Desde que a floresta permaneça em pé e a região esteja no centro dos debates socioeconômicos.

(*) Dayane Nascimento 

As oportunidades para a recuperação econômica do Brasil estão na Amazônia. Dá para atrair investimentos para o país, conservar o bioma, gerar emprego e renda sem que seja necessário derrubar a floresta. Mas, para isto, devemos deixar de lado o senso comum de que as iniciativas que contribuem para o desenvolvimento sustentável são inviáveis.

É inaceitável continuar considerando, por exemplo, que o desmatamento é sinônimo de desenvolvimento e geração de riqueza. A maior prova disso é que entre 2004 e 2012 o desmatamento caiu mais de 80% na Amazônia, enquanto o PIB e a produtividade agropecuária na região seguiram aumentando. 

Atualmente, além dos benefícios ambientais e melhoria na imagem do país no exterior, acabar com o desmatamento na Amazônia também representa a geração de receitas bilionárias. Ao menos, US$18 bilhões até 2031, por meio dos mercados de carbono. É o que afirma um dos estudos realizados pelo Amazônia 2030, projeto de pesquisadores brasileiros que tem o objetivo de apresentar um plano de desenvolvimento sustentável para a Amazônia. 

O estudo destaca que a Coalizão Leaf (Lowering Emissions by Accelerating Forest Finance), uma iniciativa público-privada global, garante um preço mínimo de 10 dólares por tonelada de CO2, valor que tem potencial para aumentar, pois existe a possibilidade de geração adicional de créditos a partir da restauração florestal.

Outra riqueza que a Amazônia abriga, mas que aproveita de maneira ineficiente são os chamados produtos compatíveis com a floresta, dentre eles estão a castanha-do-brasil, pimenta-do-reino, manga, cacau, dendê e abacaxi. A região possui cerca de 60 produtos considerados vetores para a conservação de florestas nativas, recuperação de áreas degradadas, inclusão econômica dos povos da floresta e para a criação de bons empregos.

Apesar de ser a maior floresta tropical do mundo e um dos lugares mais propícios para a produção destes produtos, a amazônia brasileira só consegue abocanhar 0,2% de um imenso mercado global em expansão, por onde circula cerca de 177 bilhões de dólares ao ano. 

Os empreendedores da Amazônia teriam condições de competir com sucesso no mercado internacional, porém sem os estímulos necessários vem perdendo espaço para países com menos estrutura, como a Bolívia que, mesmo com todos os problemas logísticos (como não ter acesso ao mar), passou a dominar o mercado global de exportação de castanhas-do-brasil. Em 2019, empresas brasileiras responderam por apenas 11% deste mercado, enquanto empresas da Bolívia mantiveram participação de impressionantes 74%.

A Amazônia também é urbana, contudo um dos principais problemas enfrentados pelos moradores é o desemprego. As oportunidades mencionadas acima podem ser desenvolvidas para aquecer o mercado de trabalho e dar mais qualidade de vida para os mais de oito milhões de desocupados da região. 

Ressaltar estes fundamentos estão entre os objetivos da Amazônia no Centro, uma campanha que pretende tornar a região foco de debates sociais, políticos e econômicos para posicionar o Brasil estrategicamente diante do mundo. As nossas oportunidades têm o tamanho e a importância que damos à Amazônia, por isso colocá-la agora no centro é crucial, urgente e determinante para como o país será no futuro.

(*) Dayane Nascimento é jornalista em O Mundo Que Queremos e colabora com a campanha Amazônia no Centro.

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