Todo ano, no mês de agosto, o Banco Central norte-americano (o Federal Reserve) organiza um simpósio para cerca de 290 convidados na pequena cidade de Jackson Hole. Nessa reunião, banqueiros centrais e economistas do mundo todo se juntam para discutir política monetária em fóruns abertos e outros, de portas fechadas, mas eventualmente diversos discursos e estudos sobre temas econômicos são divulgados e têm o potencial de causar um grande impacto nos mercados financeiros.
A presença de toda a diretoria votante do FED, mais as presenças recorrentes de outros formadores de política econômica (como os presidentes do Banco Central Europeu, japonês e inglês, entre outros) sempre fizeram com que a imprensa mundial focasse e informasse qualquer declaração que pudesse revelar alguma pista dos próximos passos do BCs ou novos fatos que pudessem ter impacto nos mercados.
Em 1997, Alan Greenspan, ao comentar sobre os problemas da crise na Ásia fez um breve comentário sobre o México, o que imediatamente derrubou a bolsa mexicana por medo de que o comentário fosse uma referência que a crise iria se espalhar para outros emergentes. Depois, ele teve que se explicar dizendo que o comentário era sobre a crise mexicana de 1994 e não um fato novo.
Na véspera do último evento em Jackson Hole, o impacto da reunião em 2020 foi extremo e se sente até hoje. Basicamente, na época, o FED preocupado com a recessão econômica causada pela pandemia, fez um apelo para que os países não apenas levassem a política monetária para um terreno extremo, que nunca antes tinha sido tentado (juros reais negativos acompanhados da expansão dos balanços dos bancos centrais), mas que isso fosse acompanhado por mais gastos governamentais, causando um relaxamento fiscal global que, sem dúvida, foi a gênese da explosão inflacionária que estamos testemunhando.
Já no ano passado, poupando o leitor, seria breve: não aconteceu nada. Na época, o presidente do BC americano ainda insistia que a inflação era passageira e transitória, postura que meses depois ele iria abandonar e se arrepender.
E agora em 2022, chegamos à véspera da tão esperada sexta-feira, quando o Jerome Powell vai tornar público seu discurso sobre política monetária, a principal atração do evento. As pessoas têm razão para estarem extremamente preocupadas pelo fato de que as últimas duas mudanças de postura do Banco Central causaram a queda da bolsa americana, e depois, o rally de recuperação nos preços. Ambos, vieram depois de declarações do presidente do FED, mudando sua postura. Hoje em dia, estamos num cenário propício para uma surpresa, uma vez que na última ata o FOMC comentou que o peso das mudanças nas condições financeiras (leia-se alta da bolsa) pode ser na hora de dimensionar o movimento de alta nos juros para combater a inflação recorde atual. E desde as mínimas, a bolsa americana chegou a subir quase 20% porque o mercado entendeu que o ciclo de alta de juros seria menor.
Ele tocará nesse ponto, mostrando que os mercados talvez tenham exagerado no otimismo? Ou o FED indicou que está mais preocupado com a probabilidade de recessão, mandando uma mensagem mais estimulativa, o que poderia animar certos mercados? Ou, pela proximidade das eleições americanas deste ano, fará um discurso mais contido e político, dando poucas pistas dos próximos passos e tentando valorizar suas conquistas até o momento?
Não sabemos o que vem por aí. Acima foram apenas hipóteses de muitas outras possíveis. O que sabemos é que esse evento pode ser o mais importante do ano dependendo do que for anunciado bem como pode ter pouco impacto se trouxer novidades. De qualquer forma, acompanharemos de perto e vamos reagir mudando nossas alocações, se for necessário.
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Rodrigo Natali, estrategista-chefe na Inv Publicações.