Brasileiro de Relações com Investidores-IBRI), de Teresa e Cândido Bracher, Marisa Moreira Salles e Neca Setubal (estes ligados ao Itaú Unibanco) alinharem-se com o presidente eleito não é garantia de nada, mas… que ajuda muito na análise conjuntural, ah isto ajuda.

ANTIGOLPE

O ti-ti-ti do presidente atual, de que não aceitaria os resultados das urnas (caso perdesse, evidentemente, como de fato ocorreu), aplaudido e incentivado por seus asseclas, deixou o mercado com os nervos à flor da pele nas últimas semanas. Não bastassem os cruciais problemas internacionais – como a necessidade de retomada econômica no pós-pandemia e a guerra na Ucrânia – ainda existia o estresse político interno, desestabilizando cenários.

O reconhecimento da vitória de Lula pela União Europeia (materializada em nota divulgada e assinada por Josep Borrell, uma espécie de chefe da diplomacia comunitária) e, imediatamente, de parte dos governos da França, Portugal e Espanha, além de México, Argentina, Estados Unidos e China (que expressou “calorosas congratulações”), seguidos de outros países como Colômbia, Cuba, Bolívia… mata no nascedouro as chances de uma eventual contestação de parte de Bolsonaro prosperar.

CONGRESSO

A posição firme de Rodrigo Pacheco (PSD-MG), presidente do Senado, reiterando sua confiança nas urnas eletrônicas, e já parabenizando o eleito, em reconhecimento ao processo eleitoral brasileiro, fortalece a estabilidade. Ele fora corroborado pelo deputado Arthur Lira (PP-AL), presidente da Câmara que, em discurso, reafirmou “o compromisso com o Brasil, sempre com muito debate, diálogo e transparência”. O parlamentar – que emprestou inestimável apoio ao atual presidente da República – destacou ainda que “é preciso ouvir a voz de todos, mesmo divergentes, e trabalhar para atender as aspirações mais amplas”.

Até o líder do governo no Senado, Carlos Portinho (PL-RJ), reconheceu a vitória do opositor neste domingo, advertindo que o presidente eleito encontrará “um Congresso hostil”.

BARREIRAS

Não se esperam flores no caminho de Lula em seu terceiro mandato. É certo que enfrentará barreiras para governar e, por isso, será preciso muita habilidade política para contorná-las. Ter um Gilberto Kassab (criador do PSD) ao seu lado agora seria muitíssimo bem-vindo. O ex-prefeito paulistano, que se manteve neutro na disputa presencial (embora tenha apoiado Tarcísio para o governo de SP, a exemplo do neo tucano Rodrigo Garcia, a quem devota antigos laços de amizade) será peça importantíssima no tabuleiro do xadrez político. Kassab poderá viabilizar a base de apoio no Congresso que todo chefe do Executivo necessita (para aprovar projetos, reformas e, óbvio, para não cair).

Não é demais lembrar que Lula teve apoio de 16 partidos, mas precisa de mais musculatura no Parlamento. Não é demais lembrar que a sua vitória foi conseguida com margem muito estreita: 50,9% contra 49,1% de Bolsonaro. O presidente eleito, que assumirá em 1º de Janeiro próximo, precisará de muita conversa, e água mineral, para convencer os 14 governadores de Estado agora eleitos e fechados com Bolsonaro. Em paralelo, o novo governo também precisará beber muito café e mais água mineral para cooptar ao menos uma parte dos 58 milhões de brasileiros que o rejeitaram neste último dia 30.

AMAZÔNIA

E a tão esperada fala sobre Amazônia finalmente aconteceu. Com a deputada eleita Marina Silva em seu palanque, Lula abordou o tema, em pronunciamento lido. Depois de soltar a frase de efeito “Seremos capazes de reconstruir este país”, ele citou a expressão “pacificação ambiental” e disse textualmente que o Brasil “precisa da Amazônia viva”.

Com a Amazônia no centro – como sempre destacam os nossos parceiros do Instituto O Mundo Que Queremos –, fica mais fácil se discutir políticas públicas, melhorando a governança ambiental e reafirmando expectativas de recuperação de um Fundo Internacional, além, é claro, de facilitar sobremaneira as relações internacionais.  

ESG

Que o “S” do ESG (em inglês, EnvironmentalSocial and Corporate Governance) deva melhorar é previsível, assim como o ambiental (pelo qual todos torcemos e os investidores cobram). Agora é ficarmos atentos à governança (que contempla a Ética e o Compliance, entre outros pontos fundamentais).

Especulação no mercado existirá, pois isto faz parte “do jogo”. Passo a passo, nomes irão surgindo na composição de novo governo. É aguardado, com muita ansiedade, o anúncio da nova equipe econômica (a exemplo dos condutores das relações exteriores) para se desenhar qual é o caminho daqui por diante. A todos, Boa Sorte!

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